Medo e frio

O mês de junho é muito frio, principalmente em áreas mais baixas, ou seja, perto de córregos, várzeas, brejos e pés de montanhas. Tudo isto não impediu que André e Pedro bolassem um plano infalível: Queriam passar um grande susto no podre do Joaquim.

Joaquim era um sujeito alto, muito magro. Gostava ele de fazer suas cavalgadas à noite, porque sempre apreciava as estrelas, a lua e outras paisagens noturnas. Seu sonho era estar ali, quase toda noite para descansar. Era médico no hospital da cidade, porém tinha um certo medo de fantasmas. Queria ele acreditar, mas seu inconsciente sempre lhe dizia que estava acompanhado de algo perto da colina, logo abaixo de areado, onde o alagamento do rio jogava água na várzea e existia um pequeno brejo.

Naquela noite, André e Pedro arquitetaram um plano. Eles ficariam perto da colina, no ponto mais alto. Iam montados em seus cavalos. De um lado, ou seja, do lado direito da estrada por onde passaria o Dr. Joaquim, cavalgando em seu cavalo puro sangue de cor preta, alto, de raça manga larga, e do outro lado ficaria o outro. Manteriam os cavalos parados, totalmente imóveis e seriam cobertos por um pano bem branco, semelhante às fantasias colocadas nos cavalos nas épocas medievais.

No decorrer do dia, André esteve no consultório do Dr. Joaquim para uma conversa rotineira, mas com o intuito de verificar se ele iria cavalgar naquela noite. Era difícil dizer o horário de cavalgada, porque o médico estava com sua agenda cheia e ele era muito imprevisível. Saiu com uma probabilidade de noventa e cinco por cento do passeio noturno do médico.

Por volta das vinte horas, o consultório foi esvaziado e ele, bastante cansado, ligou para o empregado de sua fazenda para fazer os preparativos e arreamento de seu cavalo de nome Vampiro.

Era o momento perfeito de passarem o susto nele. Então, com todo o empenho possível, prepararam todo o material e foram para o alto da colina, onde o cavalgante passaria todo feliz, após um dia repleto de trabalho, muitas consultas, muitas pessoas com vários problemas de saúde e algumas cirurgias.

Por volta das vinte e uma horas, Joaquim montou em seu lindo cavalo, vestindo suas roupas de cavalgada, um chapéu, botas e luvas, porque a noite estava fria e mais fria ficava a cavalgada rio a acima e voltando rio a baixo.

A noite estava escura e muito fria. Um forte vento soprava por sobre as árvores, fazendo com que os galhos balançassem e criando um cenário de horror, semelhante aos filmes de vampiros, de zumbis e de outros personagens fantásticos do medo.

Joaquim cavalgava despreocupado, mas no fundo de seu coração e em sua cabeça de ser humano, algo estava errado consigo. Não somente consigo, mas seu cavalo não estava muito bom. Tropeçava muito e de vez em quando parava e não queria seguir. Tinha algo errado naquele momento. Pensou em voltar, mas a noite estava bonita. As estrelas brilhavam mais e o número delas era infinito para a visão humana. Voltar para a fazenda, naquele momento, era muito ruim, porque seu empregado da fazenda buscou o cavalo no pasto, fez os preparativos para que ele pudesse fazer aquele lindo passeio. Mais uma vez pensou em voltar, mas olhando pelas belezas naturais noturnas, seu coração optou por continuar. O dia seguinte seria muito agitado, com várias cirurgias pela manhã, consultas à tarde e participaria de um congresso de cinco dias na cidade de São Paulo. Então, poderia fazer o passeio e somente voltaria na semana seguinte. Voltar, seria difícil.

Pensou várias vezes em voltar, mas resolveu prosseguir olhando para as estrelas, apreciando a noite, escutando o vento nas árvores e descansando do trabalho árduo.

No alto da colina, estavam seus dois amigos, com seus cavalos e eles todos cobertos por um pano branco e prontos para fazer medo em Joaquim.

Joaquim cavalgava tranquilamente, mas sua placidez ia diminuindo quando passava pela colina. Seu cavalo começava a ficar desinquieto. O frio estava intensificando e seus cabelos começavam a eriçar. O medo e o pavor de passar naquele lugar eram intensos, contudo a felicidade de cavalgar pela noite era seu grande prazer.

Quando avançava pela colina, lá do alto, Joaquim viu aquelas quatro sinistras figuras, todas de cor branca, movimentando de um lado para o outro. Seu pavor e sua ira tomada pelo medo foram mais forte e Joaquim caiu do cavalo, começou a gritar, a pedir socorro. Seu cavalo saiu correndo de volta para a fazenda, enquanto os dois amigos se divertiam colina a cima.

Chegando o cavalo de Joaquim, sem ele está montado, o empregado foi procurá-lo e o encontrando, um pouco ferido, mas com saúde e nenhum ferimento grave.

No outro dia, pela manhã, os dois foram dizer a Joaquim que lhe passaram um susto, porém, Joaquim, com sua calma toda, disse que vira não somente os dois, mas tinha visto quatro seres bem perto dos dois, ao passo que os dois diziam que eram somente eles no alto da colina.

JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO
Enviado por JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO em 03/05/2018
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