FUTEBOL NA ROÇA
Diversão da molecada em cidade pequena é jogar futebol, todo dia é dia. Cresci em uma pequena cidade do estado do Paraná e pra manter a tradição brincávamos de bola a qualquer tempo, é comum nestes lugares haver um adulto que leva a molecada pra lá e pra cá para correr atrás de bola, normalmente esta criatura não joga nada, entretanto, tem bola, jogo de camisas, apito e todos os apetrechos necessários para a pratica. No meu bairro era o entregador de doces que carinhosamente todos chamavam de "doceiro", o camarada era tão viciado que fez ao lado de sua casa (um terreno baldio) um campinho onde podíamos jogar quando quiséssemos.
Nos finais de semana nos juntavamos e sobre a camionete do doceiro saíamos para jogar nos campinhos da redondeza.
Certa feita fomos a um torneio na campina dos pupos. O numero mínimo de atletas no momento da inscrição eram 12 (04 reservas) o campo era de dimensões média, e este era exatamente a quantidade que estávamos, com uma ressalva, entre nós tinha um colega chamado Néquinho, muitíssimo amigo de todos, Néquinho adorava futebol e nos acompanhava em todos os eventos futebolísticos, porém só atuava nas peladas entre nós mesmos, motivo: Quando tinha 11 anos sofreu uma queda de uma escada e ficou com um problema no tornozelo direito, além de ter a perna direita + - 5 centímetros mais curta que a esquerda. O doceiro não queria inscrevê-lo, mais diante das regras do torneio e da nossa insistência, acabou por fazê-lo; só de ver a alegria do Néco já valeu a pena a viagem de mais de 40 km. Obviamente que sabíamos que dificilmente teria alguma chance de jogar.
Dezoito eram o numero de equipes, disputando a tão cobiçada taça de campeão!
Nosso time muitíssimo entrosado foi arrasando cada adversário que surgia com sonoras goleadas e logo despontava como grande favorito, entretanto o time da casa crescia a cada jornada e a torcida local também crescia na mesma proporção!
Desde a primeira partida as 09h00min até a final, quando a noite anunciava-se á meia luz. Foram confrontos duros e tivemos dois jogadores expulsos e a maioria cansados, mesmo assim estávamos completos e por ter melhor campanha, jogávamos pelo empate no jogo final.
Os Pupos inauguraram o placar no inicio da segunda parte e apesar da insistência a poucos minutos do fim, nos faltava força pra empatar a peleja e a torcida já entoava o grito de é Campeão. Nosso melhor representante no ataque, Fonseca, artilheiro do certame, tomba exausto no terreno. Não tínhamos mais jogadores reservas, exceto Néquinho, que á principio o doceiro, técnico e dono do time relutou em colocá-lo.
A bola sai a lateral a nosso favor do lado esquerdo do campo, mais ou menos ao centro, vou para cobrança e digo para o doceiro coloca o Néco logo, mesmo que seja só para atrapalhar os caras, nosso time está muito cansado!
O doceiro acena com a cabeça discordando e concordando ao mesmo tempo, quando Néquinho dirije-se á beira do campo, correndinho da maneira que podia os mais fanáticos torcedores do time da casa, abrem uma sonora vaia, mais em meio às vaias, muitos aplausos também surgiram, muito mais por admiração ao esforço do menino em tentar vencer suas limitações. (Detalhe: Devido ao problema no tornozelo, quando corria seu calcanhar era lançado para trás de maneira muito estranha)
Bola em minhas mãos para á cobrança, ninguém se apresenta (nosso time está morto) quando percebo, o Néquinho passa por mim a beira do campo e entra a toda velocidade que podia em direção ao gol adversário, arremesso para ele, as suas costas, á partir daí comecei a acreditar nos “Deuses do futebol”, pois a bola viajou alta e desceu exatamente sobre o calcanhar defeituoso do Néco, e num único toque chapelou dois zagueiros e saiu na frente do goleiro, quando firmou a perna direita na grama,naturalmente seu corpo pendeu para direita, o goleiro atirou-se imediatamente e ele cutucou com o biquinho do pé esquerdo no canto oposto, a redonda foi morrer lentamente no fundo das redes, sensacional, e não houve tempo pra mais nada, fim de torneio, campeão!!!