Uma luz misteriosa

Em uma cidade bem pequena, um pouco maior que um pequeno povoado, localizada abaixo de uma grande serra, onde os sinais de televisão e de telefone eram repetidos lá no alto da montanha, aconteceu um fato misterioso.

No período da quaresma, logo após a quarta-feira de cinzas, às quartas e sextas-feiras deste período, uma luz misteriosa brilhava por um período de cinco ou seis horas. Era um mistério. Ninguém se aventura subir até aquele lugar e verificar do que se tratava.

João Francisco, mais conhecido por “Açougueiro” dizia ser muito corajoso e certa vez encheu-se de coragem e foi até lá, porém o medo falou-lhe mais forte e desistiu de ir até o alto da montanha.

Na próxima sexta-feira ao acontecido, a luz voltou a brilhar com mais intensidade e as pessoas continuavam a conviver com aquele medo e a cada dia um novo comentário surgia pela cidade.

Impossível de acreditar, mas a cada momento alguém queria desvendar, porém o medo tornava a cidade mais fechada, mais dependente de uma pessoa valente que pretendia desvendar aquele mistério.

Uma nova lua cheia aparecia e a luz sempre brilhava nos dias previstos.

O padre paroquial queria desvendar o mistério, mas faltava-lhe coragem e sempre, quando celebrava a missa, em suas homilias, dizia que precisa muito resolver o mistério, mas não encontrava o ápice exato para ver o que poderia ser. Seria uma luz qualquer, um emaranhado de fogo, uma fogueira feita por algum casal de namorados no lugar ermo, olhando para o céu noturno, em época de penitência.

O plantonista do hospital disse que por volta das vinte e três horas, daquela sexta-feira, a luz era forte, porém ia enfraquecendo e vários piscados eram vistos. Ficou ele com medo e se reclusou em seu posto de trabalho com muito medo. Neste momento, ele pesquisou na internet e leu alguns textos sobre objetos voadores não identificados. Mais medo ficou, que fez uma carta ao prefeito que não daria mais plantões nos dias em que as luzes eram vistas.

Para a escola era difícil. Os alunos não queriam frequentá-la com medo da luz. O professor de Geografia disse que seria melhor ter as aulas durante o dia. Quando chegava por volta das vinte horas, eles ficavam desinquietos e pediam para sair. Estava ficando difícil.

Muito estranho estava o chefe do destacamento policial. A polícia era a maior confiança da população. Nos momentos de aparecimento da referida luz, os policiais de plantão não atendiam os telefones, porque eram as chamadas para que eles fossem verificar o que acontecia na montanha. Geralmente, não iam, porque se fosse uma nave alienígena e eles fossem raptados, como ficaria a segurança na cidade. Imagine se eles fossem abduzidos e retornassem somente na segunda-feira, eles receberiam uma grande chacota de seus colegas. Muitas piadinhas iriam rolar. O caso estava ficando cada vez mais difícil.

O vigário local queria relatar ao bispo diocesano, porém o prefeito o aconselhou a não dizer, porque ficaria muito ruim a imagem dos dois para com os moradores da cidade. Pensaram em fazer uma visita ao local no dia seguinte. Iam de manhã. Quando aproximaram do local, os quatro pneus do veículo furaram e os dois desceram montanha a baixo correndo. O prefeito caiu e quebrou o braço.

Na última sexta-feira da quaresma, todos estavam dispostos a ver o que se tratava, contudo, um grande temporal formou na cidade e muita chuva ali caiu. A luz não foi vista. Muitos trovões e vários relâmpagos foram vistos e aos poucos algum piscado da luz ia misturando com os clarões dos relâmpagos.

Dona Mariinha, uma senhora de mais de oitenta anos, pegou um enorme resfriado na noite da chuva, porque ficou o tempo todo olhando para a montanha e queria ver qual seria o procedimento da misteriosa e estranha luz.

O caminhoneiro Jorge, ao saber dos acontecimentos que estavam passando em sua cidade, nesta noite de chuva e tempestade, preferiu pernoitar na cidade vizinha, sendo outra vítima do medo e do pavor.

O fato era tão grande, que até mesmo foi convidada a equipe de reportagem de televisão. Chegando lá, por volta das oito horas, não achou ninguém para acompanhá-la. Desistiu e foi embora.

As páginas do jornal local eram impressas com a seguinte manchete: O que tem de mistério na luz da montanha.

Chegou a festa da semana santa. A festa era muito tradicional, mas as pessoas iam com muito medo. Era uma luz forte, com um brilho muito intenso e sempre via os seus piscados. Não sabiam as pessoas do acontecido, mas era normal o que se passava. Iam-se acostumando, porém, o medo era constante.

Quem não tinha medo daquilo. Alguns grupos de investigação de fenômenos paranormais e pesquisadores de UFOS foram convidados para desvendar o segredo das luzes, mas não tiveram êxitos, porque não foram vistas as luzes nos períodos em que eles estiveram no local.

Tudo estava ainda perdido. O prefeito e seus assessores queriam desvendar tudo. O padre pensava que era algo sobrenatural, mas não comentava nada nas missas que celebrava. Alguns pastores de outras religiões concordavam com o padre local, mas evitavam de comentar porque não lhes cabia a análise daquele acontecimento.

Certo dia, houve um acidente automobilístico próximo à cidade. O condutor, por nome de Pedro, militar aposentado, ficou gravemente ferido e esteve internado no hospital por muitos dias. Por seu médico foi recomendado para não dirigir mais.

No próximo ano, não foram mais vistas as luzes na serra. Em conversa com um investigador de UFO, Pedro contou-lhe que era ele próprio, que nas noites de quaresma e semana santa, subia até a montanha, com sua camionete e vários refletores, fazendo uma encenação de mistério e fazendo medo na população daquela cidade.

JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO
Enviado por JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO em 26/05/2018
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