Um momento sem energia elétrica

Ananias era um criador de gado bovino direcionado à produção de leite. Possuía ele umas vinte vacas em fase de produção leiteira. A produção era de mais ou menos uns quinhentos litros de leite por dia. Com chuva, com vento, com frio e com calor, Ananias não perdia nem um momento para estar com suas lindas e preciosas vacas. Um lembrete muito importante, suas vacas eram todas nomeadas. Tinha a Judite, a Maria Vai Com as Outras, a Tonica, a Madalena, enfim, todas, uma por uma, tinha seu próprio nome.

A tarde estava quente, mas algumas nuvens anunciavam que uma grande tempestade cairia em poucos minutos.

Ananias, muito apressado, chegou perto de seu ajudante e disse:

- Heitor, olhe para o lado do rio. Aquelas nuvens vão trazer um grande temporal. Vamos abreviar a retirada do leite, porque vai ventar muito e provavelmente faltará energia. Sem energia, teremos que retirar o leite à mão.

- Patrão, eu estou pronto.

Heitor disse isto com uma cara de riso, porque sabia que Ananias era muito medroso. Tinha medo de tudo. Se desse um relâmpago mais forte, ele tremia da cabeça aos pés e corria. Entrava pelo quarto, deitava na cama de bota e tudo. Cobria a cabeça e ficava por lá até que as tempestades acabassem.

Em outro dia, ele foi visitar seus parentes na cidade de Varginha – MG e passou um aperto. Seu susto foi grande que ele se escondeu debaixo da cama do cunhado. Ficaram meia hora o procurando, porém o acharam todo encolhido e com lágrimas no rosto. Chorou de medo.

Uma vaca entra, outra vaca sai do curral. A tarefa estava árdua, mas os dois eram potencialmente bons e a produção estava dando sinais de finalização.

Por volta das dezoito horas, faltava somente a Maria para finalizar. Ananias, já preocupado, constantemente olhava para o horizonte e via vários clarões, mas os barulhos de trovões ainda eram poucos. Ficava calado e Heitor sempre o perguntava o que estava acontecendo. Seu humor foi acabando quando um enorme clarão passou por sobre o curral. Ananias não teve outra alternativa a não ser correr muito apressado para a casa. Não foi para sua casa, mas saiu apressado e entrou na casa de Heitor. Foi logo deitando na cama do filho dele, que se encontrava de férias em outra cidade. Enrolou no cobertor e ficou ali bem quieto, sem se mexer, mas o medo era muito que até a respiração era pouca.

Heitor terminou de coletar o leite da vaca Maria. Olhava a todo instante para o horizonte e somente enxergava sinais de relâmpago. O barulho de trovão não saia e não ser em pouca vibração. Tinha algo errado naquela situação. O clarão visto no céu era um pouco diferente de luzes de relâmpagos.

Já cansado, Heitor terminou os afazeres e saiu em direção à sua casa. Chegando lá, sua esposa falou que Ananias adentrou pela porta e foi deitar no quarto do filho. Perguntou se ele estava bem, pois sua aparência era muito estranha. Parecia que havia se assustado com algo diferente, nem mesmo sabendo o que poderia ser. Seria um susto por ter visto algo contrário de sua aparência, porque Ananias quando ia à casa de Heitor era completamente diferente. Primeiro declamava um verso para a esposa de Heitor. Depois dava um forte abraço nela, porque ela era sua madrinha de batismo e Ananias tinha um carinho todo especial por ela. Chamava-se Rosa e Ananias lhe chamava de Tia Rosa.

A noite chegou rapidamente. Heitor, meio desconfiado do que tinha acontecido, foi até o quarto para ver se Ananias estava bem. Ao chegar, percebeu que seu patrão estava muito quieto, mas respirava normalmente e até roncava. Era sinal de que ele não tinha nada de anormal com sua saúde. Era, ou poderia ser, problemas de medo de trovão e consequentemente de tempestade.

Neste momento estava tudo certo, mas uma enorme pancada de som foi ouvida por eles. Era um barulho monstruoso, não parecia nada com barulho de trovão. O som era meio seco, não ecoava e um enorme clarão surgiu por uns dois ou três segundos.

A noite cobria tudo e agora era somente barulho de trovão e água caindo no chão.

Ananias tremia na cama, mas Heitor, como sempre, aproximou-se dele e disse para não ter medo, porque ele estava no lugar seguro.

- Não entre em pânico, amigo, porque seu velho está aqui para lhe proteger. Vamos comer alguma coisa e dormir, porque amanhã é dia do caminhão de leite passar e temos que esvaziar o tanquinho. Não sei se ele virá até aqui por causa do barro, mas a noite será curta.

Meio cismado, Ananias aceitou o convite do amigo. Tomou banho, jantou e por algumas horas ficaram os três ali conversando. Quando sentia um relâmpago, Ananias retorcia todo, mas ficava de pé e com uma enorme convicção de que nada poderia lhe acontecer.

O tempo foi passando e Tia Rosa contava suas estórias de criança. Como conheceu seu marido, sua família, seus filhos e até mesmo causos de assombrações. Ananias, ali atento, ouvia e por certas vezes sorria, mas ainda estava muito tenso com o que estava acontecendo.

Por volta das dez e meia da noite, resolveram dormir. Ananias não quis ir para a sede da fazenda, preferindo ficar ali, junto de seus amigos.

A cama já estava pronta e todos foram deitar.

A chuva continuava bem forte, fazendo com que a casa ficasse sem energia. Era uma escuridão muito grande. Nem mesmo o lampião estava aceso, pois não o encontrara. Já deitados, o casal Heitor e Tia Rosa dormiram.

Por um momento, Ananias dormiu. Sonhou com suas vacas e que estava no curral, quando aparecerem três sujeitos muito estranhos. O primeiro era muito loiro. Media uns dois metros e meio. Seu rosto era bem diferente das pessoas que Ananias conhecia. O detalhe era a forma do rosto deles. Não tinha muita semelhança com rostos humanos. Parecia meio homem, meio máquina. Os dois seguintes tinham as mesmas características do primeiro, mas os cabelos eram longos e assemelhavam-se a mulheres, mas também com fisionomias diferentes. Muito estranho.

Ananias ficou impressionado com o tratamento do trio. Entraram em seu quarto, puseram-no de pé, colocaram-lhe vários aparelhos mais parecidos com lâminas de vidro, alguns fios brancos e transparentes. Ananias via tudo o que se passava, mas não tinha força de escapar. Seus braços foram apertados, sua boca foi aberta e aqueles fios foram descendo por sua garganta. Ele não sentia nada, a não ser uma vontade de rir, pois aqueles transparentes fios faziam-lhe uma cosquinha e sua vontade era de sorrir e sorrir muito.

Com mais de duas horas sobre aquele martírio, Ananias foi abraçado pelos dois seres de cabelos brancos. Ele adormeceu e somente acordou no outro dia. Acordou às dez horas da manhã, com uma forte dor de cabeça, com náusea e em seu corpo estavam várias marcas. Seus braços ficaram queimados e algumas pintinhas vermelhas foram detectadas por vários anos.

JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO
Enviado por JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO em 22/04/2018
Código do texto: T6315948
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