O Mijo do Gambá

As lembranças que ficam das caçadas nem sempre são as de tiros bonitos, de peças mortas, há também, infelizmente, a dos incidentes a acidentes. Foi durante um lusco-fusco de verão sertanejo, lá pelas bandas do alto sertão baiano, no sopé da serra da Santa Cruz que se encontraram José, Manoel e Coruja três astutos caçadores. José estava acompanhado de Foca Mansa, Coruja, com Calda de Onça e Focinho de Raposa era o cão de Messias. Cães extremamente meigos e afetuosos, dotados de grande capacidade de entrega e muito resistente, todos os cachorros da raça perdigueira.

Esses cães se movimentam com passada fácil e é garboso. São polivalentes nas suas funções e muito adaptável aos variados terrenos, climas e tipos de caça. Trabalham com vivacidade e persistência e é curioso por natureza. Mantém sempre o contacto com o seu caçador, e assim, todos juntos adentraram na mata em perseguição a um único gambá.

Os cães começaram a ladrar estrondosamente, percebendo a presença de um pequeno animal cujo corpo era parecido com um rato, a calda escamosa, as sua patas eram curtas, e seu tamanho estava entorno de quarenta a cinqüenta centímetros de comprimento, cabeça alongada, mas com uma dentição poliprotodonte, entretanto a sua calda era menor que o seu corpo, era um gambá que encurralado adentrara numa toca.

A perspicácia dos cães perdigueiros era indomável, e não largavam a caça, por serem extremamente ardilosos acuaram o sariguê. O pobre e indefeso animal havia adentrado num orifício no solo. Todos os caçadores queriam aquele troféu, só não sabiam como conseguiriam extraí-lo de dentro daquele buraco.

A paciência sempre fora o forte do caçador, no entanto ela faltou ao José. Não sei se pelo cansaço, ou se pelo desejo veemente de adquirir aquele peludo troféu e saborear de sua fedida, mas gostosa carne. Ele colocou fogo na loca da pedra, e quando o bicho estava saindo, o caçador bateu na cabeça dele com um facão. O saruê se fingiu de morto ficando de papo pra cima, então o cão Foca Mansa mordeu-lhe na barriga. Antes não o tivesse feito, o gambá soltou um jato vaporoso que atingiu José nos olhos.

O caçador pulou para trás urrando de dor – Estou cego, estou cego! Eita Vaninho o gambá me matou! – Gritava ele. No instante seguinte, os dois homens acudiram-no lavando o seu rosto com água, mas nada do caboclo conseguir enxergar. Os olhos dele ardiam tanto que ela não conseguia abri-los. Naquele instante, coruja reclamou com José – Você deveria saber que os gambás produzem um líquido fétido através das glândulas axilares. Esse líquido é utilizado pelo animal como defesa, e azar seu, seu tolo – Afirmou o caiçara.

Depois de passado o aperreio no qual se encontravam, Manoel e Coruja caíram na gaitada a mangar do ato ingênuo do experiente caçado. Ambos sabiam que na fase do cio, a fêmea costuma exalar este odor para atrair os machos. Outra estratégia para escapar dos perigos é o comportamento de fingir-se de morto até que o atacante desista, mas numa haviam tomado uma mijada na cara. Entretanto tiveram que descer a serra servindo de guia para o ingênuo caçador que a imprudência quase cegou.
Marcos Antônio Lima
Enviado por Marcos Antônio Lima em 09/09/2017
Reeditado em 10/09/2017
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