TROPILHA FANTASMA
Muitos fatos ocorrem e passam tão de imediato quanto o próprio acontecimento, m uitos deixam sinais na alma das pessoas que os presenciaram e viram verdadeiras lendas, outros apenas acontecem e logo são esquecidos.Este fato ocorreu na Estância do Verde, com caampos a perder de vista, tão grande que os peões saiam as sete horas da manhã e só voltavam da recolhida lá pelas sete da noite, almoçavam no meio do campo, tomavam café e chimarrão em alguns minutos de folga. Havia muito serviço, eram milhares de ovelhas e milhares de cabeças de gado, arame a perder de vista,tudo precisava ser feito até o fim da tarde e assim era efetuado. Ao final da tarde os peões retornavam para a sede da estância onde ~estavam as rústicas instalações para dormirem.Naquele dia o calor foi muito a noite prometia ser muito quente. Resolveram alguns dormir fora, no pátio logo todos estavam espalhados por ali, aos poucos as risadas e conversas foram silenciando. O patrão, Senhor Heitor, que também estivera junto naquela jornada de trabalho,fora embora bem mais cedo para a casa grande e confortável que lhe servia de moradia. Lá, diziam os empregados, não entrava mosquitos. assim todos dormiram,quem passasse por ali ouviria apenas os roncos daqueles exaustos homens. Seus sonhos, difícil dizer,com certeza uma prenda de braços suaves, alguns piás brincando no açude, para outros o sonho poderia ser um bom cavalo de sua propriedade, algumas cabeças de gado. De repente João Pimenta ergueu-se sobre os pelegos e levou a mão a adaga,ouvira um tropel de cavalos.Ou seria a canha que havia beberia? Não. Eram cavalos, muitos cavalos,em disparada e na direção de onde estavam.João começou a gritar, acordem, acordem gente.Num instante todos acordados perguntavam o que estava acontecendo, o som era de muitos cavalos. Não ficaram para ver de perto e todos correram para dentro do galpão, fecharam e trancaram o portão.O som se aproximava cada vez mais dos ouvidos atentos daqueles homens rude, agora assustados. Não havia armas de fogo, tinham adagas,facas, facões, esperaram dispostos a lutar.A tropilha chegou mais perto, mais perto, atingiu o pátio da estância e passou pela frente do galpão onde estavam, em disparada digna de uma carreira de grandes cavalos.Eram todos tordilhos brancos, ninguém os montava, apenas corriam sem cavaleiros, deixaram uma nuvem fina de poeira e foram na direção do rancho do Darci, a uns quinhentos metros dali, morava com sua prenda e um filho pequeno.Os homens estavam estáticos,mas tinham obrigações e passo o susto foram para o pátio verificar os danos e saber como estava o patrão.Para surpresa daquelas almas simples, não havia nada quebrado e nem rastro de cascos de tantos cavalos. O patrão não acordou? Perguntou alguém. O mais velho dos peões bateu na janela dele e perguntou se estava tudo bem,Seu Heitor respondeu que estava bem. Ninguém mais dormiu. Fizeram fogo, comeram, tomaram chimarrão e não iram mais nada. A não ser....O que foi Angelo? Nada, mas me pareceu ter visto um homem de preto sentado sobre o poço.Esclareça-se que na Estância não havia cavalos tordilhos. Todos os animais eram de pelagem escura. No dia seguinte, ninguém sabia explicar o ocorrido, o pasto e o pátio foi examinado com capricho e não tinha sinais de tantos animais.E o homem de preto? Bem, também não sabiam quem poderia ser.Talvez El Diablo.