O BILHETE PREMIADO DO FELIZARDO! (EC)
BILHETE PREMIADO!
Felizardo, em contraponto com seu nome, era o protótipo do pé-frio!
Em qualquer rateio para disputar a conquista de algum prêmio, os ‘amigos’ alegavam as mais absurdas desculpas, disfarçavam e o deixavam de lado.
Em certa ocasião, em lotérica próxima de sua casa começaram a despontar diversos bilhetes premiados em bolões que eram elaborados pela própria casa de jogos. Vários amigos de Felizardo já haviam sido felizardos em participar dos mesmos e embolsaram uma boa quantia.
Felizardo viu ai uma oportunidade de participar do próximo sorteio, haja vista por ser a aposta elaborada pelos próprios proprietários e não haver como sua participação ser rejeitada pelos organizadores. Ao dirigir-se para efetuar sua ‘fezinha’ e notar que alguns de seus amigos por lá estavam também realizando suas apostas, esperou que se retirassem e dirigiu-se para participar do ‘bolão’. Porém, para sua surpresa, foi informado pela atendente que as cotas de participação, infelizmente, já havia se esgotado!
Extremamente contrariado, Felizardo já estava se retirando quando viu outro ‘amigo’ adentrar a lotérica e fazer uma aposta participando do ‘bolão’. Ficou extremamente zangado e triste por ter sofrido tamanha retaliação! No entanto, como era também extremamente educado, não se dirigiu nem ao 'pseudo amigo' e nem a atendente buscando explicações. Apossou-se de um volante de aposta e resolveu fazer marcar sozinho suas respostas. Optou por fazer uma combinação dos 25 números necessários com números referentes ao número de colocação das iniciais dos nomes e apelidos dos ‘amigos ursos’ e das pessoas da família no abecedário, dentre os quais havia o Anjinho(1), o Benê(2), o Duda(4), o Gato(7), o Jaburu(10), o Keijy(11), o Negão(14), o Polaco(16), o Sujeira(19) e mais alguns outros, e efetuou, sem qualquer retaliação, o seu jogo!
Prosseguiu sua pacata vida, agora magoado com aqueles que julgava serem seus amigos, somente mantendo mais estreito contato com alguns que o procuravam!
Não havia nem se preocupado em verificar a data na qual seria realizado o sorteio e foi somente quando ‘en passant’ passou próximo à lotérica onde havia realizado sua aposta e notou que havia por lá um alvoroço, com várias pessoas dialogando, entre as quais seus ‘pseudos amigos’...
Foi quando um deles, o Yan o chamou e comentou:
--- Tai, Felizardo, acho que seu azar acabou... Você ganhou alguns trocados por não haver participado conosco do bolão! ... Não houve vencedor e o prêmio foi acumulado para o próximo sorteio!... Dos vinte e cinco números necessários, só acertamos 20 e não ganhamos nada... Feliz mesmo deve estar o sujeito que acertou 24 números sozinho e embolsou uma ‘grana’ boa, bem maior do que qualquer um dos que participaram do bolão embolsaria se nós é que tivéssemos acertado os 24! Ninguém sabe quem foi, mas a aposta foi feita aqui mesmo! Dizem que ele somente não acertou o número 3!
Felizardo permaneceu por mais alguns minutos por ali e ficou sabendo que o ‘sortudo’ que havia abocanhado o prêmio, levaria 300 mil reais para casa. Ficou pensando como seria bom abiscoitar um prêmio como esse! Vivendo modestamente com um salário mínimo como vivia, daria para talvez viver ‘numa boa’ o resto dos seus dias...
Enquanto se dirigia para casa, seus pensamentos voaram e ele foi pensando no jogo que havia feito sozinho! Não havia jogado o número que faltou para o vencedor, haja vista que um dos seus amigos era o Crente, que detestava qualquer tipo de jogo e que ele, por esse motivo, não havia incluso o número correspondente a ele entre os escolhidos! Jogou todos os demais que contemplavam a numeração de 1 aos 26, correspondentes aos nomes dos ‘amigos’ e de parentes, complementando os 50 que tinha de escolher com outros números escolhidos aleatoriamente!
Chegou ansioso à sua moradia e mal deu um beijo na testa da companheira, praticamente correu até o quarto indo diretamente até a gaveta da maltratada escrivaninha na qual havia guardado o bilhete que continha os números jogados!
Com a mão tremendo constatou que era ele o ganhador do prêmio da loteca!
Voltou correndo para o lado da companheira, tomou-a nos braços, beijou-a e exclamou:
--- Nossa vida vai mudar, Cremilda! Ganhei um bom dinheiro no jogo da loteria e podermos viver sem muito aperto a partir de agora!
Olhando para a companheira não pode deixar de esboçar um ligeiro sorriso enquanto pensava que deixara de colocar o número 3 em seu jogo, pela equivalência com a letra C do dicionário com o apelido Crente de um de seus amigos, quando tinha outro C muito querido ao seu lado e que SEMPRE lhe trouxera muita sorte em sua sofrida vida!
Porém, estava muito satisfeito com o que o Criador lhe havia preparado e, num repente, tomou a companheira nos braços e beijou-a terna e afetuosamente, pensando no novo rumo que tomaria a vida em comum!