As freiras
Cheguei tarde da noite ao hotel depois de uma exaustiva viagem vindo de Moscou. O táxi me levou até a entrada dos fundos do pátio da frente. Havia uma escuridão terrível na rua, eu mal conseguia enxergar e não podia encontrar a entrada. O vento frio passou por mim e eu queria me esconder o mais rápido possível atrás das paredes quentes do meu quarto. Estava tão cansado que sequer era capaz de distinguir qualquer coisa no saguão do hotel, só notei a escuridão do prédio antigo. Em algum lugar na parte de trás do hotel eu podia ouvir o som de uma discoteca ou um restaurante onde uma música dançante estava tocando.
Depois de um rápido check-in, a recepcionista me deu as chaves dizendo que meu quarto ficava no último andar do prédio, que tinha três andares e não tinha elevador. Portanto, fui forçado a subir as escadas com a mala bastante pesada. Eu estava tão exausto que, quando encontrei no quarto, desabei, sem olhar para nada no corredor. Todos os meus pensamentos foram sobre tomar um banho quente e adormecer, e finalmente eu o fiz. Do lado de fora da janela, o vento soprava uma canção comovente que lentamente envolvia a cidade Gatchina. Nos subúrbios de São Petersburgo, ainda no final de novembro, já era quase inverno, mas a neve ainda não caíra.
Um sonho lentamente me pegou em seus braços e eu não lhe resisti particularmente. Naquela noite, vi freiras muito estranhas em meu sonho, todas elas pequenas e vestidas com roupas marrons. Duas delas se ajoelharam em um canto do meu quarto e rezaram silenciosamente. Olhei para o corredor, também cheio de pequenas mulheres com roupas marrons. Estavam por toda parte, em todos os cantos do prédio: nas escadas, nos quartos vizinhos, no saguão e até no corredor onde eu ouvira a discoteca na noite anterior. Toda a casa foi invadida pelos sons suaves de seus sussurros e pelo farfalhar de suas roupas. Isso lembrou-me meu jardim de cerejeiras na casa de campo. Quando as árvores florescem, o jardim está saturado de abelhas que zumbem coletando néctar. Do mesmo modo, as freiras zumbiram e trabalharam incansavelmente em meu sonho.
O sonho produziu uma sensação incompreensível de ansiedade e acordei. Fez-se um silêncio absoluto e não havia ninguém na quarto. No canto onde as freiras haviam rezado em meu sonho estava apenas uma velha televisão. Resmunguei algo sobre este maldito miserável mundo e adormeci novamente.
Quando acordei de manhã e olhei pela janela, vi que a neve caíra, cobrindo Gatchina com um xale branco prateado. O inverno declarara que era hora de seu reinado. Saí do meu quarto para o corredor e fiquei simplesmente cego pela visão que apareceu na minha frente. Do lado de fora de uma janela em frente à minha porta, havia uma igreja incrivelmente bela, com cúpulas azuis cobertas de neve, que brilhavam irresistivelmente sob o sol luminoso da manhã.
Comecei a trabalhar com meu cliente de maneira otimista. Durante a minha hora de almoço, perguntei aos moradores locais sobre o templo que eu havia visto pela manhã. Para minha grande surpresa, soube que era a Catedral da Intercessão, que antes da Revolução Socialista de outubro fazia parte de um convento. O hotel onde eu fiquei costumava ser dormitório das freiras e parte do convento também. Eu não consegui parar de pensar sobre isso pelo resto do dia.
À noite voltei para o hotel. A recepcionista saiu e, enquanto eu a esperava, comecei a olhar as fotos nas paredes. De repente, senti que meu sangue se transformou em gelo nas veias, porque em todas as fotos haviam freiras vestidas com roupas marrons. Em uma das fotografias estavam sentadas em várias filas e no centro havia um padre. Comparado a ele, elas eram todas tão pequenas quanto anãs.
- Maldição! Exclamei, assustando a recepcionista.