Pedro

Eu fui como sempre vou, na vagareza das palavras, como sempre vou, no caminho de qualquer coisa a escorrer doce, meu suor doce e magoado e parei. Parei e vi que de perto todo mundo tá um tantinho torto, desajeitado.

Até quem mãe pensava ser santo, entortou. E eu? Poderia eu esperar menos de mim? Coisa que nunca pensei acontecer?

Outro dia, Pedro, se aproximou. Ser este que eu só conhecia de fama e beleza pelas línguas açaimadas das mulatas ouriçadas, de olhos arregalados por qualquer passante. Um susto eu tomei quando moça antiga veio me dizer: Vou trazer Pedro pra aprender ofício com você. Quase pra trás meu corpo se foi num desmaio simulado e tremulas mãos quando de relance meus olhos acompanharam tamanha criatura a me cumprimentar: Olá, boa tarde! Sou Pedro.

As moças da vizinhança começaram a ajeitar suas roupas esticando as barras das saias sobressaindo os decotes e os cabelos a enrolar e as bochechas apertar pra mais vermelhas ficar. Eu, emudecida por três segundos e gaga pelo resto da tarde me apresentei. Pedro riu-se do meu jeito sem jeito, mas continuou a admirar a coragem que eu fingia ter.

As moças da vizinhança aperceberam que: a conversa ia se aprumando, Pedro em meus olhos olhando, e eu com receio de o mesmo fazer tinha um olho no padre e outro na missa. No primeiro riso, entre Pedro e eu, um murmurinho se estabeleceu na vila, uma inveja foi enovelando e o que antes era riso pelo mais belo estar perto do nada antes admirado, agora era vontade de em meu lugar estar... Depois de ponteiros de todos os tamanhos atravessarem relógio, Pedro se despediu. Segurou em minhas mãos e disse: Admiração por ti tenho, amanha neste mesmo horário voltarei a ver-te, certa esteja do que acabo de prometeste.