Despertei sobressaltado naquela manhã em Ribadiso da Baixo . Era ainda cedo e o sol não havia nascido. Eu estava inquieto por dentro – minha aventura chegaria ao fim em pouco mais de um dia. A partir de onde estava, faltavam apenas 44 quilômetros para chegar a Santiago de Compostela. Meu destino e meta do dia era O Pedrouzo, 24 quilômetros à frente.
Vi o sol nascer em Arzúa enquanto tomava meu café. Retomei minha caminhada passando por Pregontuño. À medida que andava, o número de peregrinos aumentava exponencialmente. Aquela quase solidão que encontrei nos primeiros trechos do Caminho havia desaparecido e dado lugar a animados grupos de caminhantes.
O motivo desse aumento era simples de se compreender: todos estavam em busca da Compostela, ou Compostelana – uma espécie de diploma, na realidade um certificado concedido pelas autoridades eclesiásticas àqueles que caminhassem pelo menos cem quilômetros a pé ou a cavalo (200 se em bicicleta), até a Catedral de Santiago de Compostela na cidade homônima.
Ao longo do Caminho percebi que a maioria dos peregrinos tinha uma excessiva preocupação com esse documento.
Chegavam a esperar pela abertura de alguma igreja dizendo que não bastavam os carimbos dos albergues na Credencial do Peregrino para assegurar a sua obtenção.
Nunca me importei com isto. O Caminho deve ser algo interno – um encontro só teu com a própria consciência, com o teu íntimo. E para que ocorra, o documento ou atestado de conclusão da caminhada não é importante. Deve ser apenas um complemento - uma lembrança, nada mais. A magia não está em percorrer fisicamente todo o Caminho e sim em realizá-lo internamente. Você não foi ali para participar de uma maratona ou estar atento a não falhar um centímetro sequer em todo o percurso. Os caminhos internos, do espírito, da alma, da mente o do coração, são bem mais difíceis de concluir - e isto nem todos conseguem.
Assim pensando, passei por outras lindas pérolas do Caminho, como A Calzada, Calle, Boavista, Salceda, Santa Irene e A Rúa.
Mas onde estava O Pedrouzo? Eu havia caminhado quase 30 quilômetros e não tinha visto nada com esse nome. Algo devia estar errado. Resolvi perguntar a um casal de americanos em que localidade estávamos.
- Em Amenal - Você já passou por O Pedrouzo há algum tempo, disseram-me. Somente então percebi meu erro: por algum motivo eu havia me distraído na ânsia de chegar e perdi a seta indicativa do desvio. Eu estava a somente 17 quilômetros de Santiago de Compostela, mas numa localidade sem albergues e bastante cansado para continuar procurando por um.
Resolvi pedir uma carona na estrada e retroceder até ao albergue de O Pedrouzo, mas ninguém parava.
De repente, vi dois motociclistas. As motos eram grandes e com um grande assento para o carona. Não pensei duas vezes: fiz sinal e eles pararam. Eram dois portugueses que me explicaram que não poderiam me ajudar, pois eu não tinha um capacete e eles poderiam ser multados por levar alguém sem essa proteção.
Meio decepcionado agradeci e comecei a andar em direção ao albergue. Era uma bela subida, mas não havia jeito.
Já estava conformado com a situação, quando subitamente vi os mesmos motociclistas voltando em sentido oposto e me fazendo sinal para aguardar.
- Aqui está um capacete que conseguimos para ti, oh pá!!! Ponhas isto na cabeça e te deixamos lá no albergue.
Fiquei vivamente emocionado com a preocupação dos dois. Um deles ficou com a minha mochila e fui na garupa do outro.
- É aqui, oh pá – podes descer!!!
Eu estava bastante fragilizado com a longa caminhada, com o engano cometido e também pela proximidade da conclusão do Caminho. A gentileza desses rapazes acabou por fazer-me desabar: não resisti e abracei os dois chorando bastante – não propriamente pelo fato de terem me poupado um bocado de chão, mas pela atenção e pelo carinho que tiveram comigo. Alguns peregrinos na frente do Albergue me olhavam sem que entendessem praticamente nada. Eu realmente sou muito emotivo e costumo chorar com certa facilidade.
Tomei meu banho, fiz a barba e saí para jantar. Dei umas voltas pelo lugarejo e fui dormir cedo. No dia seguinte eu concluiria o Caminho de Santiago em exatos 37 dias.
Vi o sol nascer em Arzúa enquanto tomava meu café. Retomei minha caminhada passando por Pregontuño. À medida que andava, o número de peregrinos aumentava exponencialmente. Aquela quase solidão que encontrei nos primeiros trechos do Caminho havia desaparecido e dado lugar a animados grupos de caminhantes.
O motivo desse aumento era simples de se compreender: todos estavam em busca da Compostela, ou Compostelana – uma espécie de diploma, na realidade um certificado concedido pelas autoridades eclesiásticas àqueles que caminhassem pelo menos cem quilômetros a pé ou a cavalo (200 se em bicicleta), até a Catedral de Santiago de Compostela na cidade homônima.
Ao longo do Caminho percebi que a maioria dos peregrinos tinha uma excessiva preocupação com esse documento.
Chegavam a esperar pela abertura de alguma igreja dizendo que não bastavam os carimbos dos albergues na Credencial do Peregrino para assegurar a sua obtenção.
Nunca me importei com isto. O Caminho deve ser algo interno – um encontro só teu com a própria consciência, com o teu íntimo. E para que ocorra, o documento ou atestado de conclusão da caminhada não é importante. Deve ser apenas um complemento - uma lembrança, nada mais. A magia não está em percorrer fisicamente todo o Caminho e sim em realizá-lo internamente. Você não foi ali para participar de uma maratona ou estar atento a não falhar um centímetro sequer em todo o percurso. Os caminhos internos, do espírito, da alma, da mente o do coração, são bem mais difíceis de concluir - e isto nem todos conseguem.
Assim pensando, passei por outras lindas pérolas do Caminho, como A Calzada, Calle, Boavista, Salceda, Santa Irene e A Rúa.
Mas onde estava O Pedrouzo? Eu havia caminhado quase 30 quilômetros e não tinha visto nada com esse nome. Algo devia estar errado. Resolvi perguntar a um casal de americanos em que localidade estávamos.
- Em Amenal - Você já passou por O Pedrouzo há algum tempo, disseram-me. Somente então percebi meu erro: por algum motivo eu havia me distraído na ânsia de chegar e perdi a seta indicativa do desvio. Eu estava a somente 17 quilômetros de Santiago de Compostela, mas numa localidade sem albergues e bastante cansado para continuar procurando por um.
Resolvi pedir uma carona na estrada e retroceder até ao albergue de O Pedrouzo, mas ninguém parava.
De repente, vi dois motociclistas. As motos eram grandes e com um grande assento para o carona. Não pensei duas vezes: fiz sinal e eles pararam. Eram dois portugueses que me explicaram que não poderiam me ajudar, pois eu não tinha um capacete e eles poderiam ser multados por levar alguém sem essa proteção.
Meio decepcionado agradeci e comecei a andar em direção ao albergue. Era uma bela subida, mas não havia jeito.
Já estava conformado com a situação, quando subitamente vi os mesmos motociclistas voltando em sentido oposto e me fazendo sinal para aguardar.
- Aqui está um capacete que conseguimos para ti, oh pá!!! Ponhas isto na cabeça e te deixamos lá no albergue.
Fiquei vivamente emocionado com a preocupação dos dois. Um deles ficou com a minha mochila e fui na garupa do outro.
- É aqui, oh pá – podes descer!!!
Eu estava bastante fragilizado com a longa caminhada, com o engano cometido e também pela proximidade da conclusão do Caminho. A gentileza desses rapazes acabou por fazer-me desabar: não resisti e abracei os dois chorando bastante – não propriamente pelo fato de terem me poupado um bocado de chão, mas pela atenção e pelo carinho que tiveram comigo. Alguns peregrinos na frente do Albergue me olhavam sem que entendessem praticamente nada. Eu realmente sou muito emotivo e costumo chorar com certa facilidade.
Tomei meu banho, fiz a barba e saí para jantar. Dei umas voltas pelo lugarejo e fui dormir cedo. No dia seguinte eu concluiria o Caminho de Santiago em exatos 37 dias.