ACREDITE SE QUISER - 10
Meados de 1968, morávamos eu e mais quatro colegas no alojamento da Usiminas, no bairro Horto.
Fizemos amizade com um morador do outro quarto através de jogos de futebol de salão.
Com o tempo descobrimos que o novo colega era “burro igual porteira”, como dizem na gíria, e se pedisse a ele para falar qual o número PAR entre 1 e 3, ainda pedia um tempo para pensar.
Depois de receber o pagamento, era de praxe pegarmos o buzão e ir para Fabriciano visitar as quengas – lembrando que todos éramos solteiros, na época –
Gostávamos de um boteco que tinha uma “vitrola” que rodava discos de 78rpm. A gente escolhia a música, pagava uma mixaria e o dono atendia.
Depois de termos tomado “umas e outras”, o tal colega pediu para colocar um disco com a música, se não me falha a memória: “ABRA A PORTA E A JANELA VENHA VER QUEM É QUE SÔ”. Terminou e o bendito pagou e pediu para repetir. E apesar de nossa reclamação, o cara ainda insistiu e pagou mais seis fichas para repetir.
Na terceira vez “jogamos a toalha” e já íamos sair do boteco mas ele insistiu que tivéssemos um pouquinho de paciência com ele, pois era apaixonado por aquela música e queria aprender a letra.
Para que ele não ficasse desapontado, ainda ficamos aguardando, mesmo de saco cheio.
Vinte minutos depois, de ter tocado umas 8 vezes a mesma música, ele levantou os braços, todo alegre e esbravejou: obrigado amigos, pela paciência. Demorou mais valeu a pena, pois consegui aprender.
E saiu cantarolando: EU TENHO UMA MULA PRETA COM SETE PALMOS DE ALTURA”...