O ESPINHO DE JUAZEIRO
O ESPINHO DE JUAZEIRO
Era um dia de sábado para domingo, na verdade já uma fria madrugada de domingo. Seu João olhou para o relógio de algibeira que marcava três da madrugada. Seu João acordara mais cedo do que o horário de costume porque marcara uma caçada de pebas que, para quem não conhece é irmão gêmeo do tatu ou o próprio tatu como é chamado no Ceará. Lavou o rosto, escovou os dentes com casca de juazeiro, pois naquela época somente os ricos ou arranjados usavam pasta dentifrícia , que era artigo de luxo. Pois bem, como dizia o grande advogado Paulo Brossard, seu João apressou-se . João Caratita, seu amigo com quem ia caçar chegaria dentro de meia hora.Arrumou a foice que afiou na pedra de amolar. a enxada e o abornal para guardar alguns apetrechos de caça. Fez ele próprio o café para não acordar sua mulher, colocou no bule e foi dar a comida do cachorro Tubarão que iria para farejar os pebas. Era um cachorro famoso na região, uma vez que farejava um peba A 500 METROS DE DISTÂNCIA, assim dizia seu João;
Neste ínterim chega João Caratita. Os dois aproveitaram e foram comer o desjejum com carne seca, farinha, café e tapioca.Depois de abastecerem a pança ( que significa barriga pessoal ) foram relembrar os itens necessários. Não estava faltando nada. Colocaram a corda no pescoço de Tubarão (pobre naquele tempo não tinha dinheiro pra comprar coleira de cachorro)_ e marcharam para o serrote do Tibiro que distava 5 km da cidade. Engolariam a distância em uma hora, no máximo. Marcharam e conversando sobre a caçada e coisas do cotidiano chegaram realmente no serrote no tempo calculado. Tiraram a coleira de corda do Tubarão que já ficou farejando e entraram no mato fechado do serrote. Andaram uns duzentos metros, ainda estava escuro, quando ouviram uma voz fanhosa dizendo: ai João, ai João. Pararam de chofre e seu João Quebra Queixo falou.
- Compadre João Caratita, que voz esquisita e fanhosa. João Caratita que já estava com os cabelos arrepiados disse :
- EPA compadre João Quebra Queixo isso parece coisa de alma penada e o cachorro está de orelha em pé.
Mas seu João, cabra macho que era, puxou a faca de ponta, quebrou o chapéu na testa e convidou João Caratita pra ver que assombração era aquela. Caratita seguiu atrás de seu João, pé ante pé, olhando para todos os lados, vendendo medo por um tostão. Seu João grunhiu e falou: Caratita, cabra frouxo, não vá se borrar Pararam na entrada de uma clareira. Apuraram a vista para a direção da voz. Como ainda estava escuro demoraram a avistar um passarinho joão de barro com uma peixeira de 12 polegadas debaixo da asa, tentando tirar um espinho de juazeiro do pé de um papagaio que a cada estocada gritava, ai João, ai João tá doendo.
Como todos sabem Quebra Queixo contava suas estórias no mercado público da cidade, Como todos gostavam das aventuras de Quebra Queixo era um piscar de olhos para juntar duzentas pessoas. Era mais rápido do que em comício de político que prometia dentaduras e fazer açudes no município. Neste meio do populacho estava sempre o Zé Capote, um fã de seu João, que interveio, desta vez. com, umas cachaças na cabeça e, portanto, mais atrevido disse nas barbas de seu ídolo.
-Seu João o senhor me "adesculpe" mas isso é mentira. Um papagaio falar tudo muito bem, mas um passarinho pequeno como o João de barro segurar uma faca debaixo da asa, que já é coisa estranha, e uma faca de 12 polegadas é coisa muto cabeluda .
Seu João nem falou tamanha foi a surpresa e num gesto rápido sentou os cinco dedos da manopla direita no pé do ouvido do Zé Capota que ele caiu dormindo a três metros de distância talvez ouvindo o João de barro cantando no seu ouvido.
Seu João bufando como um touro "brabo" gritou, quem achou ruim corra dentro que agora é na base da lambedeira (lambedeira é faca pessoal). Quem era doido pra aceitar aquele desafio .