1028-VOA, POMBINHA, VOA - Causo de Marinhheiro
— Querida, não te conto! Você sabe a Marinilda? Coitadinha...
— Sim, sei quem é. Meia enxerida, não é mesmo? Trabalha na Oi... telemarketing, não é?
— Essa mesmo. É minha colega de trabalho.
— Sim, sei. Mas coitadinha, por quê?
— Pois é. Segunda feira desta semana ela chegou no serviço... ô dó!... Me dá pena só de lembrar.
— Conta logo o que aconteceu, Zenilda! Tá me deixando curiosa.
— Cabeça enfaixada, braço quebrado na tipóia, rosto escalavrado, mancando e usando uma muleta. Veio avisar que ia entrar em licença medica por uns 30 dias.
— Nossa! Mas que aconteceu com ela?
— Cê sabe, ela é dessas que num escolhe muito pra pegar um homem. E gosta de pegar cara de fora, estrangeiro. Ela arranha um pouco de inglês e acha que é a tal. E muito atirada. Pois ela contou que na sexta feira da semana passada, fisgou um marinheiro português. Disse que era másculo, forte, sorriso cativante e encantador. Forte, muito forte, músculos quase arrebentando os botões da camisa.
— Ela exagera quando pega um...
— Então, depois de tomarem umas e outras num bar perto do edifício onde ela mora, acabou convidando o portuga para tomar um licorzinho... — licorzinho, veja só! — no apartamento dela.
— Hummmm...!
—Conversa vai, conversa vem, afagos e carinhos, coisa e tal. Então o fortão perguntou para ela como é que ela queria ser tratada.
— Ai, ai, ai...!
Ela falou que o marinheiro e ela estavam na sacada do apartamento no terceiro andar, ela recostada no colo dele, dando uma de romântica. E romanticamente respondeu: “ — Quero ser tratada como uma pombinha, uma doce pombinha branca, que voa, voa...”
O marujo nem esperou ela terminar de falar. Pegou Marinilda no colo, chegou na beira da sacada e jogou ela pro ar, gritando:
— Voa, pombinha, voa!!!
— Óóóóóóóóó´...!!!
ANTONIO ROQUE GOBBO
Belo Horizonte, 14 de agosto de 2017
Conto # 1028 da Série 1.OOO HISTÓRIAS.