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ESCOL DE MINEIRÊS 12

RECAPITULANDO


 
     Oia vamu repassá as liçãu tudu, pa num corrê pirigu. Vamu vê: Giografia, ô Broinha qualé a capitár do Brasil? É Brasia fessôra! Oia Broinha num discuida, a genti tem di falá Brasilia, ah sim sinhora vô isquecê mais nãu, e quar a capitár di Mina Gerais, é Bel Rizonte, oia num isqueci é Belu Rizonti. A Ingraterra fica im quar cuntinenti? Nas Oropas, ta bãu... Eli num vai repará, i carqué coisa ieu falu que é o mordi di nóis da roça cunversá.

     Margot, Ritimetica procê, Condi ocê racha uma mixirica nu mei quantas banda fica? Fica duas fessôra, e condi ocê racha in cruiz? Fica quatru pedaçu fessôra. Final da aula que nem teve recreio os garotos já tinham repassado o primeiro, o segundo terceiro e quarto livro e a tabuada inteira, a di mais, a di menus, a di murtipricá e dividi. A professora estava aflita e ela própria procurou melhorar seu vocabulário, repassando os livros de língua pátria, e conjugando verbos. Ieu vô, tu vai, eli vai, nóis vamu, vóis ídis e elis vãu., Ieu fui, tu fostis, eli foi, nóis foi... “Né sim não” é nos fomu, vóis fordieis... Achu qui issu né sim nãu, fordieis? Sei lá dexa sim mermu, o urtimu é, elis foram.

      Ah tô cansada minhã ieu istudu mais, já vai batê deiz hora. A semana inteira a molecada ralou até no sábado teve aula e o tal inspetor não apareceu, outra semana e nada, os garotos já estavam afiados e a professora satisfeita, treinava falando difícil com as pessoas, passou a falar você, Boa tarde, em vez de batardi, bom dia em vez de bãu dia, hoje vou almoçar mais cedo ao invés de hoji vô cumê mais cedu.

     O pessoal da cidade comentando, gente a prefessôra ta é falanu difici sô, inté o prefeitu botô reparu nas mudanças no palavrório da Maria Candó e até comentou: cêis vê cumé as coisa, foi só a prefessôra sabê qui vem um colega dela ca pra cidadi i ela já currigiu as cunversa tudu, ieu falu coceis, pressa cidadi nossa qui é piquena num prercisa di prefessôra mió é nada. Todo mundo concordou, afinal quem estava elogiando era o prefeito, tipo: “falou ta falado”!

     Para garantir que tudo sairia direito, o prefeito no domingo matou um garrote e fez um churrasco para os companheiros políticos e mais tarde, se reuniram no pomar deixando alguns jagunços tomando conta do portão com ordens para ninguém entrar, e perto do açude fizeram o conchavo elaborando o plano para que a vinda do inspetor fosse satisfatória e ele voltasse satisfeito para a cidade grande. O prefeito falou para o secretário. 

     Zé ocê percura meu capataiz na fazenda, qui ieu já falei preli intregá um capado de arroba e meia procê, ocê dá um banhu nu poicu, i dexa eli iscundidu naqueli quartu nus fundu da prefeitura e na hora cu homi chegá ocê já leva eli la e da para eli, mais num fala qui ieu qui dei, fala qui é um presenti di nóis tudu, i fala preli qui é preli num pegá muitu pesadu cus mininu e dexá u indereçu qui nóis manda intregá o capadu na casa dele. Aí ocê leva eli nu meu iscritóri queu vô da um contu di reis preli, agora ocêis vai tê di assiná um paper preu botá issu na conta da prefeitura. Todos acharam que estava certo, afinal o prefeito não podia arcar com tal prejuiso sendo que ele estava fazendo isto para o bem da cidade.

     Na quarta feira de manhã, chega um carro preto na cidade, Chevrolet quarenta e oito rabo de peixe, capota conversível com placa branca e escrita, “oficial” rodou devagar pela avenida principal da cidade “e também a única” as pessoas acenavam da janela e o chofer, na verdade o próprio inspetor acenava de volta até encostar o carro na casa onde se via em letras enormes escrito: “Prefeitura de Pirambeba” Em baixo as palavras? “Uma obra do governo do prefeito Justino de Almeida”.

     Zé Dorceu todo solícito abriu a porta do carro e fez o importante figurão adentrar à prefeitura antes lhe dando um afetuoso abraço e se apresentando, guiou o quarentão pelos corredores da casa e o levou até o tal cômodo escondido e já lhe mostrou o capado, o homem aceitou e agradeceu e quanto a mandar entregar, ele pediu ao secretário para matar o bicho e limpar que ele mesmo levaria o presente.

      Zé sorriu satisfeito e passou a cantada: Pois é inspetô nóis se juntemo pa comprá essi presente pro sinhô, mordi qui nóis ca gosta muito da iscola e da prefessôra e nóis qué cu sinhô alivia as prigunta prus mininus da iscola. O homem falou que sim, ele faria algumas perguntas, mas coisa que qualquer menino daqueles dias saberia responder. Voltaram e ele já entrou no escritório do prefeito apresentando o inspetor Genivaldo e conforme o combinado antes pediu licença, saiu e trancou a porta deixando a sós os dois figurões.
Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 26/11/2017
Reeditado em 26/11/2017
Código do texto: T6182900
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