As luzes do Zé
- Benzinho, meu benzinho. (Dizia a Sra. Maria a seu querido esposo).
- Hoje é domingo. A Márcia e a Mirian, nossas filhas, vão para a casa de minha irmã, pois amanhã elas irão participar de um encontro de jovens da paróquia. O Mateus vai para a casa de minha mãe, pois o Jonas chegou de Belo Horizonte e os dois não se veem há muito tempo. Talvez seja o momento para eles estarem juntos. São primos e muito agarrados um a outro.
- Estamos praticamente sozinhos.
- Gostaria de lhe fazer um pequeno convite:
- Vamos passear à casa de sua mãe. Faz muito tempo que não lá vamos. Ela é que nos vem visitar. É uma vergonha para nós, principalmente para você.
- Maria, gostaria muito de ir até lá.
- O problema é que o nosso carro não está em grandes coisas. Ele está um pouco velho e apresenta alguns defeitos.
- Que nada!
- Defeitos todos os carros têm. Ele só está um pouquinho gasto pelo tempo. Ele já está um pouco velhinho, mas ainda aguenta uma viagem até a fazenda de sua mãe.
- Não é longe. Uns dez mil metros mais ou menos. Poderemos gastar até meia hora. A estrada não está tão ruim assim.
- Uns buracos aqui, outros ali... .É festa para nós...
- Já ia esquecendo:
- Imaginou comer aquele franguinho caipira ao molho pardo, com um angu bem mexidinho, um arroz soltinho e feijão bem cozido?
- Olha Maria. Com toda esta expressão, você está me dando muita água na boca. A minha vontade é de comer tudo isto e saborear um arroz doce de sobremesa, acompanhado daquele queijo bem fresquinho que papai, mesmo estando com dificuldades, gosta de fazer. Comer pão de queijo, broa, com um cafezinho feito com carinho por mamãe é uma boa ideia para este domingo.
- Vamos. Estou pronto para ir. Mesmo que o carro dê defeitos, tentarei consertar. Entendo um pouco de mecânica, mesmo tendo cursado algumas matérias na engenharia. Será muito bom.
Com este diálogo, Mário sentia-se feliz por passar um domingo ao lado de seus pais na fazenda. A estrada estava bem ruim, pois o período da estação das águas estava quase no final e muitos buracos, muitas pedras e resíduos de cascalhos estavam pelo caminho, fazendo com que a viagem fosse lenta, mas muito divertida do ponto de vista daquele casal.
Demoraram um bom período de tempo para chegar à fazenda. Assim que chegaram, foram muito bem recebidos e seus desejos foram realizados.
Maria comeu o frango caipira, comeu doce de leite e arroz doce, angu, abóbora e outros alimentos do dia a dia caipira. Mário comeu muito, mas sentia-se um pouco desanimado, porque estava fazendo muito calor. O sol estava batendo a temperatura na casa dos trinta e seis graus. Não se via nenhuma nuvem para sombrear o dia. Os pássaros cantavam alegremente suas lindas e suaves canções. Era verão.
- Que delícia de lugar, Dona Zélia. Gosto muito daqui.
- Minha querida nora. Eu nasci e me criei aqui. Conheci seu sogro em uma festa no arraial não longe daqui. Frequentei a escola e fui estudar na capital. Formei-me professora, mas não queria lecionar. Preferi vir morar aqui com meus pais.
- Mudei de ideia. Ensinar os meninos é muito bom. Ensinei alguns filhos dos empregados. A minha vida mudou com a morte de meus pais. Resolvi encarar a vida do campo e me tornei administradora da fazenda. Fiz alguns cursos. Pensei em estudar engenharia rural, mas o destino não permitiu.
- Logo casei e tive os meus filhos.
- A minha vida é só felicidades. Gosto de viver aqui. Planto, colho minhas verduras. Gosto de criar as minhas galinhas e fazer os meus gostosos e preferidos biscoitos no forno à lenha. É minha felicidade estar aqui.
Com muita conversa, com muitas brincadeiras, foi passando o dia e quando deram por conta já estava na hora de retornar para a cidade. Era horário de verão. O dia permanecia longo e a noite era pequena. No dia seguinte, lá iam os dois para o trabalho. Um final de semana no campo era um alívio e um descanso a mais para o casal. Os filhos já se viravam por si sós. Nem davam muita atenção a eles. Eram adolescentes e o mundo deles era outro, talvez um pouco diferente da realidade do casal.
- Minha querida sogra. Estou muito triste por ir embora. A noite está chegando e a estrada está muito ruim.
- Eu prometo que daqui a quinze dias, viremos passar um final de semana com vocês. Vamos passear e até caçar tatu lá na lavoura de mandioca. Será muito bom.
- Meus filhos, vão em paz e muitas felicidades para vocês.
- Dentro do carro, coloquei biscoitos e frutas para os meninos. Tem uma lata com carne de porco na gordura.
- Gostei muito da visita. Espero vê-los o mais rápido possível.
Com estas frases e mais algumas, Dona Zélia se despedia do filho e da nora. Sempre gostava deles, apesar de ter mais treze filhos, todos homens.
Ligaram o automóvel e partiram em retorno ao seu lar.
- Benzinho, vai um pouco mais devagar. Tem muito buraco e as costeletas na estrada. Eu comi muito e meu estômago está enjoado. Se continuar depressa, penso em vomitar e será muito ruim jogar fora as deliciosas comidas feitas por sua mãe.
- Eu estou preocupado com os nossos filhos. Será que eles estão bem. Não devem estar com fome.
- Que nada, benzinho. Eles são grandes e sabem virar sozinhos.
- Maria, o carro está falhando. Não sei o que possa ser. Ele não está legal. Vou parar um pouco para ver o que será.
Naquele momento, Mário já previa a gravidade do defeito de seu veículo. Não era falta de combustível. Nem mesmo com o setor de distribuição. O problema era na parte elétrica. Se demorassem muito, poderia o veículo ficar sem os faróis.
Anoitecera e os dois iam a passos lentos, ou seja, a quilômetros lentos. Passava uma marcha e tinha que parar. O veículo não respondia.
Em um determinado lugar, subindo a serra e estando na metade dela, o carro parou de funcionar.
- Acho que chegamos ao fim, ou melhor, ao início do problema. Disse Mário, muito irritado.
- Não pense nisto, querido. Se não conseguirmos ir de carro, vamos a pé. É uma longa caminhada. Vamos pegar o que for preciso. Chamamos o guincho e o carro vai diretamente para a oficina.
- É fácil dizer isto, querida.
- São mais ou menos uns sete quilômetros. Não sei se prosseguiremos ou se voltaremos para a casa de mamãe.
- Se voltarmos, tem cachorro bravo perto da colina. Na fazenda do Doleiro. Eles estão na cidade e somente voltarão na segunda-feira, de madrugada. Vão à missa e hoje é o aniversário de uma das netas deles.
- Estamos encrencados.
Pegaram o que precisavam, trancaram o carro e seguiram caminhando rumo à cidade.
A noite estava muito quente. Não tinha lua cheia e eles também não tinham nenhuma lanterna. Iam sendo guiados por seus celulares, mas por falta de sorte, estavam quase todos descarregando. Não daria mais que cinco minutos e iam descarregar.
Em um dado momento, Maria disse:
- Benzinho, a noite é muito linda. Estamos ouvindo os grilos cantarem, os sapos estão fazendo um concerto sinfônico de grandes proporções. O céu está muito lindo. As estrelas brilham fortemente. Pode-se até tentar conta-las, mas seria um número infinito. O universo é muito bonito e misterioso.
- Benzinho, você conhece os casos do Zé, aquele escritor e poeta. Ele escreve muito sobre as belezas noturnas. Os mistérios das noites. As almas penadas e até suas pesquisas com seres do outro mundo: As luzes do Zé.
- Maria, pelo amor de Deus. Você sabe que eu tenho um pouco de medo. Tenho medo da noite e você logo vem com este papo desagradável: Luzes, naves espaciais, seres de outro planeta... que papo ruim. Vamos falar em outra coisa.
De repente, Maria para e não consegue andar. Suas pernas estão trêmulas e dizia que estava vendo duas luzes debaixo da árvore.
- Olhe, Benzinho. Ali, debaixo da árvore. Existem duas luzes se movimentando. Uma sobe a mais de dez metros de altura e a outra sobe mais rápido. Descem com uma rapidez enorme e estou com muito medo.
- Que pena Maria. Você foi pensar justamente nos contos do Zé. Viu...
- Elas estão vindo em nossa direção. Vamos correr...
Não deu outra. Os dois saíram correndo, no meio do escuro e chegaram rapidamente na cidade. Cada um estava mais assustado do que o outro. Não quiseram comentar com ninguém. Somente comentaram com o Zé, que imediatamente disse que eram naves extraterrestres em pesquisas noturnas. São palavras do Zé:
- As suas vidas vão mudar, após hoje. Vocês tiveram um contato, ainda que de longe, com uma espécie de civilização cósmica muito mais avançada do que nós. Nunca andem à noite, perto de serras ou rios, pois poderão ver coisas do outro mundo e até mesmo serem capturados para possíveis experiências.
A partir daquela noite, o casal somente anda durante o dia. Quando iam à fazenda, tinham o máximo de atenção ao horário para voltar cedo. Se fosse escurecer, dormiam na fazenda e retornavam no outro dia.