Juquita na Rede
Morato e Rochinha se alternaram na chefia do executivo pitanguiense por quase uma vintena de anos, daqueles tempos em que havia cinema, trottoir, e além de não se conhecer ainda a cara do Cid Moreira, tinha o Continentar...pruma boa fumaceira. UDN e PSD, sem espaço nem pro PTB.
As campanhas eram de porta em porta e as promessas chegavam à personalização tal a fé que se botava na dura batalha da votação. A cidade, duma economia modesta, quase primitiva, não passava de uma sombra daquilo que se projetara nos venturosos tempos em que quem a terra arara, pepitas d´ouro é que achara. O ouro acabara e a economia estagnara.
Além da fábrica de tecidos, para os que tinham que dar o duro, havia a esperança dum trabalho na rede ferroviária, ou na prefeitura que, mesmo com atrasos de pagamento, soava como doce sinecura.
Duma feita, Morato que era dono de uma cadeira no ginásio onde vivia a contar histórias com sua voz cavernosa e grave, além de ser exímio leitor de linhas da mão - e as pessoas vinham de longe para ter um gostinho antecipado de seu futuro - pois bem, o Morato chegou à casa de um irmãos solteirões, conhecidos como os Trabucos, habitantes no largo de São José e, sabendo de duas ou três moças já na fábrica, voltou sua simpatia para o Juquita, cujo currículo era mais alvo do que o talco Ross e com aquele simpatia que na sala quase não cabia, anunciou:
- Vou arrumar um lugar na Rede pro Juquita...
E antes que a alegria se transbordasse do coração das irmãs, mais que depressa o felizardo pre-nomeado interpelou o anunciado benfeitor, com sua voz sonolenta, arrastada:
- E quem é que vai me balançá...?