A nordestinidade da minha flor da idade
Nordestinamente a menina caminhava: pele alva. Nariz largo. Testa larga. Bochechas acentuadas. Cabelos encrespados.
De vez em quando era apontada, pois tinha que ser bacana nas ruas de Copacabana. Disfarçando sua suburburbanidade, andava ela com sua pouca idade. Na flor da pós- puberdade, no início de seus 15 anos, trazia com ela Campo Grande, Realengo, Bangu, e uma solidão que ardia pra chuchu.
Sem parente perto. Sem religião. Seu problema era a perseguição: não pertencia. Aquela era fria, e costumava lembra-la que pouco ela valia.
Caminhava, então, com a cabeça em fantasias...desejava se sentir bem e amada. Caminhou então por uma longa estrada. Por avenidas e vielas, andava ela. Carregava a sua nordestinidade, e um peito cheio de saudades. De toda uma infância enraizada, arrancada em disparada, pelo azar da morte de sua mãe.
Ficou sem norte. Doía-lhe o corte. O desencaixe cultural. Uma existência como um fardo? Cuidava "do vomitar e passar mal". E ele, perto já não estava. E em muitas vezes só queria se livrar pois por nada, por nada logo estava a expulsar. E ela, que não sabia calar, e não sabia o que falar, falava. E muitas vezes, por isso, apanhava, por sustentar opinião.
Assomava-lhe um nó. Resolveu seguir só e esqueceu o caminho de volta. Passado ficou para trás. Infância não lembrava mais. Era o preço e as circunstâncias.
Andou, andou por aí. De calça ou pés descalços. Atravessou diversas vezes a cidade
Andou sozinha, mas cultivou liberdades. E em seu peito, o frescor da sua mocidade.
Sua riqueza era a própria fortaleza da força que a fazia seguir...mesmo estando meio sozinha por aí. Tinha planos, apesar dos desenganos. Tinha sonhos, apesar de atravessar os mares de solidão. Andava com esperanças no coração. Andava, apesar da aflição. Andava buscando ouvir sua intuição. Andava exorcizando as palavras brutas que ouvira até então. Andava, e andou para fora daquele turbilhão e do lugar de desindentificação. Andava, e andou um montão. E chegou até aqui. Com a certeza que sempre terá onde ir
FVL
#flaviavalencalimapoeta