Lenda da Lamparina

A Lamparina acesa, cuja Lenda e relativamente recente do final do século XX, é uma lenda de aparição. Originária das viagens dos colonizadores da Transamazônica, quando saiam, de madrugada, a pé, para irem até Medicilândia no Pará.

Sem estrada, sem carro, sem animal, pessoas saiam em grupos para já amanhecerem na pequena vila. Na qual, faziam compras, consultavam nos postos de saúde, e principalmente levavam os filhos para vacinar.

Porem, conta a Lenda, que nessas viagens passaram a notar algo terrivelmente estranho. Assombroso.

Uma lamparina, acesa, caminhando pela estrada.

Atordoados, preocupados, com medo de sair de madrugada começaram a investigar de onde surgira a... Lamparina acesa que caminhava nas escuras madrugadas pelas longas vicinais...Foi quando remontaram a triste e assombrosa história da primeira família moradora de uma longínqua localidade.

Era 1969. A mata estava laqueada. Um verde negro cobria os troncos monstruosos e amarrados por cipós. A floresta densa escondia um solo roxo que tudo produzia e o solo cobria fios vivos de água. Por isso, famílias adentravam a selva para colonizá-lo sem saber dos contratempos.

Foi numa manhã de inverno chuvoso que dona Joana e o senhor Antônio, igual a muitas outras famílias rasgaram a mata e por lá se instalaram.

Ainda no primeiro inverno, como um bicho, pegado em casa, sem parteira, nasceu um menino. Menino grande. Comprido. Porém, raquítico. Desnutrido. Imune e desamparado de cidadania. Alma de sina penosa.

Mundinho já estava com seis meses de idade e só existia para seus pais. Sem registro. Sem vacinas. Sobrevivia, apenas, grudado no peito seco de sua mãe. Um dia o pai adoeceu. A mãe adoeceu. Mudinho adoeceu. A malária tomou conta da solitária ascendência.

Foram dias de vômito verde. De dolentes dores no corpo todo e em cada osso. De febre abrasadora. Até quando tomaram o último comprimido.

O dia estava a se findar. Fora da sutil barraca de palha, a noite se desmanchava em fortes trovões. Mas, era preciso buscar providencias para a enfermidade. Os corpos ardendo em fogo e as mentes delirantes se puseram a andar no caminho escorregadio de lamas e coberto pelo blecaute da noite.

Depois de quilômetros e mais quilômetros, beirava às quatro horas da madrugada, no alto de uma enorme ladeira o vento soprou violento apagando a lamparina que levavam escondida num suporte que a protegia do vento. Neste momento, Mundinho chegou a uma convulsão febril que passava dos 41 graus.

No desespero, a mãe chorava. O pai também. Mundinho deu o ultimo suspiro. Seu corpo queimando de febre pegou fogo e transformou-se numa lamparina. Seus olhos, em chamas.

Ainda hoje, a despojada alma de Mundinho, todas as madrugadas, transforma-se numa lamparina acesa e peregrina as estradas da Transamazônica até o dia amanhecer.

Lenda registrada por Sônia Aparecida Feiteiro Portugal

Sônia Portugal
Enviado por Sônia Portugal em 26/07/2018
Reeditado em 29/07/2018
Código do texto: T6400464
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