FLORESTA DE LEÕES

Pela janela Joana olhava ansiosa para a rua e esperava pelo retorno de Adailson, seu esposo. Tinham sido assim quase todos os finais de tarde, uma espera angustiante por boas notícias. E mais uma vez, viu Adailson estacionar o carro e vir em direção à casa com uma expressão desanimada que demonstrava não ser preciso palavras para explicar o resultado daquele dia. Joana respirou fundo e foi até a porta ensaiando um sorriso, seus sentimentos diziam que era a forma correta de recebê-lo, com alegria e esperança.

Desde que haviam mudado de cidade, há quatro anos à procura de um melhor tratamento de saúde de sua filha, a vida da família de Adailson havia mudado bastante. Durante muitos anos ele trabalhou como gerente de um grande supermercado. Com as economias guardadas, depois da mudança de cidade, montou uma pequena oficina mecânica. Talvez pelo pouco conhecimento das pessoas e de como se desenvolvia o cotidiano local, seus negócios começaram a dar errado, veio o declínio, a falência e as dívidas, muitas dívidas. Adailson procurou credores, se desfez de suas economias e sanou todas suas dívidas. Desempregado e com o currículo embaixo do braço passou a visitar empresas locais em busca de emprego. Nos últimos dez meses, era essa sua rotina, sair pela manhã e voltar à tarde, sem esperança de um novo emprego. Uma rotina árdua, desgastante. Era como enfrentar a cada dia, um leão diferente. Foram várias noites em claro, preocupado com seu futuro e de sua família. Às vezes, na madrugada dirigia-se ao quarto das crianças, elas dormindo, inocentes e despreocupadas. Ele sabia que tinha que ser forte, por ele, pela esposa e principalmente, pelas crianças. Nunca tiveram uma vida de luxo, mas viveram com dignidade, sem passar por necessidades e agora, Adailson acostumado com uma mesa farta, via cada vez mais, uma mesa menos servida. Era muito grato a esposa Joana, que em nenhum momento deixou de acreditar em sua capacidade de superação, sempre o apoiou em suas decisões e acreditava que em algum momento a oportunidade iria surgir e um novo recomeço era dado como certo. Naquela noite, o casal sentado à mesa, conversaram bastante sobre os planos do dia seguinte, onde seria a nova visita, a nova busca de emprego. Antes de deitarem fizeram juntos suas orações e Adailson sabia, que na manhã seguinte, com certeza, teria mais um leão para enfrentar. Após o café da manhã, Adailson deixo os filhos na escola e retornado para casa, entrou no quarto, pegou a pasta com o currículo e antes de sair, o telefone tocou. Era o Sr. Geraldo, seu antigo patrão, dono do supermercado, Adailson fez gestos com as mãos pedindo para Joana se aproximar e também ouvir a conversa. Ela com as mãos espalmadas sobre o peito, tremula de expectativas, ouviu o convite do empresário para que Adailson voltasse a assumir seu posto de gerente no supermercado. Não pensou duas vezes, aceitou de prontidão. Depois de desligar o telefone, Adailson abraçou a esposa, beijou-a e agradeceu a ela por nunca ter deixado de acreditar em sua força de vontade, vontade de vencer.