Maryula ouviu a carimbamba cantar: “amanhã eu vou... amanhã eu vou...amanhã eu vou... amanhã eu vou.” Curiosa, a menina adentrou a mata, e ao pisar o junco, na beira do brejo, a vegetação se abriu e a lagoa encantada apareceu. Maryula não voltou para casa. E até hoje, corre o boato, que uma velha encurvada, grasna, em noites de lua cheia, na lagoa que não é mais encantada.
— A menina se transformou numa velhinha mesmo, vovó?
— A velhinha faz parte da técnica utilizada pelo autor. Nas lendas e histórias infantis, as personagens não crescem, não envelhecem e não morrem. Até saem dos livros de ficção, e vão morar no mundo real.
Personagens saem dos livros como as esculturas de protagonistas do cristianismo, que vó retirava do oratório e levava para o presépio. As imagens iam adorar o Menino santo, em uma gruta improvisada no canto da sala. Era tão real. A vida, enfim, é uma representação da realidade desconhecida. Certamente, muitas vidas se perderam, outras enveredaram atalhos à procura do tesouro perdido. Mas, nunca encontraram a Ilha do Tesouro. Nunca encontraram.
— Se a ilha existe, hei de encontrá-la — disse a menina.
E navegou no mar da ideias. Sofreu angústia e medo, ao tecer com fios de aranha o enredo da obra que escrevia. Acudiu-lhe, no entanto, o Bruxo do Cosme Velho, sugerindo que começasse a peça pelo fim. Entrasse logo no ápice, e atingisse a culminância nos primeiros momentos: “Deve-se contar tudo no primeiro ato...” Ravenala discordou. Preferiu abrir a torneira e soltar água aos poucos, para que uma formiga não fosse arrastada pelo tsunami e a história terminasse ali. Ela entendeu que deve tecer a ficção com fiapos da realidade. Por isso, quase tudo que contava para Maria Emília, era verdade: ou aconteceu, ou vai acontecer. Pois, a ficção avança os muros da realidade ou a realidade penetra o labirinto da ficção e já não se sabe mais onde termina uma e começa a outra. Enfim, o que hoje é ficção, amanhã pode ser realidade.
***
Adalberto Lima, trecho de "Estrada sem fim...)
Adalberto Lima, Foto do Monumento da lenda do Piauí, Cabeça de Cuia.
Contato com o autor: adalbertolimapoetadedeus@gmail.com
— A menina se transformou numa velhinha mesmo, vovó?
— A velhinha faz parte da técnica utilizada pelo autor. Nas lendas e histórias infantis, as personagens não crescem, não envelhecem e não morrem. Até saem dos livros de ficção, e vão morar no mundo real.
Personagens saem dos livros como as esculturas de protagonistas do cristianismo, que vó retirava do oratório e levava para o presépio. As imagens iam adorar o Menino santo, em uma gruta improvisada no canto da sala. Era tão real. A vida, enfim, é uma representação da realidade desconhecida. Certamente, muitas vidas se perderam, outras enveredaram atalhos à procura do tesouro perdido. Mas, nunca encontraram a Ilha do Tesouro. Nunca encontraram.
— Se a ilha existe, hei de encontrá-la — disse a menina.
E navegou no mar da ideias. Sofreu angústia e medo, ao tecer com fios de aranha o enredo da obra que escrevia. Acudiu-lhe, no entanto, o Bruxo do Cosme Velho, sugerindo que começasse a peça pelo fim. Entrasse logo no ápice, e atingisse a culminância nos primeiros momentos: “Deve-se contar tudo no primeiro ato...” Ravenala discordou. Preferiu abrir a torneira e soltar água aos poucos, para que uma formiga não fosse arrastada pelo tsunami e a história terminasse ali. Ela entendeu que deve tecer a ficção com fiapos da realidade. Por isso, quase tudo que contava para Maria Emília, era verdade: ou aconteceu, ou vai acontecer. Pois, a ficção avança os muros da realidade ou a realidade penetra o labirinto da ficção e já não se sabe mais onde termina uma e começa a outra. Enfim, o que hoje é ficção, amanhã pode ser realidade.
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Adalberto Lima, trecho de "Estrada sem fim...)
Adalberto Lima, Foto do Monumento da lenda do Piauí, Cabeça de Cuia.
Contato com o autor: adalbertolimapoetadedeus@gmail.com