João Pelado
Admirador das coisas da terra, sempre busquei na experiência dos mais velhos o conhecimento das origens, da história de cada um. Cada lugar apresenta tipos diferentes que, com um ou dois dedos de prosa, nos relatam coisas interessantes e, muitas vezes, inusitadas. Assim foi quando conheci o senhor "João Pelado".
Por volta dos anos 70, morador da cidade de Nerópolis, seu João Pelado (assim conhecido por não ter no corpo um pelo sequer), era um exímio contador de causos, muito conhecido pelos exageros de suas histórias e pela simplicidade da vida que levava. Moço matuto, pés descalços, inteligência criativa, gostava do campo e ficava mais na roça que na cidade. Certa vez, dizia ele, tocava uma lavoura de arroz e uns pezinhos de mandioca. Vinha na cidade só nos finais de semana. Um dia de sábado, muito cansado, decidiu ficar no rancho. Mais tarde, resolveu fazer uma caçada de tatu, pois já tinha bem uns quinze dias que estava com vontade de apreciar a carne saborosa do bicho. Tinha uma cachorra de nome Laica que era ótima caçadora, nunca tinha perdido uma viagem. Pegou os apetrechos (um saco, um enxadão e uma lamparina), chamou o animal e saiu. Já estava escurecendo quando a cadela acuou um tatu. Na fuga, o bicho entrou num buraco e ela entrou atrás. Lamparina acesa, sem perder tempo, começou a cavar rapidamente. Depois de mais de uma hora e de ter cavado bem uns três metros, nada de encontrar nem o tatu e nem a cachorra. Cansado, desistiu e voltou para o rancho. Laica sabia se cuidar!
Já no rancho, pôs uma lata d'água para esquentar, pois ia lavar os pés para dormir(era costume lavar os pés antes de dormir). Colocou uma bacia no chão e ficou esperando a água ficar no ponto, bem aquecida. De repente, a bacia virou e rolou para o canto. Era o tatu que vinha desesperado, perseguido pela cachorra! Como a água já estava quente, não pensou duas vezes: matou o danado, preparou a carne e ainda jantou, satisfeito. Parece mentira, mas seu João jurava que isso aconteceu com ele.