O assalto
Há dias vinha sofrendo com um incômodo nos olhos. Após consultar um médico fui receitado um colírio. Mas quero contar mesmo o fato que aconteceu a caminho de volta da farmácia para casa. Era uma quinta-feira, cheguei do trabalho, estava cansado, apenas levei para a farmácia o dinheiro contadinho para comprar o remédio. Ao sair do recinto fui abordado por um jovem, seu look era todo preto: calça, camiseta, tênis e um lenço amarrado envolvia toda sua cabeça. Parou em minha frente, tomei um susto; mas aparentemente ele só queria saber das horas. Disse que não tinha relógio. Desviei e prossegui meu caminho. Passado uma esquina eis que surge novamente. Parou-me, desta vez puxando uma arma e apontando para mim, fiquei nervoso e com medo. Mas percebi que ele estava bem mais nervoso que eu. Isso é um assalto, disse ele. Aleguei que não tinha nada de valor que pudesse se interessar.
— Acha que sou besta, disse ele, me passa o celular.
— Não tenho, pode me revirar do avesso...
— Passa sua carteira...
— Não tenho...
— O que tu tens aí?
— Nada!
— 10 reais só para me fumar um baseado.
— Não tenho.
— 5 reais.
— Não tenho.
— Dois...
— Não...
Pediu para que eu ficasse quieto que ia me revistar e aí de mim se tivesse mentindo. Após procurar um possível objeto de valor, e nada achar, ficou decepcionado.
— 1 real, cara.
— Não...
— 50 centavos...
— Não...
— 5 centavos?!
— Não...
— E que porra é essa que tu tens aí dentro dessa sacola?
— Isso é um colírio...
— Ah, já que é só isso. Então dá duas pingadinhas aqui no meu olho...