Concentração

Perguntei ao meu mestre zen porque ele dava tão pouca importância à concentração, se para chegar ao nirvana, era necessário primeiro atingir o samadhi.

- Digamos que você aprenda as técnicas de samadhi com algum guru - ponderou ele. - Pode levar vários anos para que passe por todos os estágios e atinja finalmente o nirvana. Caso consiga chegar lá, consideraria isso como uma grande realização?

- Certamente, mestre! - Exclamei, surpreso.

- Isso o livraria do ciclo de morte e renascimento? Não! - Retrucou ele veementemente. - Enquanto não rejeitar o falso conhecimento, você estará ligado ao mundo material. Nestas condições, atingir o nirvana pode significar apenas a morte do seu corpo físico atual e o início de uma nova reencarnação.

- Então... para que serve o samadhi, mestre?

- Você pode usar o samadhi para meditar ou para fazer viagens astrais - sugeriu o mestre. - Mas, mesmo nesta condição, deve tomar cuidado quando e onde praticar. Seguindo o exemplo anterior, um guru lhe ensina um mantra para que você chegue ao samadhi; você se empolga e começa a usá-lo em todo e qualquer lugar. Um belo dia, pode acontecer de estar tão concentrado, que atravessa uma rua e morre atropelado por um automóvel.

Avaliei que a explicação fazia todo o sentido, e avancei a questão seguinte:

- Devo então deixar de praticar o samadhi, mestre?

- Você deve ultrapassar o samadhi - explicou meu mestre, calmamente. - Ele retira de você a consciência de quem você é, e do que está fazendo. No zen, o objetivo é manter a mente clara todo o tempo.

E, para ilustrar este ponto, o mestre mandou-me varrer o templo. E enquanto eu o fazia, ele indagou:

- O que você está fazendo, agora?

- Estou varrendo o templo, mestre - respondi.

- O conhecimento liberta - declarou ele.

- [23-10-2018]