A indecisão do velho Custódio

Quando se aproxima o pleito eleitoral, surgem as acomodações e indecisões: filiações e trocas de partido, lançamentos de pré-candidaturas, negociações etc.

Registramos, aqui, a indecisão de Custódio, que mandou repintar a velha e surrada tabuleta que informava da denominação do seu estabelecimento comercial, muito frequentado pela elite imperial.

Transcorria o ano de 1889, ano da proclamação da República, tema que não estava na agenda popular, mas fervilhava nas mesas da confeitaria, repletas de políticos e intelectuais.

O assunto que palpitava confrontava monarquistas e republicanos. O declínio da monarquia tomou gosto, principalmente, em função da questão social provocada pela libertação dos escravos e das questões militar e religiosa, que se prostraram contra o imperador.

Atento ao que se conversava e diante dos rumores cada vez mais contundentes, Custódio lembrou-se que, após muita relutância, havia contratado um pintor para reavivar o letreiro da tabuleta com o nome de fantasia do seu estabelecimento: “Confeitaria do Império”.

Diante do que conversava a freguesia e avesso à importância dos fatos políticos do momento, o avarento Custódio sopesava: e se decair o Império e exsurgir a República. Terei que repintar a tabuleta. Já pensou, faria um gasto à toa, desnecessário. Seria um verdadeiro desperdício, dinheiro jogado fora.

No dia seguinte, o pintor que já havia começado o serviço, recebeu ordens para parar na letra “d”. Não era sensato continuar. E assim ficou a tabuleta: “Confeitaria d”.

Já na república, o pintor voltou para concluir o serviço: “Confeitaria da República”.

Inspirado na obra “Esaú e Jacó”, de Machado de Assis.

DJAHY LIMA

DJAHY LIMA
Enviado por DJAHY LIMA em 08/04/2018
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