PAI POBRE, PAI RICO

PAI POBRE, PAI RICO

(Deomídio Macêdo)

A nebrina debruça sobre a cidade do interior da Bahia, no mês de junho, quando os fogos iluminam a noite anunciando a chegada da festa tão esperada por todos, principalmente das crianças.

Ao longe, podemos perceber um jovem rapaz, que se aproxima de uma banca de fogos, pechinchando o melhor preço, para que ele pudesse adquirir alguns traques, estalos de salão, fogos que não tivessem riscos para seus filhos.

JM conseguiu adquiri alguns fogos com preços mais acessíveis para fazer a alegria dos seus rebentos.

Ao fazer as compras, ele se dirige para o seu carrinho de revistas, jornais, almanaques etc

JM era um vendedor ambulante. Ele mesmo fez o designer do seu carro, numa forma de triângulo, com varias filas de ferro para que ele pudesse expor seu material pendurado, de forma que seus fregueses pudessem de longe visualizar as diversas obras literárias.

Ao chegar à sua casa humilde, o seu filho e a sua filha, já o esperavam na porta sabendo que seu pai não esqueceria os seus presentes de São João.

Eles ficaram ali soltando os fogos até mais tarde, enquanto JM guardava a sua ferramenta de trabalho num cômodo específico.

No outro dia, segunda feira, ele levanta cedo, prepara o carro, enche os pneus, que ficavam bem calibrados. Organiza os produtos, toma um café reforçado, porque segunda feira prometia ser um dia bem agitado.

Antes de partir beija as crianças que ainda dormem. Despede da esposa e parte para mais um dia de trabalho. Pára numa esquina movimentada, local onde ele trabalha desde há muitos anos. Os comerciantes ali da redondeza já o conhecia de longas datas.

Realmente o dia foi muito bom. Vendeu o suficiente para ter uma semana tranquila, em termos financeiros, junto à família.

Ao voltar para casa passa em frente de uma casa lotérica e um pensamento muito forte lhe chega à cabeça. Pedindo para que ele pudesse jogar em alguma loteria. O vendedor ambulante não deu muita atenção para aqueles pensamentos e seguiu adiante.

Nós somos intuídos constantemente pelos nossos anjos guardiães e muitas vezes não os escutamos. Assim aconteceu com JM. Ele vira a esquina já distante da casa lotérica e mais uma vez uma força imensurável o convida para fazer um jogo.

- Que estranho - pensou ele!

Os meses passam céleres. Os comerciantes do centro da cidade inovam as suas lojas, porque a economia alavancou o comércio. A movimentação dos clientes era tão intensa que não deixavam os empresários e até mesmos os empregados observarem o que acontecia aos seus redores.

Até que um dia, depois de muitos meses, um dos empregados fez a pergunta que ninguém sabia responder:

- Alguém tem notícias de JM o jornaleiro? Será que morreu? Meu Deus! Como pode desaparecer assim, sem dar nenhuma noticia. Nunca mais vendeu suas revistas, jornais por aqui!

- Um rapaz que ouvia a conversa de longe se aproximou e disse em alto e bom tom:

- Vocês não souberam?

- Não! Responderam todos em um coro.

E o moço acrescentou: O JORNALEIRO GANHOU NA LOTERIA!

Todos ficaram de boca aberta! Que noticia bombástica!

Alguns anos depois JM pára o seu carro importado em frente do comércio onde vendia suas revistas e jornais. Desce do automóvel, vestido com roupas de grife: Camisa manga comprida, calça bem definida, sapatos brilhantes e com os Cabelos bem aparados e penteados.

Ao se aproximar observa as caricaturas de espanto dos presentes. Abraça cada um daqueles seus amigos e amigas e relembra com detalhes quando trabalhava ali e era querido por todos.

Para esclarecer os fatos ele conta a sua história. E como num passe de mágica lembra a cena daquele dia: Depois da segunda intuição, ele voltou com seu carrinho, parou em frente à casa lotérica e fez um jogo simples na mega sena que modificou totalmente a sua vida.

Ao terminar a história todos ficaram atônitos e um deles disse: - Isto é que é sorte. Todos se abraçaram com a vitória do amigo.

JM agora era um homem rico. Grande empresário da pequena cidade do interior. Gerando muitos empregos. Mas continuava um homem simples. Dedicado à família, e aos filhos que estudavam nas melhores escolas.

Agora JM era um pai rico que poderia dar de tudo e do melhor para os seus herdeiros.

O dia amanhece, espreguiça, observa seu quarto luxuoso, na sua bela mansão. Por alguns instantes fica ali relembrando toda a sua vida. Ao tempo que elevava os pensamentos a Deus agradecendo a grande oportunidade que a vida lhe proporcionou.

Continuava fazendo as mesmas coisas. Levantando cedo, beijando os filhos antes de ir para o trabalho. No passado pegava seu carrinho ambulante. Hoje se dirige para o seu belo carro acompanhado pela esposa que junto com ele administra a empresa.

Ao entrarem no escritório de trabalho, o casal se deparava com dois lindos quadros, enormes, produzidos por um artista que esboçou na parede as duas faces de sua vida.

Os quadros encantavam os olhos de todos aqueles que tinham a oportunidade de estar ali naquele espaço. Eram pinturas extraordinárias.

Em um dos quadros, o artista esboçou uma cena fantástica! Em que JM pousava com seu carrinho de revista, almanaques e jornais e no outro quadro pintou com sua mão mágica: JM empresário.

Aquelas imagens foram pintadas naquela sala com uma única intenção. Para que o diretor presidente e sua esposa não se esquecessem de onde vieram e ao mesmo tempo, para que o seu filho e filha, ao assumirem no futuro, os cargos que lhes competem na empresa, continuarem com os pés no chão, sempre com pensamento de humildade, respeitando e amando os outros e acima de tudo, entendendo, também, que o PAI POBRE, continua sendo o mesmo homem PAI RICO.