A VÍUVA BRANCA
A cena se repetia. Mudando apenas as pessoas, o resto era igual. A facilidade com que caíam as lágrimas, a expressão de impotência, a fraqueza conquistando abraços e sentimentos, a redundância da vida. Juliana não sabia ao certo o que sentia, mas sabia que desejava sair dali o mais rápido possível e ir para casa. Enterrara o segundo marido em menos de três anos e do momento da notícia de morte, passando pelo processo funerário até o ato de atirar terra na cara do morto, muita coisa tinha ocorrido. Os amigos se prontificavam a ¨qualquer coisa,¨caso ela precisasse. Os parentes a confortavam com palavras de carinho e bondade, mas ela só queria ir, aliás necessitava ir. Já tinha visto muitas roupas pretas, choros e coroas de flores. Sabia que ainda viriam as burocracias das quais nem a morte escapa: atestado de óbito, inventário e, consequentemente muita briga e confusão entre os que partilharão os bens. Mas isso não era nada diante da vontade de sair dali. E logo esse desejo transpareceu a todos. Muitos propuseram caronas e companhia. A todos cordialmente recusou alegando que iria de táxi, que queria realmente ir só.
Chegando em casa tomou banho e perfumou-se, pôs vestido sóbrio que, coitado, era impossível cobrir tanta volúpia e formosura do seu corpo branco, belo. Apagou as luzes e saiu pelos fundos da casa por uma pequena brecha na cerca do quintal, cruzou uma ponte velha que findava em um portão de madeira, bateu cinco vezes e pouco esperou até que o portão se abrisse e um homem aparecesse, a puxasse para dentro e confortasse num abraço de amor. Sufocada pelos beijos e com um sorriso ofegante, carregado de ternura, disse no ouvido do amante:
_ Eu estou viúva, amor. Eu estou viúva.