O nome e o apelido
É comum, principalmente no Nordeste, as pessoas serem conhecidas por seus apelidos. Outras são conhecidas apenas por eles.
Os apelidos têm muito a haver com a profissão, com o vínculo familiar, com o usual instrumento de trabalho, com a estatura, a aparência e os caracteres físicos que os diferenciam e, portanto, se sobressaem.
Em alguns casos, não são considerados apelidos, pois os nomes verdadeiros apenas são associados a um referencial que geralmente é o nome do pai, da mãe, da atividade comercial, da profissão etc.
Seguem, indistintamente, alguns exemplos colhidos em Santa Cruz (RN): “Chico Tanga”, “Raimundo da Cigarreira”, “Rita Oião”, “Canindé boca de Cascudo”, “Chico de Cãnhida”, “Chupa Limão”, “Zezinho de Hosana”, “Zeca de Chico Adriano”, “Joãozinho do Hospital”, “Edmilson de Leão”, Severino Boi-Tabaco etc. Alguns deles são impronunciáveis em certas ocasiões.
Contam que uma pessoa não gostava de ser chamada pelo apelido. Na frente de sua casa havia um pé de algaroba, por isso era apelidado de “João da Algaroba”.
Para evitar o apelido, cortou a algarobeira deixando apenas o toco: passou a ser apelidado de “João do Toco”.
Arrancou o toco com toda a raiz, deixando somente um buraco: passou a ser chamado de “João do Buraco”.
Ora, se o sujeito se incomoda, o apelido pega mesmo.
Em Santa Cruz, pouco gente conhecia os nomes de registro de “Zé Dobico” (José Piscínio de Oliveira) e “Zé Branco” (José Hermínio da Silva).
Certa vez, no Banco do Brasil, Posto Avançado de Campo Redondo (RN), atendendo aos produtores rurais proponentes de operações de crédito para o custeio agrícola, o funcionário Antônio Pereira chamou um mutuário pelo nome. Ninguém respondeu.
Repetiu diversas vezes, mas o silêncio permanecia. Apenas um ar de interrogação reinava no ambiente. Não conheciam viva alma com esse nome.
O bancário Pereira lembrou-se, então, que no cadastro, constava além do nome do cadastrado, o seu apelido. Consultou a ficha cadastral e lá estava, no campo próprio, o apelido: “Picão”. Pereira, claudicante, chamou o cidadão pelo apelido, em alto e bom som: “PICÃO”.
De pronto, um dos produtores rurais se levantou. Sou eu!
Todos riram.
Dizem que no período da ditadura militar, José Sarney escapou de ser cassado porque na relação dos cassados constava José Sarney e o nome do político era José Ribamar. Só algum tempo depois, o atual ex-presidente adotou o prenome do pai – Sarney – como sobrenome.