A Visita do Rei
Certo dia uma jovem viúva teve um sonho. Estava em um lugar onde uma forte luz a impedia de manter os olhos abertos. De repente ouviu a voz que dizia: “Eu, o Deus dos céus e da terra, te visitarei esta manhã. Prepare-se.” A mulher acordou às seis horas da manhã, super animada. Arrumou a casa toda, bem como a si própria. Às nove da manhã ela e sua casa estavam impecáveis, aguardando a visita de Deus. Não pegou a roupa que usaria para visitar o primo naquela tarde. O rapaz estava doente e na prisão. Ao contrário, vestiu a melhor que tinha. Às dez alguém bateu à sua porta: era um mendigo pedindo um pão velho.
- Não comprei pão hoje, sinto muito. Passe aqui amanhã, pois Deus me visitará!
Passou-se uma eternidade e o sol ardia lá fora. Minutos depois alguém bateu na porta. No relógio eram já onze horas e cinquenta e nove minutos. Deus havia deixado para aparecer no último momento da manhã. Ela ajeitou um quadro que estava torto, deu uma última olhada no espelho e correu até a porta.
– Senhora, eu estou trabalhando nesse sol a manhã inteira. Pode me dar um pouco de água? – indagou um homem vestindo roupas velhas e sujas de terra.
– Ah, não me perturbe! Vá pedir água a outro! – gritou a mulher, batendo a porta. Deus estava atrasado. Mais três horas se passaram e ela continuava ali, sentada na cadeira, esperando. De repente outra pessoa bateu à porta. Esperançosa, correu até lá. Talvez sua paciência
estivesse sendo testada.
– Per favore, come faccio a... – começou a falar um estrangeiro que supostamente estava perdido.
– Io non sono una mappa! – berrou, expulsando o visitante. Mal sentou-se na cadeira, ouviu outra batida na porta. Achando que era outra pessoa querendo importuná-la, já estava pronta para proferir uma oração imprecatória, quando para sua surpresa...
– Me desculpe – disse um homem só de cueca, e visivelmente envergonhado. – Fui assaltado. Preciso de ajuda...
Novamente porta na cara. A mulher suspirou, já sem esperança de que Deus aparecesse. Por isso voltou a se sentar em sua cadeira. Trocou de roupa, mas estava estressada demais para visitar o primo. Logo a noite veio e ela foi dormir. Sonhou outra vez, voltando para aquele lugar iluminado.
- Deus? O que houve? Por que o Senhor não veio me visitar? - Perguntou, aflita, temendo ter feito algo errado. E obteve prontamente a resposta:
- Quatro vezes estive na tua casa e você não me recebeu. Tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes.