Um Sujeito
Houve certa vez um sujeito abordou-me na rua e disse:
- Você, meu jovem, tem o olhar.
- Mas, meu senhor, que olhar? – eu lhe respondi
- O de quem vive a vida da forma que tem de viver. – ele riu um riso cansado e arrependido. – É esplêndido, não? Vi poucos por aí.
Eu logo soube do que estava falando. Sorri, tinha mesmo o tal do olhar. O homem me olhou outra vez e continuou:
- Não sabe quantas pessoas dariam a vida por um desses. Claro, sem ele não valem muito mesmo...
- E quem trocaria? – eu perguntei.
- Um olhar numa vida vazia?
- Evidente.
- Os covardes e sem coragem para lutar.
- Ou talvez os que já não tenham mais tempo. – olhei-o com aspereza.
- Esses não merecem... Tiveram da vida seu todo e transformaram em nada. Quer crime maior?
- Digo que tens razão? – tive medo de ofendê-lo.
- Diga o que quiser, meu jovem, você é quem tem o olhar.
O homem saiu mancando.