Aquela Senhora!
Aquela Senhora!
No fim da tarde como de costume a ida ao Supermercado Bretas se torna necessária para adquirir os pães franceses quentinhos e deliciosos para o café da tarde.
Logo ao entrar deparo com a figura de uma senhora, cabelos curtos e sem espaço para ficarem mais brancos seus óculos,pareciam fundo de garrafa.
Com sua dama de companhia e uma bengala inseparável o seu caminhar e de lento dificultoso, nota-se pela aparência e sua desenvoltura.
Com os costumeiros óculos de aro e sua branca blusa de um pano que parece mais um agasalho, diria de flanela.
Seu casaco de uma cor amarela pálido serve de abrigo para aquele corpo tão machucado pelo tempo.
Fiquei de longe observando aquela linda senhora, embora consumida pelo tempo suas feições ainda de uma mulher que nunca sofreu na vida grandes amarguras. Poucas rugas e cabelos meio desalinhados.
Minha memória fez um breve passeio e lembrando-se de poucos anos ela era uma imponente Professora de um conglomerado de ensino e o ensinar Literatura da Língua Portuguesa fazia dela uma querida Mestra.
Naquele tempo se empunha pela presença, altiva no seu andar e penetrante no seu olhar, sempre por cima dos óculos de miopia grave.
Suas aulas eram disputadas com o silêncio e atenção redobrada, não existe nada mais difícil para os adolescentes do que entender a nossa língua.
Assim fiquei admirando com muito respeito, não quis chegar perto talvez pudesse ser bom para ela, mas por outro lado poderia trazer constrangimento.
Ontem uma altiva Professora, hoje carregada pelo tempo e com a sua inseparável bengala e mesmo com todos os anos ainda é uma bela senhora.
Assim nesse pequeno causo do meu cotidiano compartilho com vocês e sei que muitos ainda mantêm na memória algum educador que lhes foram tão úteis e que o tempo não perdoa.
Dormirei com o pensamento e uma oração fará para aquela Senhora de tão doce recordação.
Erik Saramago