Pode me dar, eu quero
E eu não posso nem comer uma tapioca? Pera, o queijo pregou no céu da chapa, e agora? Valha, Deus, acho que quebrou a peça! Bem que o médico disse que eu passasse na farmácia e comprasse o tal do corega, mas a gastura de botar aquilo da boca...Ai, num paguei nem ainda a segunda prestação... Ele foi bem bonzinho, tinha dividido em seis parcelas de cento e cinquenta, e agora, taqui, pia, lascou em duas bandas. Apois, tanto sacrifício pra nada! Tanta banana engolida pra nada! Tanto cuidado de passar dois meses sem comer o tutano do osso pra nada! Quantas vezes injeitei de passar pra dentro os pés das galinhas pra não coisar essa bandida pra , agora, comendo uma tapioca com queijo, o diacho do queijo cismar em apregar no céu da chapa e torar-se! Homem, num ria não, veja a minha aflição! Já tou sentindo uma coisa aqui, acho que é a pressão que disparou.
Em pensar que enguiei tanto pra fazer essa maldita e ela me trair. Aquela ruma de gesso na boca, eu querendo provocar, o homemzinho gordo, os dedos inchados mandando eu aguentar só uma coisinha pra essa praga fazer isso comigo. Quebrada! Partida em duas bandas por causa de uma tapioca, oi pra ir, tem condição uma coisa dessa! Se eu tivesse continuado a tomar meu café preto com picanha, isso não teria me acontecido. Bem mais fácil de fazer, só misturar a farinha com água e sal, pronto, a bichinha já estava pronta... Mísera, visse, uma misera do cão dos infernos... Quem mandou eu ficar escancarando minha boca, rindo alto, se amostrando, inté mascando chiclete, agora tou aqui, banguela de novo, sem os dentes de cima. Será que aquela cola, em Zé, que cola tudo, que colou seus dedos outro dia, será que não dá jeito? Me ajude, homem, mais tarde é a procissão e o padre me convidou pra cantar lá na frente, vem inté a televisão, eu já me acostumei já a aparecer com os dentes, desdentada eu num vou nenhuma vez, votz, vou nada. E o espetinho depois da novena? Ria, desgraça, pode sorrir, tem nada não, depois num diga que num avisei... Pia, quero nem vê o espelho, vou nem passar meu batom hoje... Como? Eu peguei a chapa que tava dentro do caneco de alumínio, o mais grande... Ah? Você o que? Trocou os canecos para esfriar o leite? Depois colocou minha chapa no copo de vidro e colocou a sua no caneco de alumínio? Por isso que eu achei estranho, coloquei na boca e ela não encaixava, ficou folgada e eu falando embuluiado... Quebrei sua chapa, e agora, comé que tu vai pra salina sem dentes? Dê cá a minha pra cá, espritado, minha chapa né pra chafurdo não, comprei em seis vezes, paguei nem a segunda prestação ainda e tu fuma... Eu num tenho culpa de vocês ter mexido no que tava quieto, agora aguenta... Mas minha chapa, minha chapa eu quero de volta, pode me dar!!!
Marcus Vinicius