Coruja, que pescada ??

Um dos fatos mais comuns em uma pescaria, e criar-se uma amizade verdadeira, amigos de pescadas viram de fato companheiros e todos se tornam grandes parceiros. No ano de 1992, fizemos uma pescada e ficamos conhecendo um amigo, cujo nome era “Sebastião Henrique Apolinário Pelópidas da Figueira Albuquerque”, mas tinha o apelido de Pedrinho, não sei porque, nada a ver esse apelido, mas, se falasse o nome dele ninguém sabia, agora Pedrinho, todo mundo conhecia. Essa figura, era um cara muito interessante e cheio de manias, mas fizemos muita amizade com ele. Depois dessa pescada, ele nos convidou para irmos no terreno do pai dele, lá paras as bandas de Campos Altos, então marcamos ajeitamos tudo conforme nosso costume e organização e partimos para a pescada. Quando ele falou Campos Altos, na Serra da Saudade, a gente imaginou umas duas horas de viagem. Acontece que passamos Campos Altos e nos embrenhamos na verdadeira Serra, estrada de chão, muita poeira, sobe ladeira, desce pirambeira, passa porteira, entra e sai em terrenos alheios, foram mais de uma e hora e meia depois da cidade de Campos Altos, até que enfim conseguimos chegar no lugar. Nosso amigo Pedrinho foi conosco, mas devido a uma situação ele não ficaria, naquele dia, só viria no dia seguinte, ele tinha ido para mostrar a gente o caminho, se não fosse assim, jamais conseguiríamos encontrar o local. Bem chegamos, no pequeno rancho, onde ficaríamos, tinha a casa grande do pai dele, mas a gente preferiu ficar no ranchinho perto do Ribeiraozinho, chamado de “Corguinho fundo”, também não sei porque, pois, ele não era tão fundo assim. O Ranchinho atendia a nossa necessidade, tinha um quarto com duas beliches, era bem arejado, tinha uma cozinha com um fogão de lenha e um fogareiro de três bocas com um botijão de gás quase cheio, tinha um banheiro razoável com chuveiro a serpentina. Não tinha luz elétrica, mas tinha um pequeno gerador a óleo que funcionava doze horas com quatro litros. Tinha geladeira e uma televisão de quatorze polegadas adaptadas ao gerador, não era cinco estrelas, mas era suficiente e tranquilo até para morar, se precisasse. Tudo muito limpinho e arrumadinho, mas o Pedrinho falava que não era sempre assim. Que sempre alguns pescadores deixava o lugar todo bagunçado, eu acho que ele falou, como um puxãozinho de orelha na gente. Depois de tudo acomodado e ajeitado, fizemos um arroz na panela de ferro no fogão a lenha e fritamos ovos caipiras e todo almoçou, inclusive o Pedrinho que depois foi embora. Então ficamos nos quatro, descaçamos um pouco e fomos pescar, lá no Corguinho nos separamos, cada dois foi para um lado e começamos a pescar. Nada de extraordinário aconteceu, começamos a pegar uns peixinhos, Timburé, trairinha fogueteira, uns bagrezinhos, alguns carás com tamanho até bons, tinha peixinho pesando quase meio quilo. Para córrego, eram de ótimos tamanhos. De qualquer forma a carne da janta estava garantida. Quando começou a escurecer, eu e meu parceiro com o bornal quase cheio de peixinhos voltamos para o rancho e lá já encontramos com os outros dois amigos, que já estavam preparando o jantar, ao chegarmos eles contaram a novidade, a gente vinha voltando do ribeiraozinho e quando passamos perto da casa grande, ouvimos um piado e olhamos na varanda e vimos uma coruja enorme, foi só uma paulada e ela caiu, foi a hora que outra coruja voou e joguei uma pedra e derrubamos a outra também. Normalmente corujas andam em casal. Eles resolveram cozinhar as corujas, realmente eram enormes, depois de limpinhas, arrumadinhas, pareciam um franguinho de quase um quilo. Fogão a lenha aceso, panelao de ferro, afogou bem as corujas, e colocou agua para cozinhar, como não tinha panela de pressão, tamparam e colocaram uma pedra em cima da tampa, para dar um tipo de pressão. Tomamos banho, começamos a jogar truco e passa uma hora e as corujas ainda não tinha cozinhado, passa duas, três, quatro horas e nada de cozinhar, aí como a fome era grande, começamos a ovo com caldo, jogando truco, o dia já estava quase amanhecendo e nada dos bichos cozinharem. Seis horas da manhã, desligamos o gerador um pouco, a geladeira tinha muito gelo e conserva o que fosse preciso. Não tínhamos dormido ainda e as corujas ainda estavam duras. Ai o pessoal já estava enfezado e queriam comer a coruja, resolveram e fizeram uma panela de arroz e comeram as corujas, ainda estavam duras depois de quatorze horas cozinhando. Mas estavam bem temperadinhas e todos comeram assim mesmo, todo mundo com muita fome, não sobrou nem caldo. Arrumamos a bagunça e fomos deitar um pouco. Isso já era quase dez horas da manhã. Acordamos lá pelas três horas com o Pedrinho acordando a gente. Aí levantamos e tomamos um café e fomos pescar, quando escureceu, chegamos no rancho, novamente com bastante peixinhos, eram pequenos mas pegamos muito. Arrumamos algumas trairinhas para fritar e ajeitamos a mesa de truco, quando o Pedrinho que tinha ficado para traz, entrou no ranchinho, pisando alto e perguntando, se por acaso a gente não tinha visto um casal de coruja, nós olhamos uns para os outros e ele falou, eu paguei Cinco mil reais naquele casal de Coruja, são corujas tailandesa especializadas em pegar cobras, como aqui tinha muita cobra eles estavam fazendo um bom trabalho. Praticamente acabou com as cobras daqui. Ai fizemos de bobo né, “não a gente não viu não “. Foi uma noite de pescada sem ninguém contar piada, todo mundo assim sem graça, calados. O Pedrinho coitado, perguntava toda hora se a gente não estava gostando. No outro dia cedo foi tanta desculpa que arrumamos que viemos embora, todo mundo na maior falta de graça e sem saber se contava ou não para o Pedrinho. Quando chegamos em casa, foi uma dor de barriga que deu na turma, foi quase uma semana de diarreia. Não sei se pela carne das corujas, ou pelo aperto que passamos. Ninguém contou para o Pedrinho. Ele se mudou daqui a gente nem sabe por onde ele anda, mas se ler essa história vai descobrir o verdadeiro paradeiro do casal de coruja tailandesa

WL Pimenta
Enviado por WL Pimenta em 08/01/2018
Código do texto: T6220284
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