O QUÍMICO ABSTRATO

Todo o Químico têm um pouco de loucura e todo o sábio tem uma boa doze de bestialidade. São pessoas que se tornaram notórios pelos seus feitos no ramo da ciência, medicina, engenharia, direito, biologia e outras profissões liberais. Que fazem parte da galeria de grandes vultos históricos da humanidade. E outros que nem seus nomes fizeram parte da história. Mas, fazem parte do Folclore Regional. É o caso do personagem citado abaixo

Nasceu Moisan, na cidade chamada Cachoeira do Nó, filho ilegítimo do Dr. Theobaldo Crescium. Morava o desditoso filho com a mãe, D. Maria Trepadeira até aos 5 anos, quando a mãe fugiu com o motorista da lotação 69. Daí pra cá, foi morar com o pai. Desde pequeno o Moisan, gostava de misturar as coisas, não era palavras, era tudo que lhe permitia transformar ou acrescentar, exemplo: areia com barro + tinta+ qualquer liquido color ou extraía das folhas verdes sumo e misturava com outras substâncias. Ficava horas a olhar para o frasco com a mistura e depois guardava o frasco. Com essa inclinação para farmacêutico, o pai, advogado medíocre e fervoroso admirador do Químico francês Henri Moissan ( Prêmio Nobel de química em 1906 ). Deu ao filho o nome parecido com o do seu ídolo. Coincidência ou não, o filho mostra tendência a essa aptidão. Sempre inclinado aos estudos da matemática, única matéria que ganhava nota boa. Assim foi galgando degraus no percurso estudantil, até chegar á fase acadêmica.

Escolheu, como era previsto à farmacologia e conseguiu aprovação. Mas, sempre no caminho, lembrava dos Alquimistas medievais, precursores dos químicos modernos.

Já no 3º ano, tinha em sua casa, um pequeno quarto, onde ele montou um modesto laboratório. Com idéia fixa de criar o Elixir da Juventude, teoria de alguns Alquimistas árabes. O máximo que adquiriu foi ler vários livros de antigos Alquimistas europeus, que continham centenas de formulas e teorias incompletas e incorretas, para chegar a resultados duvidosos.

Pensou na flora e organizou um pequeno mostruário em estufa, com varias espécies de plantas nativas, chamadas medicinais. Estudou e ampliou seus conhecimentos em tratados dos compostos do carbono e formam em sua maioria os organismos animais e vegetais. Abraçava também a idéia de transformar metais grosseiros em prata ou ouro. Mas não chegou a essa experiência, devido ao seu conhecimento de leis mais modernas da química.

Colocou em fusão os extratos obtidos em tubos de ensaios. Acrescentou soros de ervas assexuadas. Quando tudo estava pronto, testou em cobaias. Os testes e anotações levaram meses para serem concluídos e estudados em farmacologia. Porém, faltava refazer novos cálculos para confrontar a teorema.

Moisan trabalhava na incerteza. Havia uma grande diferença nos testes com cobaias. No ser humano qual seriam as reações ? O cérebro humano determina as ações do corpo e os animais por instintos sexuais e olfativo, dependente do período da fêmea para copular.

Era o sonho de Moisan, fazer o Elixir que devolveria ao homem o poder da juventude de corpo e a ação reprodutora. Teria uma vida mais prolongada com doenças curáveis, sem dor física. Descobriria à Pedra Filosofal, tão apregoada na Idade Média. Foi esse mesmo sonho que dezenas de Alquimistas tiveram em séculos passados. Eles morreram sem saberem comprovar o que levaram anos pesquisando e não chegaram a compreender as leis da natureza. Hoje sabemos que são imutáveis e nem todos os elementos naturais e materiais do universo poderão transformar entre si.

Moisan fez experiências com o xarope de ervas da sua cultura em estufa e fez testes em si mesmo, e os efeitos não foram apresentados como queria. Houve sim, reações diversas no seu organismo, provocando medo em prosseguir nos testes. Lembrou também que a sua idade, 35 anos, talvez, e o seu organismo não aceitasse o xarope ( Elixir) e assim, teve a idéia de testar em seu pai, sexagenário e enfermo.

Colocou na xícara o xarope e fez o doente beber. Deitado estava e no espaço de mais ou menos 30 minutos o pênis do doente ficou ereto de tal maneira que parecia um mastro coberto com o roupão. Todas às pessoas presentes no quarto viram a cena e só o velho doente não sabia se ria ou chorava . A emoção foi tanta que desfaleceu, e o mastro despencou. Todos correram para irem à volta da cama. Moisan reanimou o doente em minutos, voltou a si, com os olhos bem abertos em espanto a olhar o roupão ( sem o mastro ) repousando em suas pernas. Perguntou aflito ao filho, “ o que houve com o meu felizardo ? O filho respondeu: houve reação do xarope; depois eu explico, com calma.

Não imagine a alegria de ambos, pai e filho. O velho, recebedor do reanimado presente e o outro o inventor animado. Todos saíram do quarto, menos o filho. Sem disfarçar as emoções, contou ao pai, as suas experiências e os desânimos no decorrer das fases experimentais. Esse xarope era uma nova formula extraída de plantas nativas de sua cultura. Porém, não acrescentou que o episodio de momentos antes, tenha provado o seu grande objetivo. Só teria certeza se novos acontecimentos viessem a ocorrer. O pai, eufórico, disse: “ Quero beber mais dessa poção !... O filho respondeu: Pai, esse xarope, só terá validade se o efeito for produzido por incitação prolongada e não por efeito rápido do xarope. “Mesmo assim filho, mande vir àquela rapariga da cozinha me fazer cafuné. Mas, antes quero beber de novo essa poção “. Sua voz era rouca, quase desesperadora.

Deu a ele uma doze do xarope, e acomodo-o na cama. Imediatamente, foi à cozinha e chamou à rapariga – cujo ardor tinha provocado no velho as lembranças sexuais da juventude. Conversou com ela, fez entender o quanto é importante para ele e para o velho esse encontro. Ela sorriu, e ele deu-lhe uma certa importância em dinheiro e naturalmente pediu segredo.

Duas horas depois, ouvi-se um grito, vindo do quarto do velho. Era a rapariga com as mãos no rosto a soluçar, com suas vestis em desalinho. Moisan deitou a sua cabeça no peito nu e frio do velho, para escutar o batimento do coração. Com o corpo totalmente nu mostrando o felizardo (pênis) triste de cabeça baixa. Não havia mais vida. Perguntou à rapariga, o que aconteceu ? Ela disse : “ Senhor, o seu Crescium, teve o seu momento de prazer, no final, porém, não resistiu a emoção”. O filho acrescenta:; o seu coração parou, morte súbita por excesso de prazer.

Moisan ficou com remorso, pela morte do pai, há de pensar que foi feito pelas suas mãos o xarope causador da morte. Teve raiva do que fez, poderia ser outra pessoa, menos seu pai enfermo. Não era esse o seu propósito, na realidade dos seus pensamentos, queria que a transmissão do xarope, surgisse outras reações em dar saúde ao velho e restituir suas forças vitais. Não queria que fosse parcialmente e nem somente nos órgãos sexuais. O xarope antecipou a sua morte.

A ambição cegou a causa que pode ocorrer em certas experiências em seres humanos. Sempre pode haver efeitos colaterais irreversíveis, cada corpo humano pode rejeitar um determinado medicamento.

Retornou a sua vida normal meses depois da morte do pai. O laboratório de pesquisa foi isolado e as anotações do xarope foram queimadas e o xarope restante jogado o líquido no ralo da pia. Fez esquecer o objetivo de anos trabalhado, na ânsia de

mostrar ao mundo o sonho-realidade dos Alquimistas do passado. Sentou-se na cadeira e debruçou a cabeça cansada, sobre a mesa cheia de papéis e livros. Chorou para aliviar a pressão adquirida em anos de obrigação que sentia em fazer e descobrir o soro do rejuvenescimento. Tinha a certeza da missão cumprida parcialmente, e que nunca mais poderá repetir.

Deixou a vida de pesquisador farmacêutico, para ser professor em farmácia. Trocou a maneira de viver, cheia de sacrifício e abnegação para ter uma vida livre e saudável no meio de jovens estudantes. Suas aulas eram comentadas por professores e alunos, não transmitia sonhos nem fantasia. Dizia aos alunos que “a química é a matemática em forma de tubos de ensaios.”

Foi um Químico abstrato.

batacoto

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Enviado por batacoto em 08/09/2018
Reeditado em 09/09/2018
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