Casa Abandonada
Seu Francisco era um exímio contador de causos e a sua maneira de contar prendia a atenção de quem ouvia. Suas histórias, na maioria das vezes, foram ocorridas na Bahia, terra onde fora criado. Mas a que vou contar agora aconteceu numa pequena cidade do interior de Goiás, no centro oeste brasileiro.
Dizem que fantasmas não existem e que, na verdade, o medo é que faz as pessoas verem ou ouvirem as coisas. Segundo seu Francisco, por volta da década de 1970, na cidade de Goialândia, havia uma casa onde não parava morador por muito tempo por causa das aparições sobrenaturais que ali ocorriam. Os acontecimentos eram tantos que a casa acabou sendo abandonada. A cidade era pequena e esse fato era conhecido por todos, por isso, quase ninguém sequer passava por ali. Naquela época, era comum acontecerem festas religiosas nas fazendas da vizinhança, tradição do povo goiano. Certa vez, já era madrugada alta quando dois amigos voltavam de uma dessas festas. Já estavam quase chegando na cidade quando o tempo fecha e começa a cair uma chuva torrencial. Um vento forte soprava sem parar e o barulho era arrepiante. Sem ter para onde ir, decidem se esconder justamente na casa mal assombrada. Conhecedor do lugar, um dos amigos, muito medroso, entra em pânico, querendo ir embora na chuva mesmo. O outro o convence a ficar, dizendo que fantasmas não existem e que basta controlar o medo. A casa, embora abandonada, parecia segura. Se aconchegaram em um dos cômodos cuja porta dava para o quintal. A porta, na verdade, estava caída num canto, toda apodrecida pelo abandono e a falta de zelo. N o quintal, um imenso abacateiro sombreava mais ainda a escuridão da noite, causando uma impressão fantasmagórica no ambiente. A chuva aumenta e começa a relampejar. O vento assopra assombrosamente e um arrepio horripilante percorre o corpo daquelas duas almas. Subitamente, num dos clarões, uma sombra vultosa vem crescendo porta adentro. O amigo medroso se desespera, começa a gritar. O outro pede calma. De repente, um novo relâmpago, dessa vez mais demorado. Com o clarão, eles avistam um galo, todo molhado, buscando abrigo ali, junto a eles. A luz do relâmpago propagava a sombra do galo até à parede, causando uma impressão sombria. Então, o amigo corajoso diz ao outro:--- Viu só, por causa de um galo você já ia sair falando que viu uma assombração. O medroso concorda, ganhando um pouco de confiança. Nesse instante, o galo chega bem juntinho a eles e diz: --- Que chuva, hein... Cabelos arrepiados, pernas para que te quero? Saíram correndo numa carreira desembestada. Podia-se jogar truco nas camisas dos dois.
Hoje, depois de algum tempo, a casa ainda continua lá, abandonada. Os dois amigos continuam amigos. O medroso continua tendo medo de assombrações, já o outro, embora tenha mudado de opinião, sem dar o braço a torcer, insiste em dizer que não acredita em assombrações, mas que elas existem, existem!!!