Zé Dadão, o opinioso

José Dadão, pai do saudoso Paisoca, era comerciante na Rua Senador Georgino Avelino – onde funciona (ou funcionou) a loja de Didi, irmão de Maré Mansa.

O seu produto “chef” era o querosene, derivado do petróleo, que naquela época era muito utilizado em lampiões, geladeiras e fogões.

Zé Dadão, homem simples e honesto, era muito metódico e opinioso.

Contam que certa vez, ao vender um litro de querosene, recebeu a reclamação da cliente pelo fato de o litro não estar completamente cheio, ou como diziam na época, cheio até o gargalo.

Zé Dadão não se afobou: pegou a garrafa de volta, colocou o funil e abriu a torneira, deixando o líquido combustível cair até sobejar. E o querosene derramava tanto, que chegou a descer pelo beco afora.

A cliente, diante do despropósito, berrava:

- Seu Zé! Está derramando...

- Não! Deixe encher, deixe encher, dona!

Certa vez, Zé Dadão pediu a um transeunte, fósforo para acender um cigarro. Recebeu em resposta um desaforo.

Nunca mais seria apanhado de calças curtas - disse. Prafrentemente – no dizer do personagem da novela “o bem amado”, Odorico Paraguaçu – sempre andaria com uma caixa de fósforos no bolso.

Quando uma das testemunhas da sua inusitada promessa o viu de calção, a banhar-se no Açude do Alívio, logo pensou: é agora que eu pego o velho Zé Dadão.

- Seu Zé! O senhor tem fósforo para me emprestar?

- Tenho sim, meu filho – disse já dentro do açude e mostrando o fósforo molhado.

Dizem, também, que certa vez, ao sair do seu comércio de produtos derivados do petróleo, com o macacão usado para trabalhar, dirigiu-se à barbearia de Afonso Ribeiro para cortar o cabelo e fazer a barba.

Afonso informou-o da inconveniência de atendê-lo, assim, vestido do macacão com o qual costumava trabalhar e manipular produtos derivados do petróleo. E explicou que os panos que forravam a cadeira eram muito brancos e limpos e que o macacão, sujo de óleo e de graxa...

Zé Dadão não contou conversa, levantou-se e, silente, saiu.

Não demorou muito, e Zé Dadão volta à barbearia. Desta vez, banhado e perfumoso, bem penteado, vestido à rigor: de paletó e gravata, sapatos “galo de campina”. Impecável.

Ao ver Zé Dadão em trajes de gala, Afonso Barbeiro ficou meio sem jeito, sem saber o que dizer.

- Mas seu Zé! Também não precisava de tanto. Bastava...

- Não! Seu Afonso. Precisava sim senhor.

Afonso Barbeiro segurou a cadeira, espanou-a e estirou os braços, ofertando a cadeira ao ilustre cliente, que se senta, confortavelmente. Mas, logo em seguida levanta-se, incontinente, enquanto Afonso Barbeiro caminha em sua direção portando uma bata branca já aberta para abrigá-lo.

- Não, Afonso! Agora quem não quer cortar o cabelo e fazer a barba sou eu. Sua cadeira vai sujar a minha roupa.

- Adeus.

DJAHY LIMA
Enviado por DJAHY LIMA em 14/05/2018
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