O SONHO DE UM CORONEL MACHISTA 16º EPISÓDIO


No dia seguinte Dentuço retornou ao seu novo esconderijo, a lapa de pedras. Chegando lá deparou com um bando de macacos, bem na porta de entrada da gruta bisbilhotando seu interior, com uma varinha na mão, um macaco velho barbado tentava puxar as bananas de um cacho colhido por Dentuço, num bananal nativo á beira do rio. Pendurado numa travessa afixada pelo pistoleiro ente as pedras, o ancião dos primatas tentava surrupiar as frutas já maduras. Os demais espiavam atenciosos com as caras enfiadas entre o gradeado de madeira da porta. Chegando pé antepé, com eles muito entretidos, nem perceberam sua aproximação. Ele entrou bem no meio deles silvou um assovio fino e dilacerante. A macacada esguichou tropeçando uns nos outros, mato afora, tem macaco correndo até hoje. No local da cabana um pouco acima, não sobrou nada além de borralho coberto pela cinza branca.
Enquanto aguardava a chegada do coronel Certorio, Dentuço preparou seu almoço e organizou seus materiais de pesca, para dar prosseguimento no seu intento de colocar peixe envenenado na mesa do coronel Tiburcio. Andou pelos arredores colhendo frutas silvestres e algumas raízes medicinais que havia prometido ao velho Miro.
Meio dia com o sol a pino, como estava previsto chegou o coronel Certorio. Apeou de sua montaria e o amarrou no tronco da copaíba em sua sombra colhedora. Espichou os braços espreguiçando. Bocejou meio sonolento e com certo otimismo cumprimentou o pistoleiro que viera ao seu encontro com algumas bananas nas mãos.
--Bão dia Dentuço qui diabo acunteceu home ta pareceno um porco sapecado andô infiano na fornaia do inferno?
- Cumo voismicê sempre diz, bão dia qui nada, isso aí foi rumação daqueze trêis mardito qui nois butemo pra quemá. Inté dispois de morto inda mim fizero trapaiada, os isprito deze sairo do meio do brasero in forma di bicho passaro iguar ua nuve de burraio quente inrriba deu, mim sapecaro tudo desse jeito!
--E pruquê voismicê mun fugiu seu bestaião?
Fugi cumo se fiquei garrado no chão iguá ua istátua de bronze fincada nua pedra, nem fechá os zóio num cunsigui fique de zóio regalado veno aquel tigre mais dois cachorrão preto inorme passano inrriba deu tostano tudo quera cabelo, sem ieu tê cumo buli um dedo, viero cumo ua sombra de vapor!
-intonse é isso! Ieu imaginano qui tava idoidano e era eze memo os treis mardito imprestáve!
--Eze quem coroné? Voismicê tumem viu os bicho?
-- Num só vi cumo atirei nos treis marditos, um macho de onça pintado mais dois cachorrão preto, assim qui intrei no currá sairo o treis dento do suáio de taba do istabo viero parriba deu atirei nos treis a quema ropa e eze sumiu na ora, quando fui carragá a pistola as bala tava do memo jiitinho. Ieu vi foi a sombração deze, tumara cus capetas prende eze lá inferno mode nun ficá vagano purai atazanano a gente!
Oia coroné ieu tô ficano meio de purga nazoreia, tô mei cismado de drumi aqui, onte as dispois do cunticido, ieu fui pra Bocaina drumi cum veio Miro, intonse fiquei sabeno qui lá tão persisano de taxero no ingenho,ieu pidi el mode vê se da preu pegá esse sirviço, dano certo ieu vô morá cum o veio qui tá percisano de cumpania.
--Eêêêêê isperaí tá mangano de mim, voismicê tá ô num tá pru conta dos meus sirviço? Qui prosa é essa agora matô os treis mió home qui ieu tinha agora ta quereno sai fora inda mode trabaiá prum disafeto meu.
--Óia coroné in primero lugá num matei ninguém num sei nem cumo foi acuntecê um disastre desse, qui inté atrapaiô ieu mode ixicutá meu prano, pois os pexe invenenado ia pra mesa do coroné Tiburcio tava tudo cumbinado cum veio Miro qui ia levá pra Inhá Chica cuzinhá pra Famia do coroné, má quando ieu cheguei na cabana tava lá voismicê cus home morto ieu num sabia de nada num tenho curpa deze cumê o qui num era pra eze não. Foi um disastre o acunticido, agora vamo tê carma e caçá o qui fô mió pru coroné. In sigundo ligá ieu ino presta sirviço na fazenda Bocaina fica facim de pô pexe invenenado na mesa do home. Num pensa o coroné qui ieu vô abri mão do nosso trato. E a berezerura neta da Inaça num isquicí dela não coroné, voismicê prometeu. Ieu vô cumpri cua minha parte, ispero cá sua seja cumprida.
- Iscuita bem Dentuço voismicê tem curpa sim, num tivesse invurvido lá pas banda da Bocaina tinha visto os home chegá aqui e ivitado queze cumece pexe invenenado. Outra coisa o veio lá da Bocaina qui ia levá os pexe prá cuzinha do mardito, tá sabeno desse seu prano?
--Num sinhô coroné ieu sô besta não, ieu sei cumo fazê as coisa certo!
-- Mim isprica ua coisa, as tropa amenhiceu lá no pasto cas cabeçada amarrada na sela, e difunto num amarra cabeçada in sela não, cumé qui voismicê isprica isso se tava suzinho aqui.
Oia coroné se voismicê ta curpano ieu do qui num fiz e tá duvidano dieu, é mió nois acertá agora memo ieu sigui o meu caminho, e voismicê contrata outro e segue o seu caminho tumém, de toda forma trabaiano pra voismicê ô não, i pra Bocaina ieu Vô, pode sê a seu sirviço ô não, a iscoia é vossa coroné. Quem mandava pra ieu já morreu é minha mainha qui Deus levô e mora cuele lá no céu.
- Voismicê é capais de jurá fidelidade in nome dela?
--Oia coroné palavra de pistolero é iguar rocha de pedra, num quebra a toa não, inquanto ta de sirviço pra um num tem traição não, má saiu tumem, acabô vai sê fié pra Oto onde tivé.
-- Pensano bem ieu vô aceitá sua proposta, má iscuita o qui vô dizê, se pisá fora do trio leva bala, tá uvino?
---Óia coroné fica sinhô sabeno qui pistolero jurado de morte pra hora da janta, é um pirigo inhantes de sê jantado el armoça quem o juro de morte, cuidado coroné!
---Óia fica sabeno tumém. Num tenho medo de amiaça, ieu tenho o corpo fechado e bala de gente viva num pega ieu não.
Má veja aí o seu prano cumo vai cê tarvez lá voismicê vai cê bastante útir,vijiano os passo daquela mardita fia do coroné, ieu até qui dele num tem tanta sede de vingança, má dela e daquele mardito boi, ah ieu quero os dois dibaxo da terra. inda inté hoje tô ingasgado cua humilação qui mim fizero.
-Óia coroné ieu chegano lá perciso de um tempo mode pô in prática o prano, má todo dumingo ieu vô subi o rio pescano e voismicê vem a cá mode nois prusiá ieu te passá informação. Ieu dexo minha tráia aqui, e as arma tumém, levo as ropa e os trem de pescá num pricisa de ninguém sabê desse iscunderijo.
-- Tá bão intão ta cumbinado, fica de ôio e num dexa passá nada sem voismicê trazê pra mim, i vê se anda ligero quessa pendenga do veneno, quero abarcá essas terra até o finar do ano, de quarqué manera custa cumo custá vô cê o dono de tudo nesse municipo do Bom Jardim.

 
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 25/09/2017
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