TOCO ACESO E A LEI DA GRAVIDADE

Toco Aceso é uma antiga vila interiorana, incrustada em um vale entre montanhas, que havia acabado de ser transformada em município.

Pois bem, essa cidadezinha fez sua primeira eleição, sendo eleito prefeito “Zé da Horta”, mercê dos 489 votos dos tocoacesences, a maioria, familiares, que também elegeram nove vereadores.

Seu primeiro ato foi decretar a construção de uma caixa d’água para abastecimento da cidade, convocando um engenheiro da capital para projetar a obra. Chegando o profissional no lugarejo, “Zé da Horta” honrou-se em hospedá-lo em casa.

Conversa vai, conversa vem, pergunta o engenheiro:

- Onde será construída a caixa d’água?

- Na praça, dotor, no suvaco do coreto...o povo todo vai ver minha placa: CONSTRUIDA NA ADMINISTRAÇÃO DO PREFEITO “ZÉ DA HORTA”, diz vaidoso.

- Impossível, retruca o engenheiro. A lei da gravidade não permite. Terá de ser em uma elevação, afastada do centro da cidade.

- Em riba, nem pensar, quero o povo vendo...em riba, acaçapada no mato, ninguém vê!..., lamenta contrafeito o surpreso e espantado prefeito, completando: Vou trocar dois dedos de prosa com os vereadores. Amanhã nóis continua.

À tardinha, “Zé da Horta” reuniu-se com os vereadores da situação. Foi logo dizendo: Companheiros, tamo num impasse. O pedido de autorização da Câmara para a construção da caixa d’água na praça tá aqui, mas o engenheiro tá lá em casa dizendo que uma tal de lei da gravidade não permite. nóis tem a maioria. Quero apeada essa lei na sessão de hoje. Estribou-se no cavalo e foi embora, recomendando a “Agripino do mamão”, líder do governo, que passasse na sua casa, após a reunião.

O engenheiro já tinha-se recolhido quando as palmas das mãos calejadas de “Agripino do Mamão” soaram vigorosas no portão de “Zé da Horta”, despertando-o.

- Como foi?

- dispôs dum debati acalorado, nóis tava quase conseguindo derrubar ela, mas o vereador “João tamanqueiro”, qui já fez inté ginásio, aparteou nóis dizendo que a lei da gravidade é federal e que lei municipal não pode revogar ela. Fiquei muito amuado, mas a matéria num passou não...”