Os caçadores de ouro

Marcos e João eram dois amigos desde suas infâncias. Gostavam muito de pescar, de caçar tatu, de fazer serenatas para namoradas de quem os contratasse. Eram tímidos, mas sempre estavam juntos em todos os locais, sejam eles festivos, sejam eles tristes.

No ano de 1972, no auge da conquista da copa do mundo pela seleção brasileira, Marcos teve uma grande ideia. Sua ideia era meio sinistra, mas as pessoas têm certos tipos de ideias que jamais conseguem esquecer. Sua grande ideia era procurar por uma caixa cheia de ouro, prata, joias e outras formas de riqueza. Queria ele trabalhar, mas não trabalhar tanto, porque o seu plano era muito bom: Achar as joias e ficar rico. Compraria uma propriedade de terra e trabalharia ali, em conjunto com seu grande amigo, caso ele quisesse.

- João, fiquei sabendo que na Fazenda Ferreiras, lá no lugarejo de mesmo nome, tem ouro e muitas joias escondidas. O pai do Pedro me falou. Ele me disse que tem muita assombração. Se você quiser, amanhã partiremos para lá. Não conte para ninguém, nem mesmo para seu próprio pai.

- Você está de acordo?

- Claro que estou. Imagine encontrarmos uma grande panela de ouro, de prata e alguma coisa valiosa?

- É verdade. Vou vender a minha parte e comprar meu pedacinho de terra. Vamos fazer a sociedade. Venderemos nós dois juntos e compramos uma fazenda. Trabalharemos juntos e ficaremos ricos.

Desta forma, os dois saíram juntos. Felizes por terem uma linda e abençoada amizade e mais contentes em saber que o tesouro estaria perto, bastariam eles cavar, bater em paredes, procurar dentro dos portais e até verificar no porão.

O dono desta fazenda, onde a dupla iria procurar o tesouro, era um senhor viúvo, sem filhos e sem parentes. Tinha mais ou menos uns oitenta e nove anos. A fazenda estava abandonada e somente o pai de Marcos que tomava conta dali. Recebia por seus serviços e plantava sua lavoura de milho, feijão, verduras e se aventurava tirar um pouco de leite para produção de queijo. Não era muito, mas conseguia sustentar sua pequena família de três pessoas: ele, a esposa e Marcos.

A dupla João e Marcos era de pouca idade. Tinha cada um doze anos e já sonhavam em conquistar a própria independência com a busca do ouro. Tomé era o nome do pai de Marcos.

Quando eles chegaram à fazenda, viram Tomé terminando o serviço. Já cansado e com uma pequena dor de cabeça, Tomé disse que iria embora e eles também. Marcos implorou que queria ficar ali naquela noite.

- Meninos, com uma forte voz, Tomé disse que era muito perigoso eles passarem a noite ali. Contou-se que a fazenda era assombrada e alguns fantasmas passavam aqui e vocês não conseguirão permanecer, pois cada de vocês é mais medroso do que o outro.

- Não, pai. Nós não temos medo. Ontem fomos ao catecismo e o padre disse que não existe medo, porque estamos abençoado e queremos ficar aqui. Amanhã é sábado. Não tem escola. A noite está muito bonita e podemos até pescar. Os cães nos conhecem e podemos até achar algum tatu.

De tanto insistir, Tomé os deixou ficar ali, mas foi para a cidade com um certo receio dos dois. Temia por violência de roubo, mas os cães eram muito bravos e qualquer sinal eles mesmos correriam. Pensou em falar com as mães dos meninos, mas ficou temendo que elas não concordariam. Já é tarde e vou falar que eles foram fazer uma serenata e depois iam caçar tatu. Com passos fortes, em um piscar de olhos, ele chegou em sua casa. Era uma simples casa para aquele ano. O Jornal Nacional exibia algumas notícias sobre o governo. Era também ano de olimpíadas e os brasileiros estavam empolgados com um ótimo resultado do Brasil.

Joana, os meninos ficaram na fazenda. Eles irão fazer uma serenata e depois, caçar tatu, disse em voz baixa, mas sabia que sua esposa iria dizer algo de preocupação.

- Como você deixou. Cada qual morre de medo. Eles têm medo da própria sombra. Tome banho, jante e volte para ficar com eles. Se você não o fizer, vou eu mesma.

Com estas fortes palavras, Joana, a mãe de Marcos, disse e não deu tempo para as explicações de Tomé.

Felizes da vida, a dupla Marcos e João começavam a executar seu plano. Buscaram duas enxadas no paiol, uma picareta, uma boa iluminação de lampião, duas pás e iniciaram a caçada. Em todos os portais, ouviam-se as marteladas de cada um e suas vozes ainda inocentes dizendo:

- Este não está oco, nem este. Este tem um pouco de som oco, mas é pequeno e não cabe nem uma pedra de ouro.

Assim, por algumas horas, perduraram a procura deles pelo tão sonhado tesouro. Era noite e por volta das vinte e duas horas, eles ouviram um forte clarão distante do curral. Com uma luz forte, via-se alguma vaca deitada sobre a palhada. Estava meio frio, era mês de abril e o vento era fraco, mas um pouco frio.

- O que foi aquela luz lá fora?

- Não sei não, Marcos. Será que é o dono do ouro vindo buscar e, se encontrar primeiro do que nós, acabou-se o nosso sonho.

- Vamos, Marcos, não vamos olhar para aquilo. Ainda falta muito para procurar. Às vezes está aqui, bem perto de nós e não vamos olhar lá fora não.

Sem nenhuma maldade no pensamento deles, continuaram a labuta. Já estavam suados e por algumas vezes o vento apagava a luz do lampião. Ainda bem que eles tinham um isqueiro e não foram poucas as vezes que acenderam o lampião.

Tomé tomou banho, jantou e ficou de cabeça baixa pensando o porquê dos meninos em ficar na fazenda. Não era normal a permanência deles lá. Marcos jamais gostava dali. Um dia ele chegou da escola dizendo que haviam aparecido umas luzes de várias cores na fazenda. Em outro dia era uma luz muito forte, de cor amarela, com um certo chiado e diziam ser a mãe do ouro. Outro dia, foram várias luzes e um bezerro da fazenda tinha desaparecido. Foi encontrado do outro lado do córrego e estava cheio de marcas diferentes. A polícia disse que foi lobo ou onça que matou o bezerro.

Tomé ficou parado por um instante. Ele se demonstrava preocupado com aquela situação. Não era normal. O que eles estariam fazendo ali, sozinhos, somente os dois de doze anos cada um. Eram duas crianças em um lugar ermo, sem vizinhos, escuro e uma mata fechada. Poderia aparecer um onça, um lobo... qualquer coisa...

- Joana, pegue o meu paletó, meu revolver e minha botina. Vou para a fazenda. Está muito estranho aqueles meninos lá, sozinhos, sem ninguém por perto. Pode haver onça, lobo e outros tipos de bichos.

Imediatamente, Tomé partiu, mas ouviu a voz de Joana que iria com ele. Ela não o deixaria só por aquelas estradas.

A fazenda era perto e uns quarenta minutos de caminhada chegaria até lá. Tinham que passar por uma cava funda e se arriscavam encontrar com alguma vaca brava do vizinho.

Os dois foram bem rápidos. Gastaram pouco mais de meia hora de caminhada. Estavam confusos e preocupados.

Ao chegarem perto da cava, Tomé sentiu um forte arrepio. Seus cabelos se eriçaram e uma forte sensação de que estavam sendo seguidos por alguma coisa. Olhou para trás e não viu nada. Para frente, estava muito escuro e a seus lados era somente barranco. Joana sentiu a mesma coisa. Parecia que seus passos não rendiam. A cada passada, seu corpo ficava mais pesado e uma passada parecia pesar uns vinte quilos.

- O que está acontecendo?

- Não sei, querido. Acho que estamos sendo seguidos e estou com uma forte sensação de que não é bom. Não sei se é fantasma, assombração ou outra coisa, mas estou ficando com medo. Faltam mais uns dois quilômetros e estou muito cansada. Faço este percurso bem rápido, porém hoje não estou aguentando.

Como Tomé era muito forte, deveria ter uns dois metros de altura, pesava mais ou menos uns cem quilos, de braços longos e musculosos, pois pegava muito peso e até vaca ele punha chão a baixo, não teve outra escolha a não ser pegar por Joana aos braços e carregá-la até sair da cava.

Esta cava era muito funda. Deveria ter quatros metros entre o barranco do lado de cima até o chão e uma largura de dois metros e cento e cinquenta metros de comprimento. Na cidade, era dito que os cavalos não gostavam de passar por ali. Sempre que passavam, à noite, eles se refugavam e o montador tinha que descer e puxá-los. Era sempre o que acontecia.

Para Tomé, a travessia da cava foi muito difícil. O seu corpo estava também muito pesado. Não conseguia caminhar rápido, não por estar carregando Joana nos braços, mas sentia a mesma coisa sentida por Joana. A cada passo, era uma eternidade. Não foram a cavalo, então teriam que enfrentar aquela situação sozinho. A sua companheira não aguentava andar e ele também estava fraquejando aos poucos.

Passo a passo, conseguiram vencer aquela forte cava e do outro lado, encontraram com o vizinho que estava vindo para a cidade. Estava ele assustado, muito assustado.

- Tomé, estou muito assustado.

- Na fazenda que você toma conta, ouvi umas vozes, muitas luzes do lado de fora. Uma pequena luz dentro da casa e muitas vozes e sons parecidos de martelo, enxada. Parece que está quebrando tudo.

- Pegue este meu cavalo, porque termino de chegar à cidade a pé. Ponha a Joana na garupa e vão o mais rápido possível. Amanhã você me entrega o cavalo.

Era isto que Tomé e Joana queriam. No cavalo, poderiam chegar mais rápido e verificar o que estava acontecendo. Já era preocupação para os dois, porque os meninos estavam ali, sozinhos e a mãe de João estava preocupada.

Despedindo do vizinho, os dois seguiram para a fazenda e a viagem começava a render. O cavalo era rápido e forte.

Cavalgando a cinco minutos, do alto já se podia avistar a fazenda. Era surpresa ver ali tudo iluminado. A fazenda não tinha luz elétrica. Tinha um gerador movido a água, no tempo do dono e foi desativado há mais de dez anos. Não funcionava. Quando Tomé precisava dormir lá, tinha que levar querosene para a combustão das lamparinas e do lampião.

A surpresa deles era tão grande, que a fazenda parecia um dia todo iluminado. Parecia ter umas quatro pessoas, mais os dois meninos.

De repente, tudo ficou às escuras. Não se via mais nada. Somente enxergava duas pequenas luzes de lampião.

Tomé e Joana desceram às pressas e encontraram os dois meninos sentados na sala. Para maior surpresa, cada um estava com duas panelas cheias de ouro. Rindo, eles disseram para os pais de Marcos.

- Assim que o Senhor saiu, pegamos martelos, picaretas e as lamparinas para encontrarmos o ouro. O pai do Pedro nos falou, na semana passada, quando saíamos da escola, que aqui tinha ouro e que poderíamos vir buscar.

- O nosso sonho é comprar esta fazenda para o senhor e o pai do João trabalharem aqui. Será uma sociedade. Enquanto nós estudamos, vocês vão trabalhar e quando crescermos, seremos engenheiros agrícolas e vamos transformar esta fazenda em uma linda e sólida empresa.

- Meninos, vocês estão certos da cabeça. Será que nós estamos sonhando?

- Não Pai. Não é sonho. É pura realidade.

- Nos mês passado, o pai do Pedro veio trabalhar para o senhor aqui.

- Sim, meu filho. Ele ficou uma semana fazendo as cercas. Ele pediu para dormir aqui, enquanto eu ia para a cidade. Ele dormiu mais de duas semanas.

- Cheguei cedo e ele já havia feito o café e até o almoço para nós. Ele é muito bom de serviço. Pena que já está velho e pensa em aposentar. Ele deve ter mais de sessenta e cinco anos. Gosta muito da roça e seu sonho é aposentar e ter uma vida mais feliz. Ouvi dizer que ele quer ir morar com a filha, na Capital.

- Então, Pai, ele é uma pessoa muito boa. Gosta de contar muito caso. Olha, muito caso de fantasma e de assombração. Ele contou que já dançou com a “Namorada do Coisa Ruim”, que já montou em cavalo do outro mundo e são tantas as estórias contadas por ele, que sempre passamos na casa dele, aos domingos, depois da missa, para ouvir suas prosas.

- Naquela mesma semana, depois de ele trabalhar aqui, ele nos contou:

- Meninos. Vocês são muito bons. Eu gosto muito de vocês. São todos dois muito inteligentes, gostam de aventuras, de música e o João toca muito bem o violão. Você, Marcos, tem uma linda voz. Poderá ser cantor sertanejo algum dia, mas precisam estudar vocês dois para serem bons engenheiros e ajudarem seus pais.

- Ontem, depois de tomar banho lá na fazenda, esquentar meu jantar, peguei um livro e fui ler. Li coisas de outro mundo, de um universo cheio de estrelas, de luzes, de pessoas diferentes, bondosas, que fazem algo para o ser humano.

- Adormeci sobre o livro. O fogo no fogão já começava a dar ar de apagamento. As brasas da lenha começavam a sumir. Somente cinzas cobriam as lindas brasas.

- De repente, vi um enorme clarão aqui na cozinha. Meu rosto ardia na luz que apareceu na porta da cozinha. Meus pés ficaram quentes e a luz era tão intensa que se enxergava uma formiga no chão.

- Olhei mais detalhadamente e vi a figura de quatro criaturas. Estavam vestidas de uma veste branca e se aproximaram de mim. Falaram alguma coisa e eu não entendia nada, somente ouvia e não falava nada.

- Mostrou-me um lugar e disse que era ouro que estava ali, mas somente vocês dois é que tirariam aquele ouro.

- Verdade, meu filho?

- Sim, Pai. Ficamos aqui hoje e surgiu um luz tão forte e quatro seres, nas mesmas características contados pelo Pai do Pedro, Eles nos ajudaram a tirar o ouro. São quatro. Uma para o senhor, outra para o pai do Pedro, outra para o Pai do João e a última para o Seu Júlio, o dono da fazenda.

- Ele venderá a fazenda para vocês dois. Isto que os quatro homens de branco falaram para nós.

Com a fazenda comprada por Tomé e o Pai de João, a dupla cresceu, estudou agronomia, mas foram trabalhar em outros lugares.

JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO
Enviado por JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO em 08/04/2018
Código do texto: T6303411
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