A Bicicleta do Banco Bananão
Eu tinha 12 anos, uma bike nova e alguns trocados no bolso. Quer dizer, nova é só um jeito de falar, a magrela já era bem rodada quando veio parar na minha mão, depois de um rolo. Havia trocado uma bicicleta menor por aquela grande. Preta, aro 26, sem marca definida e equipada com um banco modelo bananão que lembrava aqueles assentos de moto estradeira. Tipo Harley Davidson, sabe? Pelo menos era assim que me sentia nela. Tudo bem que essa história de banco bananão parece piada pronta. E era mesmo. Sentar no bananão... he he he… Mas eu nem ligava. Como era um molecão espichado, sentia certo desconforto na bicicleta anterior, a amarelinha ou bananinha (por favor sem malícia amigo leitor). Daí quando aquele menino mirradinho da outra rua apareceu com aquela bicicleta enorme e sugeriu a troca. Não pensei duas vezes. Eu era grande com uma bike pequena e ele pequeno com uma bicicleta grande. Parecia providência divina.
Difícil foi convencer meu pai de que o negócio era vantajoso. Pense numa pessoa cabrera nas negociações. Conversa vai, conversa vem. Conseguimos fazer com que nossos velhos aceitassem o escambo.
Os dois primeiros dias com ela foram incríveis. Não tinha pra ninguém nas disputas de velocidade. Baita desempenho. Uma alegria só. Mas alegria de criança pobre também dura pouco. No terceiro dia, decidi usar aqueles trocados que estavam no bolso e fui me divertir de outra forma. Quem foi criança e adolescente no início dos anos 90 certamente passou algumas horas de sua vida no fliperama, jogando clássicos como Street Fighter II e Mortal Kombat. Outro jogo que fez a cabeça de muita gente foi o Super Sidekicks, um game de futebol da Neo Geo/SNK. Comprei umas três fichas e entrei na disputa da Copa do Mundo eletrônica. A empolgação aumentava a cada vitória. Porém, atento a movimentação na porta do pequeno estabelecimento onde a bicicleta ficou estacionada. A cada lateral, escanteio ou bola parada dava aquela olhadinha básica em direção a porta, meio que dizendo em pensamento; fique tranquila menina, daqui a pouco a gente dá umas voltas. Foi quando a emoção dominou a razão, isso aconteceu quando cheguei a final do campeonato. Finalmente iria zerar o jogo e ser campeão. Partida tensa que exigiu todos os meus sentidos e por alguns minutos deixei ela de lado, amigo, nunca deixe sua companheira sozinha ela pode ser levado por outro. No finalzinho da partida o gol saiu. Venci! Fogos de artifício na telinha, jogadores se abraçando e, por fim, subiu os créditos dos criadores do game. Assistia a tudo emocionado e orgulhoso. Outros garotos curiosos também assistiam. É o gordinho é o cara, mano!
Enfim era hora de voltar para casa. Mas antes é claro, dar umas voltas com ela e contar o feito para os colegas. Foi quando levei o choque. CADÊ A MINHA BICICLETA. Não estava mais lá, ninguém viu nada. Nenhum garoto ou mesmo o dono do fliperama soube quem a levou. Restaram apenas o choro e o medo de contar aos meus pais como aquela tragédia havia acontecido.