A cruz de ferro
Em 1897 Juca Mineiro morava num sítio em Cunha, com seu filho Gregório e sua mulher Mariazinha Ela era. muito bonita e desejada por outros homens. A mineira de Alfenas não dava bola pra ninguém e Juca a amava muito.
Basílio de Campos, malandro, desejava a mulher de Juca. Depois de muitas visitas ao sítio enquanto Juca estava na roça, convenceu Mariazinha a ir embora com ele. Juca procurou a mulher em toda a região até que um tropeiro lhe disse tê-la visto com Basílio na cidade de Guaratinguetá. Juca chorou e sofreu bastante. Agora só tinha o filho Gorinho, que foi criado por Juca sabendo que a mãe havia morrido e pensava que por isso o pai era triste.
Um dia em Aparecida Juca viu Basílio e o provocou com um esbarrão. Quis matá-lo com uma faca, mas desistiu, Não queria que Gorinho carregasse a marca de filho de prostitua e de assassino. Mudou para Ubatuba, onde comprou um sítio. Um dia foi vender as terras de Cunha. No litoral, Gorinho nunca saberia da mãe – pensava Juca. Voltando, no alto da serra, parou e disse ao filho:
- Gorinho, aquele azul lá embaixo é o Oceano Atlântico. Mar de Ubatuba. Lá é que vamos morar. Peço que você jure nunca mais vir para os lados da serra.
O menino confuso não entendeu...
- Por que pai?
- Não pergunte nada. Promete?
- Sim pai.
Nesse momento um homem inesperadamente invadiu o caminho, disparou um tiro de garrucha no peito de Juca e desapareceu no mato. Agonizando e sabendo que ia morrer, Juca contou toda a sua história ao filho, que nesse momento tinha 12 anos. O mineiro após contar tudo, disse as últimas palavras:
- Vingue o seu pai. Deus cuide de você meu filho. – Disse morrendo.
Gorinho enterrou ali seu pai, fixou no lugar uma cruz de madeira e jurou trazer ali um dia a prova de sua vingança.
Onze anos depois em Ubatuba, Gorinho com 23 anos vê Basílio. Sabendo que Basílio ia subir a serra naquele dia, partiu antes e o esperou perto da cachoeira grande da serra. Eram cinco horas da tarde quando Gorinho viu na curva três mulas e atrás, Basílio, distraído num cavalo baio. Ao passar perto da cachoeira para pegar água, foi surpreendido por Gorinho:
- Desce do cavalo. Vai morrer agora miserável! – Diz o jovem cheio de ira.
- Não tenho dinheiro. Pode levar as mulas.
- Como está minha mãe?
- Tua mãe? Quem é tua mãe?
- Aquela que você roubou do meu pai.
- É você Gorinho? Ela...
Gorinho não o deixou terminar e varou-lhe o coração com a faca do pai. Basílio morreu fitando Gorinho que com a faca arrancou tiras da camisa com o sangue ainda escorrendo e foi até a cruz. Lá chegando, ajoelhou-se diante dela e disse:
- Pai! Hoje eu lhe vinguei. Aqui está o sangue quente de Basílio.
Colocou os farrapos ensanguentados sobre a cruz e a beijava quando alguns viajantes vinham em sua direção, maravilhados e gritando:
- Milagre! Milagre! Milagre!...
A madeira da cruz se transformou em ferro e brilhava coberta de flores reluzentes e perfumadas que antes eram os farrapos cheios de sangue que ele colocara ali. Desde esse tempo a cruz de ferro está na serra que vai para o Vale do Paraíba. Um bando de urubus levou pelo ar o corpo de Basílio para dentro da mata e lá o devoraram. Até hoje a cruz de ferro floresce quase o ano inteiro.