O SONHO DE UM CORONEL MACHISTA 36º EPISÓDIO


Depois daquele acontecimento indesejável, que consumou com a prisão do coronel Certorio, nada melhor do que um dia após o outro para que a vida seguisse seu curso normal. Parecia tudo tranqüilo, o pessoal da fazenda Morrinhos saltou da cama ao romper da aurora para cumprir com suas tarefas no trabalho e na parte da tarde se unirem ao grupo da fazenda Bocaina e juntos assistirem mais um espetáculo do boi pretête. Mas um fato novo mudou rumo da historia. Logo após o nascer do sol chegou um mensageiro enviado da parte do intendente em Bom Jardim, algo muito estranho envolvendo o coronel Certorio. Embora vigiado pelas três ordenanças ele desaparecesse misteriosamente da sela onde se encontrava preso junto a seus dois jagunços e o Alferes. Ninguém soube explicar. De inicio imaginou-se ser coisa do coronel Tenório que após ter seu objetivo frustrado por não conseguir casar a filha com Nicó. Tentou subornar o intendente, para libertar os presos, mas como não obteve sucesso, e ainda por cima foi ameaçado de ser preso pelo intendente ele desistiu apanhou sua carruagem retornada pra sua terra com a mulher e filha.
Nicó se preparava para ir até ao Bom Jardim atendendo o chamado do intendente, quando Inácia apavorada disse:
--Sinhozinho Nicó vosso pai ta lá naquela sala secreta adonde ele guarda aquele bicho horroroso tá lá dentro num prusêio danado dizeno qui qué mais tempo qui num vai agora má qui nun vai memo, pradonde ele nun qué i ieu num sei vem a cá pra voismicê iscuitá tem mais arguém discutino cuele. Nicó ouviu aquela teima do pai repetido que não poderia ir que queria mais tempo, que já tinha entregado a mulher e a nora como pagamento para ter mais vinte anos pra frente. Parecia ter mais quatro pessoas com ele. Um numera de escravos se juntou na porta logo apareceu Venâncio também. As chaves da sala sempre mantiveram na cintura do coronel não tinha como abrir o cômodo bastião e outros mais sugeriram arrebentar a porta, mas Nicó achou melhor chamar o intendente:
-- Chico bento voismicê é capais de buscá o intendente pra nois, voismicê pode acumpanhá Venâncio?
-Prefeitamente Nicó ieu acumpanho cum maió prazê!
--Prepare a carruage intonse vão correno e vorta dipressa!
Durante todo o tempo eles ouviram a discutição do coronel tentando ganhar mais tempo, ele ofereceu cabeças de gado, escravo, a terra, em fim ofereceu Nicó. Tudo isso em troca de mais vinte anos. Sempre afirmado que se fosse embora com eles o pior ia acontecer Nicó casava coma a maldita filha do coronel Tiburcio e que ele não deixaria de forma alguma. Quando a carruagem entrou no curral com o intendente foi um silencio total ninguém ouviu mais nada.
-Bom dia pra todos vosmecês-, diga-me seu Nicó como vosso pai veio parar aqui se é que ele esteja aí dentro coisa que eu só acredito vendo!
--Sinhô intendente pode cuncedê uha prosa particulá cum inaça mais ieu ai o sinhô vai intendê o qui acunteceu!Eles foram até a cozinha Inácia e Nico explicou toda a história do diabinho do coronel, embora Nicó sempre duvidasse, mas agora diante daquele mistério ele estava em indeciso a respeito. Como seria possível seu pai desaparecer de dentro de uma sela trancada junto com mais três e vigiado por três ordenanças e ninguém perceber e ainda ir para a fazenda e trancar dentro de uma sala que ele manteve secreta durante sua vida inteira. De volta para a sala o intendente sugeriu abertura da porta,o que alias, deu um trabalho danado por ser de aroeira trabalhada.
-- Então vamos ver o que nos espera nesta sala secreta arrebentem a porta! Feito o arrombamento, lá estava de fato, o coronel Certorio morto pendurado por uma corda amarrada na trava da casa e ainda vestido de mulher com a roupa imposta a ele pelo Venâncio ou Dentuço, como queiram os leitores, no dia anterior e que o intendente como castigo o obrigou a permanecer vestido com ela.
-E agora Nicó vai sepultá-lo aonde?
-- Aqui na fazenda memo senhor intendente, ele sempre disse que quando morresse queria ser sepultado ao lado da porteira do curral.
--Então seu Nicó sabe me explicar esse mistério que envolve vosso pai-, primeiro ele desaparece de uma sala trancada com três ordenanças vigiando e ninguém viu, depois aparece morto enforcado numa sala fechada que precisou quebrar a porta pra entrar.
-- Oia sinhô intendente pruseia cum a inaça ela conta pru sinhô esse mutivo, isso é muito triste pra mim qui sô fio do difunto pezar dos erros dele é meu pai quero respeitar ele cumo um falicido. Inácia contou ao intendente detalhadamente tudo que sabia respeito do diabinho do coronel, ele embora não acreditasse, naquela historia absurda, mas também não contestou, chamou Nicó e disse:
--Olha para evitar polemica e falatório desnecessário eu vou fazer um boletim dizendo que o coronel sentiu mal na sela e foi removido para sua casa aonde veio a falecer por complicações de saúde tá bom assim pra vosmecê?
---Tá ótimo ieu agradeço o sinhô pur tudo qui feis pra gente
--Pode retirar o corpo, e veja ode quer sepultá-lo.
--Cunforme ispriquei pru sinhô meu pai sempre falô qui quando morresse quiria seja interrado aberano a cerca do curral perto da Porteira de intrada mode recebê tudo qui fosse visitante qui viesse aqui.
--Então faça o desejo dele cuide de tudo ai, e mande seu cocheiro me lavar de volta que amanhã eu vou enviar os presos que restaram numa diligência para a corte.
E assim encerrou o trabalho do intendente na fazenda Morrinhos, Chico Bento o conduzio de volta ao Bom Jardim após foi até a Bocaina avisar sobre a tragédia ocorrida e suspender a ida ao evento circense cuja programação estava prevista para aquela mesma tarde. A morte súbta do coronel motivou a primeira visita dos Montenegro e de todos os seus agregados libertos e cativos que lá residiam a Morrinhos. Foram ao velório do coronel Certorio.
Quando Chico Bento retornou de Bom Jardim, Nicó o chamou dizendo que o caixão estava pronto, que ele viesse ajudar bastião e Inácia a colocar nele o corpo do pai que estava espichado sobre em um banco na varanda da casa grande. Estavam apenas os quatro naquele momento, logo que abriram a tampa apareceram quatro homens estranho de cara amarrado vestido de preto da cabeça aos pés usando chapéu e botas pretas reluzentes, abriram um esquife também preto e retiraram de dentro dele uma réplica do coronel feito de pano recheada de um material estranho uma copia perfeita. Colocaram-na no caixão pegaram o corpo dele sobre o banco e colocaram no esquife fecharam a tampa e desapareceram com ele da mesma forma que surgiram, tudo aquilo foi tão rápido como um toque de mágica. Chico Bento e Bastião se benzeram assustados, mas Nicó e Inácia os únicos a quem o coronel havia confiado seu segredo, explicaram que aquele fato tão assombroso era o pacto que o coronel fez com o diabo e tudo aquilo que ocorreu com ele desde seu sumiço da cadeia do Bom Jardim ao surgimento dele em sua sala secreta era obra do demônio.
A noticia da morte do coronel correu em Bom jardim de ponta a ponta como rastilho de pólvora, apesar das barbaridades cometidas por ele ao longo da vida, ele foi um homem muito influente. O intendente redigiu um boletim informando a causa da morte como um mal subto não diagnosticado. Decretou luto por três dias. E como o sepultamento estava marcado para a manhã do dia seguinte à sua morte, a população inteira, se locomoveu até Morrinhos para dar um ultimo adeus ao coronel Certorio. Somente Nicó, Bastião, Chico Bento, Inácia e Venâncio, souberam que o coronel tinha se enforcado e aquilo que estava sendo velado no seu caixão era uma réplica dele deixada, provavelmente por quatro lucíferes que levaram o corpo dele.
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 15/01/2018
Reeditado em 15/01/2018
Código do texto: T6226625
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.