SILENCIOSO CASARÃO
Casa fria, sala silenciosa, cortinas estáticas, sofá vazio...
Dois quadros enormes pendurados na parede...
Lustres envelhecidos pelo tempo e pela luminosidade.
As janelas enormes, com suas vidraças quase sem vida.
O corredor em penumbra, frio e aterrorizador.
Os carpetes calados e gelados, estendidos pelo chão da sala.
A mesa trazendo apenas um caminho de crochê e um vaso de flores.
Naquela sala, numa manhã de inverno de mil novecentos e vinte e dois, estava dona Palmira.
Uma senhora de aproximadamente setenta e cinco anos de idade.
Viúva, mãe de cinco filhos, agora todos casados e morando longe.
Ela olhava através da vidraça, a neblina fria e a chuva fina que cobria todo o vale.
Um vento leve ia tocando as folhas das árvores no terreiro molhado e frio.
Com as mãos nos bolsos do ropão, ela ficava observando aquele cenário.
Seus pés envolvidos nas pantufas iam passeando silenciosamente por aquele salão da casa grande.
Na vidraça, os pingos da chuva iam rolando lentamente e molhavam vagarosamente a vida lá fora.
Os animais de dona Palmira estavam todos recolhidos debaixo das árvores do bosque.
No cantinho do sofá, uma gatinha rajada dormia bem enrolada, não interessando ver o tempo passar.
No quarto, uma cama de casal sem arrumar, chinelos sobre um tapete de barbante.
O que rompia o silêncio dentro daquele quarto era o tique-taque do relógio de pendão.
Marcador de horas que há muitos anos morava naquela parede, ao lado do guarda roupa da família.
Na divisória, acima da cabeceira da cama, um quadro de tela,
Com a paisagem panorâmica da fazenda trabalhada em tinta óleo.
Em cima da televisão, uma estátua de um cavalo branco de louça.
Às vezes, o vento frio e rasteiro cantava no canto do estuque da casa grande.
Apenas um casal de patos passeava em meio à garoa fina que caia no terreirão.
De vez em quando, um trovão choco roncava no interior das densas nuvens.
Silenciosamente dona Palmira caminhava por entre os cômodos daquela casa.
De repente ela leva um susto: era o sino da Matriz de Riacho das Pedras,
Uma cidadezinha que ficava há uns dois quilômetros da fazenda.
Pelo repique do sino, dona Palmira preocupou-se,
Pois ele avisava que alguém, naquela manhã fria de maio, tinha morrido.
Sozinha naquele silencioso casarão, ela pôs-se a pensar!
- Quem será?
- A vida é assim!
Era uma manhã chuvosa de maio!
É isso aí!
Acácio Nunes