FREI EXPEDITO

         Nos conhecemos no início dos anos oitenta, quando como católico, entrei na Igreja Matriz de São Luiz, a procura de um padre para fazer uma benção nas instalações de nossa clínica durante a inauguração. Era um velhinho simpático, e assim que falei do que se tratava, concordou de pronto e acertamos dia e horário. Ali nasceu uma amizade que durou mais de vinte anos, até o seu falecimento  aos noventa e quatro. Padre Expedito era uma alma boa, não se furtava a atender as todos que o procuravam, mesmo as vezes tendo que andar quilômetros  em sua velha bicicleta Monark. Era um padre diferente, era visto com frequência nos bairros mais afastados ou povoados vizinhos, vestindo sua batina preta, e quando a noite o surpreendia dormia por lá na casa de algum dos fiéis. Era muito severo na vigilância dos bons costumes e dos ritos da santa missa. Mas tinha também o seu lado profano. fumava muito e não dispensava uma cachaça caso a ocasião permitisse. E, dizem as más línguas que fazia visitas furtivas  a irmã Hermínia na calada da noite. Contudo era  um ser humano interessante e admirável.

            No dia da inauguração, as nove horas da manhã. lá estavam a classe médica local e colegas dos municípios vizinhos, além de seu Josias prefeito, alguns vereadores, nossos familiares, Dr. Claudino, Juiz de direito, alguns outros convidados e naturalmente     Frei  Expedito. Quando tudo estava pronto, o locutor da rádio local deu por iniciada a cerimônia. Fiz uso da palavra saudando e agradecendo a presença de todos, bem como ressaltando a importância do serviço que estávamos disponibilizando para a comunidade.  A seguir o prefeito fez um breve pronunciamento, dando alguns pontapés na gramática e nas concordâncias verbais, além de não acertar os nomes de nenhum de nós. Por fim, solicitei ao padre que procedesse a benção. Ele fez uma pequena prece, e começou a jogar água benta nas instalações. Percebi quando um dos jatos de água benta atingiu o conjunto de fusíveis da caixa de força. Tive a impressão de ouvir um um pequeno "tzzzz". Ao fim da cerimônia, fomos todos para um clube, onde servimos um coquetel a todos, seguido de um churrasco.  Frei Expedito não se fez de rogado, tomou um tremendo porre. Na segunda feira meu sócio que ficou escalado para trabalhar naquela semana me ligou aflito. O aparelho de Raios-X não ligava, não tinha como atender os pacientes. Na hora me lembrei do "tzzzz". Só no dia seguinte pude levar fusíveis novos para substituir. Acho a história divertida e não posso culpar o padre. Afinal, ele bebeu foi depois.
Al Primo
Enviado por Al Primo em 12/10/2018
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