Praia Vermelha! (bota vermelho nisso)
Praia Vermelha!
Na vinda para o Rio de Janeiro, saindo de Rio Negro no Paraná, já com uns 15 anos e 2 semanas na estrada no caminhão do meu pai, (Ele quis economizar) chegamos a Praia Vermelha na Urca, no emprego da minha mãe, (Trabalhava para uma família de sobrenome Braz...) umas 11 da noite e pra não incomodar dormimos embaixo do caminhão.
Recepção calorosa, sombra e água fresca garantidas, uma vista lindíssima do Apartamento aonde moravam! De lá avistava-se um jardim bem cuidado, frente a pequena e singela praia, contrastando apenas os 2 prédios do Exército de arquitetura e côr baixo-astral.
A família Braz... era pai, mãe, filho uns 12 anos e filha uns 15. A vida era boa, de manhã, praia, futebol, praia, almoço. De tarde, futebol, praia e jantar, depois passear até...No futebol ou na praia quando sentia sede ou fome, saía correndo, o AP a 300 metros, abria a geladeira e "dava de pau" nas frutas geladas, da feira feita aos Domingos para durar até sábado.
Escrevi para meu irmão em Rio Negro, e ele nada satisfeito com o tratamento da Tia, disse-lhe do Paraíso aonde estava vivendo, que ele viesse o mais breve possível.
Ele demorou, nesse meio tempo por causa de minhas lombrigas, a feira da semana acabava na 5ª feira, a relação com a família deteriorou, e e eles passaram a "esquecer" de deixar o dinheiro da carne, do ônibus dos filhos, etc, numa forma de compensação aceita pela minha mãe.
O abre-e-fecha na geladeira tornou-se obcessão, forçando-os a uma medida drástica:
Me arrumaram um Asilo de Velhos pra morar!
Eu, o agora Renato, fui morar num asilo de velhos no Centro Espírita Allan Kardec, na Tijuca por uns 3 meses, aonde me tornei D´J das seções Espíritas!
De cara a "paraíba mulher macho sim senhor" que cuidava dos 15 velhinhos, não gostou de mim, nem eu dela, pra piorar os velhos jogavam 21 o dia inteiro, e eu não jogavam nem pedra na mangueira.
Pior dia era as noites de sábado, na unica TV pra meu azar no quarto dela, o Programa com 99% de audiência: Tele-Catch!
Ela irradiando a luta, parecia estar parindo tamanha a gritaria:
Vai Verdugo e Pé-na-Cova, dá neles Rasputin Barba Vermelha!
Seis da manhã eu já de pé, ia pra varanda olhar o movimento na rua, eis que certa manhã, surge ela :
LEILA, levando seus dois irmãos, Henrique e provavelmente Maria.
Se Cupido atira flechas, nas outras manhã virei São Sebastião, tornou-se obcessão tornar a vê-la, virou paixão, minha 2ª paixão com apenas 15 anos! ( A minha 1ª foi Elizabeth Wilrich em alto Paraguaçu-SC)
Foram 3 meses igual jacaré, e me livraram da tristeza de viver naquela masmorra. Nem o sapo beijado pela princesa estava na posição ridícula de um maravilhoso jovem morando num asilo de velhos!
Visitar minha mãe só aos domingos, mesmo assim valia a pena, a praia só existe por causa dos cariocas. Nos 1º domingos do mês minha mãe me dava um bom dinheiro, para que eu comprasse sabonete, pasta de dente e principalmente doces e biscoitos! Comprava aos poucos de maneira que durava umas 2 semanas o dinheiro, e a Raimundona só de olho!
Enquanto o tempo passava, eu escrevia ao meu irmão que viesse, até pra me fazer companhia, e nada de ele conseguir sair de lá!
Até que no 3º mês a Raimundona inventou que eu estava roubando o dinheiro das ofertas, colocadas num barril com cadeado. Eu não a desmenti, pois não aguentava mais aquela chatice, e assim voltei para o Apartamento na Praia Vermelha!
De surpresa meu irmão chega, sorte nossa ninguém da família em casa, ih agora? Não podíamos manter a porta do quarto da empregada fechado, pois eles poderiam estranhar, assim o jeito foi um ficar preso dentro do guarda roupa, enquanto o outro circulava.
No meio de semana era fácil, a família saía de manhã, e o filhos só voltavam de tarde, mas no sábado e domingo, fazíamos revezamento!Apesar de nossa personalidade ser bem diferente, por sermos gêmeos idênticos deu pra engana-los por umas 2 semanas, até que eles descobriram a patifaria.
O problema foi que "as Filhas das FRUTAS" agora acabavam na 3ª feira!
Descobertos, sustentar 2 lombriguentos, nem pensar, apesar de minha mãe já estar gastando todo o salário com os "esquecimentos", a solução achada foi:
Rá-ré-ri-ró-RUA!
Voltamos para o barraco, e Deus manda o teste definitivo:
Um Dilúvio-!966-que derrubou só no nosso morro uns 15 barracos, incluindo o nosso. Ai fomos morar nas lojas vazias do Shoping Center da Rua Siqueira Campos, ficando expostos como aves raras aos passantes por uns 3 meses!
FIM?
Quem dera, por causa dessa maravilhosa opção Editar, lembrei-me deste importante adendo:
Me sentia um zangão naquela pobre colméia, ai lembrei-me de que meu "pai" tinha me dado um endereço de um amigo motorista, para contato em uma emergência.
Ficava no Flamengo na AV. Rui Barbosa nº tal Apto.tal. Subi e de cara tomo um susto, da sacada do prédio saia uma ponte que ligava a um morro escondido pela muralha de edifícios!
Ou seja: Eles tinham um morro particular, só para eles.
Eu estava diante do futuro do nosso morro. Minha mãe chegou na rua Euclides da Rocha 17 Morro dos Cabritos, em 1950 por ai, e esse lugar ja tinha dono, ela teve de pagar aluguel pelo espaço aonde fez o barraco, mas em 1980 a Companhia Pires Santos se apresentou como dona, sabe deus como, Digo Deus Sabe Como, fêz acordo com a Igreja Católica, que propôs a retirada das Ovelhas, digo dos antigos donos e moradores, via mutirão ou indenização para os que não quisessem participar do mutirão!
A probosta era uma Lei de Gerson Portuguesa com certeza.
Nós pagaríamos um carnê de 24 prestações, e com este dinheiro nós iniciaríamos a construção do condomínio em mutirão! Como quase todo o mundo trabalhava, mutirão só aos sábados e domingos! Ai quem era amigo do apontador, assinava o ponto e ia para a praia.
Quem faltasse pagava multa, quem tinha um bom emprego preferia a multa, a perder a praia. Atrasou a prestação, juros diários, e o lugar aonde seria as casas, prometia fortes emoções:
O Ninho das Cobras!
Quem não topou o mutirão recebeu uma indenização ridícula, 7.000,00, dinheiro da época!
Voltando: Bati na porta, e seu Uby o amigo do meu pai me recebeu, e pediu que o esperasse na cozinha. Eis que de repente surge um mordomo daqueles descritos nos romances de Agatha Crystie, de jaleco e tudo, um espanto.
Diz para a cozinheira que tem que fazer a janta do patrão, tira do bolso uma chave e abre o cadeado da geladeira, tira uma coxa de frango, uma cenoura e uma batata. Simpatizou-se comigo, aproveitou o embalo e me deu uma ameixa seca, provavelmente sobra do natal um ou dois meses antes.
Pois é, Seu Uby era motorista do Presidente de uma Federação do RJ!
Com todo o respeito, Sr. Mordomo, já servi coisa melhor as minhas visitas no meu barraco!
Fim?
Serafim!