O NOVO VIGÁRIO - 1ª Parte
Numa pequena cidade do interior de economia basicamente rural, o velho padre, depois de mais de 20 anos na paróquia, não aguentando mais o peso da velhice, partiu para o paraíso, deixando os paroquianos desorientados. Depois de tantos anos acolhendo, aconselhando, puxando a orelha das suas ovelhas era considerado um pai para todos, e a sensação que ficou foi de orfandade da população.
Hoje, em algumas regiões, ainda há falta de padres para atender toda a população católica, mas, naquele tempo, década de 1960, era ainda pior; por isso, demorou alguns meses para que fosse anunciada a chegada do novo vigário, notícia que foi recebida com festa e manifestações de sincera alegria .
O padre chegaria no domingo pela manhã, de trem, e tomaria posse no mesmo dia com uma missa solene. Viria só, pois o bispo, devido a outros compromissos, não poderia participar da cerimônia de posse, prometendo uma visita em breve, assim que sua agenda permitisse.
A semana que antecedeu à chegada do padre foi de intenso trabalho para deixar tudo pronto para o domingo com faxina geral na casa paroquial feita por piedosas senhoras. A igreja toda enfeitada com flores do campo, um café da manhã foi preparado, pois o padre chegaria cedo, o trem passava às 7 horas. O almoço após a missa já estava acertado; seria na casa do senhor prefeito com muitos convidados das boas famílias da cidade.
Chegado o dia, bem antes de o trem chegar, a plataforma já estava cheia de gente esperando, homens, mulheres, crianças, o senhor prefeito com a banda musical municipal, todos ansiosos para conhecer o novo vigário.
Foi um choque para todos quando o trem parou na estação e desceu um jovem de aproximadamente 27 anos, estatura mediana, nem gordo nem magro, cabelos claros e cacheados, uma barba ruiva, aparada e muito bem tratada, de traços finos e modo elegante. Pousou na calçada com uma mala preta, e só se reconhecia como padre devido à batina preta novinha que estava usando dando-lhe um ar de santidade.
O maestro deu a ordem e a banda iniciou uma canção de boas vindas; o padre, surpreso, pois não esperava tal recepção, ficou paralisado entre tímido e emocionado; dos seus olhos verdes duas lágrimas brotaram e rolaram pela face. Enquanto tocava a música, o pessoal o olhava com carinho e admiração. Esse foi o tempo necessário para passar o espanto causado pela sua aparência, pois todos estavam acostumados com um padre que chegara à cidade já bem maduro e envelhecera junto a eles.
Terminada a música, todos foram chegando e um a um o abraçou e pediu sua bênção; em seguida, foram para a casa paroquial, que não era distante da estação; apenas uma subida de um quarteirão já chegava na praça da matriz. Ao lado da igreja ficava a residência do vigário.
A missa foi uma beleza com igreja lotada até os corredores; ficou gente do lado de fora em dois degraus que havia na porta. Por volta das 11 horas, foram todos para casa do prefeito onde seria o almoço festivo.
Na segunda feira, tudo voltou ao normal ; o padre começou a se inteirar dos assuntos da paróquia e aí se deu conta das dimensões da sua missão naquela cidade tão distante de sua terra.
Padre Victor, esse era o seu nome, de uma família de imigrantes italianos, estabelecida no sul do Brasil, ainda bem jovem foi para um seminário na cidade de São Paulo, onde se formou. Sua primeira paróquia era aquela, em uma pequena cidade com costumes bem diferentes dos seus, onde o pessoal todo se conhecia por nome, e tudo o que acontecia era sabido por todos pois a comunicação era rápida.
Aos poucos foi conhecendo as pessoas mais próximas a ele que o ajudavam na missa e na conservação da igreja; as piedosas senhoras, que faziam faxina, eram também responsáveis pela decoração da igreja de acordo com a cerimônia a ser realizada.
Ele, moço culto, educado, gentil e muito simpático, logo ganhou a confiança dos paroquianos, principalmente das senhoras mais idosas, que o tratavam como a um filho e diziam:
--- Que bonitinho, parece um santo.
--- Com aquele cabelinho cacheado parece São João Batista.
E longe dele, é claro, às vezes se referiam a ele como: “nosso santinho”.
As moças solteiras, às vezes sem querer, o contemplavam longamente com um profundo suspiro, pensando quiçá: “ai se não fosse padre”. Mas logo despertavam e pensavam rápido: “Deus me perdoe”. O padre, apesar da pouca idade, era firme na fé e consciente de sua vocação, era gentil sem deixar de ser enérgico quando necessário e, por sua postura coerente, conquistou o respeito de todos.
Durante os anos em que esteve na cidade, ficou muito conhecido na região, pela seriedade de seu trabalho frente à paróquia e por alguns episódios hilários que ocorreram; o primeiro foi durante a visita do bispo.
Na casa paroquial, trabalhava uma jovem senhora de aproximadamente 35 anos, casada, com três filhos pequenos. Muito esforçada, cuidava da casa, da roupa e a alimentação do padre com esmero; portanto, era como diziam: “um pé de boi para trabalhar”.
No entanto, era de uma simplicidade quase infantil; no intuito de agradar, dizia sempre ao padre: “a sua igreja, a sua casa, o seu quintal, a sua horta”. O padre a corrigia dizendo: “meu aqui é só a roupa e os objetos de uso pessoal, os demais são da paróquia, portanto nosso”. E frisava bem “nosso”.
Depois de um mês da posse do novo vigário, o bispo veio à cidade para uma visita. Foi um alvoroço para deixar tudo pronto, e algumas mulheres foram convidadas para ajudar na casa paroquial preparar um almoço especial, um verdadeiro banquete para o senhor bispo, com doações das famílias de posse da cidade.
Terminada a missa, foram para a casa do padre, o bispo e os convidados; estavam presentes as autoridades locais, o prefeito, o delegado de polícia, o médico e outros cidadãos ilustres.
Nesse dia, aconteceu um fato que deixou o jovem padre numa situação embaraçosa. Estavam todos na sala tomando um refresco e aguardando o almoço ser servido. A empregada passou pela sala, entrou no quarto e de repente, deu um grito e saiu correndo. O padre gritou:
---- O que aconteceu, mulher de Deus?!.
---- Padre, tem um rato no nosso quarto, embaixo da nossa cama. Disse isso e correu para a cozinha.
Houve um silêncio constrangedor todos os rostos viraram-se para ele, que, vermelho e gaguejando, explicou tudo desde o início, de como ensinara a ela que as coisas da paróquia eram de todos e não dele.
Tudo ficou esclarecido, pois as pessoas da cidade conheciam a mulher e sabiam que era honrada, mas de pouca cultura e, felizmente, o bispo também chegou a essa conclusão. Não ficou nenhuma dúvida, mas nem por isso, o ocorrido deixou de gerar algumas piadinhas, longe do padre evidentemente...
Continua....
Hoje, em algumas regiões, ainda há falta de padres para atender toda a população católica, mas, naquele tempo, década de 1960, era ainda pior; por isso, demorou alguns meses para que fosse anunciada a chegada do novo vigário, notícia que foi recebida com festa e manifestações de sincera alegria .
O padre chegaria no domingo pela manhã, de trem, e tomaria posse no mesmo dia com uma missa solene. Viria só, pois o bispo, devido a outros compromissos, não poderia participar da cerimônia de posse, prometendo uma visita em breve, assim que sua agenda permitisse.
A semana que antecedeu à chegada do padre foi de intenso trabalho para deixar tudo pronto para o domingo com faxina geral na casa paroquial feita por piedosas senhoras. A igreja toda enfeitada com flores do campo, um café da manhã foi preparado, pois o padre chegaria cedo, o trem passava às 7 horas. O almoço após a missa já estava acertado; seria na casa do senhor prefeito com muitos convidados das boas famílias da cidade.
Chegado o dia, bem antes de o trem chegar, a plataforma já estava cheia de gente esperando, homens, mulheres, crianças, o senhor prefeito com a banda musical municipal, todos ansiosos para conhecer o novo vigário.
Foi um choque para todos quando o trem parou na estação e desceu um jovem de aproximadamente 27 anos, estatura mediana, nem gordo nem magro, cabelos claros e cacheados, uma barba ruiva, aparada e muito bem tratada, de traços finos e modo elegante. Pousou na calçada com uma mala preta, e só se reconhecia como padre devido à batina preta novinha que estava usando dando-lhe um ar de santidade.
O maestro deu a ordem e a banda iniciou uma canção de boas vindas; o padre, surpreso, pois não esperava tal recepção, ficou paralisado entre tímido e emocionado; dos seus olhos verdes duas lágrimas brotaram e rolaram pela face. Enquanto tocava a música, o pessoal o olhava com carinho e admiração. Esse foi o tempo necessário para passar o espanto causado pela sua aparência, pois todos estavam acostumados com um padre que chegara à cidade já bem maduro e envelhecera junto a eles.
Terminada a música, todos foram chegando e um a um o abraçou e pediu sua bênção; em seguida, foram para a casa paroquial, que não era distante da estação; apenas uma subida de um quarteirão já chegava na praça da matriz. Ao lado da igreja ficava a residência do vigário.
A missa foi uma beleza com igreja lotada até os corredores; ficou gente do lado de fora em dois degraus que havia na porta. Por volta das 11 horas, foram todos para casa do prefeito onde seria o almoço festivo.
Na segunda feira, tudo voltou ao normal ; o padre começou a se inteirar dos assuntos da paróquia e aí se deu conta das dimensões da sua missão naquela cidade tão distante de sua terra.
Padre Victor, esse era o seu nome, de uma família de imigrantes italianos, estabelecida no sul do Brasil, ainda bem jovem foi para um seminário na cidade de São Paulo, onde se formou. Sua primeira paróquia era aquela, em uma pequena cidade com costumes bem diferentes dos seus, onde o pessoal todo se conhecia por nome, e tudo o que acontecia era sabido por todos pois a comunicação era rápida.
Aos poucos foi conhecendo as pessoas mais próximas a ele que o ajudavam na missa e na conservação da igreja; as piedosas senhoras, que faziam faxina, eram também responsáveis pela decoração da igreja de acordo com a cerimônia a ser realizada.
Ele, moço culto, educado, gentil e muito simpático, logo ganhou a confiança dos paroquianos, principalmente das senhoras mais idosas, que o tratavam como a um filho e diziam:
--- Que bonitinho, parece um santo.
--- Com aquele cabelinho cacheado parece São João Batista.
E longe dele, é claro, às vezes se referiam a ele como: “nosso santinho”.
As moças solteiras, às vezes sem querer, o contemplavam longamente com um profundo suspiro, pensando quiçá: “ai se não fosse padre”. Mas logo despertavam e pensavam rápido: “Deus me perdoe”. O padre, apesar da pouca idade, era firme na fé e consciente de sua vocação, era gentil sem deixar de ser enérgico quando necessário e, por sua postura coerente, conquistou o respeito de todos.
Durante os anos em que esteve na cidade, ficou muito conhecido na região, pela seriedade de seu trabalho frente à paróquia e por alguns episódios hilários que ocorreram; o primeiro foi durante a visita do bispo.
Na casa paroquial, trabalhava uma jovem senhora de aproximadamente 35 anos, casada, com três filhos pequenos. Muito esforçada, cuidava da casa, da roupa e a alimentação do padre com esmero; portanto, era como diziam: “um pé de boi para trabalhar”.
No entanto, era de uma simplicidade quase infantil; no intuito de agradar, dizia sempre ao padre: “a sua igreja, a sua casa, o seu quintal, a sua horta”. O padre a corrigia dizendo: “meu aqui é só a roupa e os objetos de uso pessoal, os demais são da paróquia, portanto nosso”. E frisava bem “nosso”.
Depois de um mês da posse do novo vigário, o bispo veio à cidade para uma visita. Foi um alvoroço para deixar tudo pronto, e algumas mulheres foram convidadas para ajudar na casa paroquial preparar um almoço especial, um verdadeiro banquete para o senhor bispo, com doações das famílias de posse da cidade.
Terminada a missa, foram para a casa do padre, o bispo e os convidados; estavam presentes as autoridades locais, o prefeito, o delegado de polícia, o médico e outros cidadãos ilustres.
Nesse dia, aconteceu um fato que deixou o jovem padre numa situação embaraçosa. Estavam todos na sala tomando um refresco e aguardando o almoço ser servido. A empregada passou pela sala, entrou no quarto e de repente, deu um grito e saiu correndo. O padre gritou:
---- O que aconteceu, mulher de Deus?!.
---- Padre, tem um rato no nosso quarto, embaixo da nossa cama. Disse isso e correu para a cozinha.
Houve um silêncio constrangedor todos os rostos viraram-se para ele, que, vermelho e gaguejando, explicou tudo desde o início, de como ensinara a ela que as coisas da paróquia eram de todos e não dele.
Tudo ficou esclarecido, pois as pessoas da cidade conheciam a mulher e sabiam que era honrada, mas de pouca cultura e, felizmente, o bispo também chegou a essa conclusão. Não ficou nenhuma dúvida, mas nem por isso, o ocorrido deixou de gerar algumas piadinhas, longe do padre evidentemente...
Continua....