A PESCARIA
Tempos atrás, aconteceu um fato, que venho aqui relatar. Mas toda vez que lembro, um friozinho na espinha acompanha essas lembranças. Não que eu seja medroso ou supersticioso. Nunca fui muito de me dedicar á pescarias, apesar de gostar muito de peixe. Principalmente cozido no leite de Coco.
Zequinha da Bibi, pescador famoso da região do Araguaia, naquelas redondezas de Xambioá suas estórias de pescarias eram famosas.
Sempre insistia comigo:
___Doutor, tem pescaria amanhã. Tá dando peixes a vontade. Só Tucunaré graúdo.
Sabia que era o meu peixe preferido. Sempre dava uma desculpa pra não ir:
____ Vai lá Zequinha. Trás pra nós. Não dá pra mim ir. Tô meio atarefado.
Um dia, resolvi aceitar o convite.
Arrumamos a canoa, traía toda completa. Mais uns litros de pinga da Boa, pra esquentar o frio.
Descemos o Rio Araguaia, até no pontão.
Pescaria farta. Só Tucunaré "famoso". Já escurecendo, chamei:
____Temos já o suficiente. Vamos embora.
E fomos subindo o Rio. Visibilidade diminuída por causa da escuridão e das doses de pinga tomadas.
De repente vem um rebojo. Forte, balança a canoa como se fosse fazer ela naufragar.
Peguei a lanterna, o foco deu em cima de uma criatura estranha, olhos vermelhos faiscando. Pele preta reluzente. Orelhas de abano. Cabelos escorridos .
Fiquei paralisado.
Zequinha da Bibi gritou:
____Valha me Deus. É o NEGO D'ÁGUA. Tá querendo os peixes de volta.
Apressadamente jogamos todos os peixes na direção dele.
Mesmo assim continuou no rumo da canoa. Chegando perto falou:
____Cadê a pinga? Peixe aqui tenho de sobra.
Jogamos toda as garrafas de pinga pro NEGO D'ÁGUA.
De medo desmaiamos.
Quando acordamos a canoa estava cheia de peixes, as garrafas de pinga vazias e descemos rio abaixo além do Porto da cidade.
Até hoje não sei se foi caso acontecido ou se foi o excesso da cachaça.
Zequinha da Bibi diz que foi verdade.