Purdença
A coruja piou
na estrada da Benzedeira Purdença
Um galho de arruda
espantou o mau agouro
e a reza trouxe a benção.
A espinhela caída levantou
O mau-olhado se fechou
A hérnia do umbigo esvaziou
O peso no corpo levitou
O quebranto se quebrou.
A seriema gargalhou
na estrada da Benzedeira Purdença.
Todo mundo na redondeza
escutou aquele grito.
E quem viu a correria do bicho
disse que ela levava uma cobra
presa na ponta do bico
e que seria a mesma jararaca
que havia picado o Benedito.
O dito cujo
cuja alcunha era Dito
suava como uma mula,
berrava feito um cabrito.
Mas o galho de arruda
foi passando por seu corpo
e a reza da Benzedeira
um murmuro hora agudo
noutra hora muito rouco
extraiu do Dito o veneno
e ele foi salvo por pouco.
E ali perto de tardinha,
a partir daquele dia,
a Seriema dá a sua gargalha
empoleirada num toco.