O velho Nicolau no dia que comeu a onça.
O velho Nicolau no dia que comeu a onça.
Já era fim da tarde e o anoitecer estava próximo. O velho Nicolau que morava depois da curva saiu do Bar do Sossego. No alto do morro era onde ficava seu bangalô.
Caminhava lento e alguns passos meio desajeitados demonstrava o que havia excedido naquela tarde.
Não se conteve e parou para conversar com Adalberto Portela, chefe dos Correios e Telégrafos da cidade de Miracema.
Conversa vai e vice versa um assunto puxava outro e os amigos iam colocando o papo em dia.
Uma despedida inesperada encerrou aquele gostoso papo de velhos conhecidos. Assunto principal: pressão arterial.
Seguiu Nicolau por ruas estreitas e lugares agora muito escuros. Não conseguia avistar mais que dez metros na frente se queixavam na sua rabugice que havia de carregar a lanterna. Falava baixas palavras de baixo calão.
Quase chegando na sua choupana que ficava no alto do Morro dos Ventos avistou alguma coisa no mato, pensou com seus botões, deve ser o Neco da Pretinha querendo brincar e me assustar. Seguiu.
Para sua surpresa pulara do mato um bichano com a sua fome demostrada com total desenvoltura.
Não se percebeu que era uma onça pintada, num salto desequilibrado saiu da frente e ela perdeu o bote. Maldita, gritou Nicolau.
Não se intimidou puxando do saco que carregava nas costas uma grande colher de pau, pensou o que vou fazer com isso?
Uma solução que apareceu foi pegar um pedregulho e atirar em direção ao bichano.
Pontaria certeira caiu o bichano ainda com vida, Nicolau não titubeou pegou um pedaço de pau bem grosso e deu diversas porradas na cabeça e o que aconteceu foi o bichano morrer em pouco tempo.
Refeito do susto e colocando-a nas costas levou para casa e lá chegando limpou tirando a carcaça injetando uma bomba de encher pneu de bicicleta nos anus do felino.
Dito e feito a pele se soltou do corpo e ele com o punhal retirou aquela pele que seria um tapete em breve depois que lavar e secar ao sol.
Com o efeito da pinga já havia passado um pouco cortou alguns pedaços e cozinhou e sozinho degustou aquela carne inesperada e junto foi a garrada da branquinha que mantinha no armário da cozinha.
Logo veio o sono e o velho Nicolau dormiu e sonhou com belas paisagens e viveu uma noite de alegria.
“Erik Saramago”