Rita Barreto
Maria José Barreto dos Santos acariciava sua barriga... Sonhava com aquele filho...Filha! Sim, seria uma menina, com certeza. Já tinha até nome: Rita...Nome bonito, simples. É, o nome da menina ficava bem: Rita Barreto dos Santos.
Sonhava de olhos fechados e nem percebeu Francisco chegar de mansinho e vê-la acariciando a barriga. Poucos dias depois, Francisco Barreto dos Santos se fazia pai pela primeira vez. Era o dia 3 de agosto...Uma menina!
No cartório, no dia seguinte, Francisco, inexplicavelmente, registra a menina como Severina Lídia Barreto dos Santos e não Rita. Machismo? Não gostara do nome? Algum trauma do passado? Sabe-se lá qual a razão. O fato é que dona Maria Barreto ficou triste, amuada, mas não fez questão não. Aceitou. Caso encerrado.
Mas o desejo de ter uma filha não morreu. O segundo filho, foi um filho, mas o terceiro foi uma menina. Agora sim, viria a Rita esperada. E Maria Barreto foi incisiva: Francisco, registra o nome dela Rita! Rita, não esquece!
Francisco feliz, radiante, solene, orgulhoso, sendo parabenizado por todos pela linda menina chegou ao cartório. O escrivão, velho amigo, foi logo dizendo:
-Seu Barreto... Meus parabéns! Vamos então registrar logo a menina!
-Vamos, retrucou o velho tecelão.
-Diga o nome seu Barreto...diga.
-Maria José Barreto dos Santos Filha!
-Muito bem, seu Barreto. Que homenagem linda à Dona Maria. Isso é que é amor. A patroa, certamente, vai ficar muito feliz.
Em casa foi uma confusão danada. Choro. Discussão. Apesar da explicação do marido: foi para te homenagear, mulher!
Mas, a Rita ficou para outra vez! Dona Maria José ficou uma fera, mas não arredou pé da ideia de ter uma filha chamada Rita.
Rita um dia nasceria naquela casa. Nova gestação: um menino. Mas Rita viria... A barriga cresceu de novo. Agora dessa vez vai ser menina, era a torcida. Nasceu Terezinha... Que teve nome de santa nas promessas da parteira e no desespero do parto. Terezinha...que nem teve tempo de nascer direito. Terezinha de Jesus, foi mais que Barreto...Dos Santos...Um anjinho.
Desta vez o tempo deu um descanso para Dona Maria José. Passaram-se seis anos e renascia a esperança de mais uma menina na família.
-Francisco, pelo amor de Deus, não esquece! Bota o nome da menina de Rita. Rita. Ouviu. RITA!
Seu Francisco, em verdade, nunca quis o nome Rita. Mas agora não queria confusão com a sua mulher. Ficou pensativo, preocupado, perdido, confuso. E agora? O cartório não demorou a chegar... Passou na bodega, tomou umas canas...E foi recebido no cartório, como sempre, com festa.
-Então seu Barreto, mais uma menina, não é? Parabéns!
Seu Francisco agora ia ter que tomar uma decisão... E falou.
-Bote aí...Maria Jose Barreto dos Santos Filha. É uma homenagem à patroa!
-Mas seu Francisco, reagiu o escrivão, seu velho amigo Praxedes, o senhor já tem uma filha com esse nome.
-É! Então ...Bota ...Bota... Maria José Barreto dos Santos Irmã.
E Dona Maria José Barreto dos Santos, mãe, ganhou outra Maria José Barreto dos Santos, terceira na família. Eles quebraram o pau de novo.
As meninas cresceram com apelidos, naturalmente: Bilia, a filha e Mariinha , a irmã.
Dois outros filhos nasceram... Homens. Nasceu mais uma menina
que não foi mais pensada em ser Rita e virou Maria Severina Barreto dos Santos, Bibi. Depois, mais um menino, Toinho...
Haja amor... Criatividade...Fertilidade!
Rita...Rita ficou no desejo de Dona Maria Barreto, sendo todas as filhas...Seu Francisco deixou essa mágoa no coração de Dona Maria.