215 - O SORRISO DO MEU PAI...

Já no fim da vida o meu Pai tinha certas manias por mim julgadas estranhas, descabidas e ultrapassadas, dava excessivo valor a certas coisas que pra mim não tinham valor algum, outras vezes ignorava completamente o que eu julgava de suma importância, com a minha santa ignorância me julguei apto para corrigí-lo, com toda certeza ele já estava caducando, era isso o que eu imaginava.

Vendo meu Pai abraçando meus filhos, seu netos, não sei se era ciúmes, mas eu ia logo dizendo:

- Pai, o senhor vai acabar colocando os meus filhos perdidos, o senhor não chama atenção deles quando fazem algumas traquinagens, o senhor compra tudo que eles querem, o senhor vive fazendo todos os gostos deles, não é assim que educamos os filhos, temos que colocar limites nestes meninos!

Meu Pai olhava para mim ternamente, não dizia nada, talvez desejasse me dizer que um dia você me entenderá, das vezes o que eu dizia para ele entrava por um ouvido e saia pelo outro, era como que eu não tivesse falado, seu silêncio era marcante, seu olhar terno ficava vagando pela minha mente, e eu me indagava que mensagem ele queria transmitir com aquele sorriso!

Fui surpreendido pela visita da minha irmã que toda apressada foi logo dizendo:

- Essa noite passada eu sonhei com o nosso falecido Pai e ele pediu que eu lhe entregasse o chapéu que ele usava nas pescarias que fazia com você!

O que fazer com aquele chapéu? Eu o coloquei nos mais diversos lugares, sobre o aparador, sobre a cômoda do meu quarto, pendurei na parede da sala, mas em nenhum desses lugares eu sentia que estava agradando ao meu falecido Pai, não estava do seu gosto, foi quando passei em frente a uma antiga cristaleira onde guardamos objetos antigos, e sobre esta há um antigo gramofone, foi só colocar o chapéu do Pai sobre o gramofone que senti uma sutil vibração, era o sinal que meu pai tinha aprovado a escolha do local, era ali que ele se sentia bem, mas o que mais me intrigava era que ao ver o chapéu o seu sorriso terno se mostrava na minha mente com todo o esplendor, aquele olhar cansado, e a sua paciência quase infinita para suportar as maluquices dos meus filhos!

Hoje finalmente compreendi o sorriso do meu pai, ao brincar com os meus netos, a alegria e a felicidade que isto causa é a mesma que meu Pai sentia quando brincava com meus filhos, uma vontade danada de fazer todos os gostos dos meninos, de presenteá-los, de abraçá-los, brincando com os netos me sinto um menino outra vez...

Tão tardiamente compreendi o sorriso do meu Pai e a sua meninice quando brincava com os seus netos!

E o tempo esclarece tudo até a nossa arrogância!

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 12/09/2017
Reeditado em 16/09/2017
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